quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sob os Olhos de Selene


Triste e sozinha no frio planetário
Acostumada com as histórias tristes da Noite
Selene abraça o silêncio.
Cantando para si mesma os crimes dos seus filhos.

Seus raios azuis me encantam,
Refletem em minhas costas os caminhos que percorri,
De túmulos esquecidos, fogueiras e rostos distorcidos.
Seus pesadelos não me deixam dormir.
Todos os amores profanados parecem lembrar
Que eu não posso trazer Leonora de volta pra mim.

Minha paixão por ela avança pela noite
De bebedeiras e tragos que arruínam meu corpo,
E faço meu caminho de volta pra casa
Por entre corpos que a irmã psicose descartou
E cacos de vidro daquilo que sou,
Ampulhetas quebradas que tornam a funcionar
Marcando cada suspiro meu por onde vou.

Selene canta,
E sua voz é como essa chuva fina que cai.
Eu a escuto fiel, mas meu coração se distrai.
O covil que não posso chamar de lar
Parece assombrado quando iluminado por Ela.
Meus passos soam abafados,
O frio me segue pelo corredor,
Deito-me certo de que não é esse o meu fim.
Mesmo quando estou repousando
Sinto Selene repousar seus olhos sobre mim.

                                

                                           Janeiro , 2006.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Hiatos

Quem quer sempre preencher os espaços vazios, procura deus. Quem quer sempre preencher os espaçoes vazios, incomoda o silêncio. Quem quer sempre preencher os espaços vazios, não admira a quietude. Está sempre no ponto ascendente ou descendente da curva, não gosta da constância, está viciado no movimento e despreza a calma. E não sabe que no espaço entre um acorde e outro, também há música. Sabemos que a madrugada não é um espaço entre o dia e a noite, mas uma soberana em seu pleno direito, e nela coisas deliciosas e terríveis acontecem. Assim também é com o silêncio, a escuridão e todas as ausências, guardando belezas que jamais alcançarão quem teme espaços vazios porque não sabe que eles não estão nem um pouco vazios.

sábado, 26 de junho de 2010

Solitude

A Solidão é uma dama que cortejo mas que sempre escapa de mim em algum momento. Nunca sei ao certo o que fazer para que ela se entregue, que fique comigo e para que aproveitemos juntos momentos de rara satisfação. Se lhe faço convites, recusa. Se lhe proponho fugas, se esconde. Mas ainda consigo tê-la em meus braços. Nesses instantes, todo o resto vale a pena, toda essa triste vida. Solitário no sofá de minha casa, termino com uma garrafa de vinho desfrutando a liberdade que só encontro na companhia da solidão. Há quanto tempo não fazia isso! No entanto, essa Lady também tem seus caprichos. O que são essas noites frias de lua cheia? O que elas são capazes de fazer comigo? Chego a pensar que a Solidão, por si só, não é suficiente para aproveitá-la. É preciso algo mais. talvez alguém mais. É um convite. Venha e façamos uma menage, eu você e a Solidão.

sábado, 19 de junho de 2010

"Eu, o filho arredio. Não era com estradas que eu sonhava. Jamais me passava pela cabeça abandonar a casa. Jamais tinha pensado correr longas distâncias, em busca de festas para meus sentidos. Já sabia, meu irmão, desde a minha mais tenra idade, quanta decepção me esperava fora dos limites da nossa casa".

- "Lavoura Arcaica", Raduan Nassar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pela janela do meu peito
Algumas pessoas e paisagens têm livre acesso
Vez ou outra passa algum delírio que não foi autorizado;
Nem seria algo tão ruim, desde que
Já houvesse inventado um remédio
Que possa curar desejos que foram parar no lugar errado;

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Vinho do Solitário

O olhar sofisticado de uma mulher sensual
Que deliza para nós como um raio franco
Que a lua ondulosa envia ao lago branco
Quando nele ela banha sua beleza sem igual;

A ultima ficha entre os dedos de um jogador;
Um beijo libertino da magra Adelina;
Os sons de uma musica doce e felina,
Parecidos com o humano grito distante da dor;

Tudo isso não vale, ó garrafa profunda,
Os bálsamos penetrantes que tua pança fecunda
Guarda no coração alterado dos poetas feridos;

Tu lhes dá esperança, vida e infância,
E o orgulho, esse tesouro d mendicância,
Que nos torna vitoriosos e com deuses parecidos!

- Charles Baudelaire.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Escola do Silêncio


Trocando palavras por gestos, homem e mulher adentram aquilo que eles acreditam ser o vasto coração da noite. Ali, crêem eles, encontrarão um segredo que seja definitivo, uma certeza que seja inquebrantável. Eles se consideram sortudos, talvez privilegiados, por terem um ao outro, mas estão temerosos porque pode ser que isso não dure. Na verdade, é provável que não dure. Ele conhece as histórias das palavras que foram usadas até perderem seu sentido em confusões semânticas que na verdade não passaram de tentativas de fixar certezas; Ela já precisou enfrentar sozinha a escuridão fria quando haviam lhe dito que estariam do lado dela a qualquer custo, e ela não havia cobrado nada. E assim ambos tentam enfrentar a incomunicabilidade com silêncio respeitoso e ousado, suas vidas-colcha-de-retalhos construída no limiar da aurora e desfeita sob os raios lunares, e no coração da noite eles esperam apenas ver algo para além da lua cheia. São fiéis à noite. Mas as estrelas lhes traem: Sua luz enfeita mas também lhes rouba algo, em seus disfarces luminosos não contam se estão vivas ou mortas, traiçoeiras estrelas que derramam seu brilho mórbido sobre a alegria silenciosa destes amantes. Garoto e garota adentram a noite com passos cuidadosos, pisando sobre os restos de amores passados e até de alguns amores que nunca se concretizaram, emudeceram antes mesmo das primeiras palavras e se cristalizaram em pesados blocos de dor que sustentam o edifício sobre o qual se erigem outros romances que deram certo; Felinos, ambos espreitam a escuridão em torno deles com a curiosidade e o medo de duas crianças, cuidam da dor um do outro como só fazem sobreviventes de guerras ou fugitivos de manicômios, livram-se do que não é importante para que o peso morto das palavras não os faça naufragar cruzando mares infinitos de absoluta solidão. Com alguma coragem e muita sorte, eles chegarão a algum lugar que pode não ser o paraíso que eles idealizaram (pois como todos os amantes, eles não apenas são capazes de sonhar, mas de por um instante que seja, acreditar que tolos delírios podem vir a se realizar), mas atingirão algum ponto de rara tranquilidade em que possam descansar seus corpos exaustos de noites sem dormir. Algum lugar que faça ter sentido todos os contraditórios do amor, um lugar em que todo o contexto de miséria que criamos ao redor de tão bela palavra possa ser enfim descartado. Neste lugar, garota e garoto deitam-se de frente um para o outro, fecham seus olhos enquanto seus corpos se aquecem mutuamente contra o ar gelado, boca a boca, seus lábios quase se tocam, um deles se vê livre para enfim dizer: - „Silêncio, enquanto há tempo“...

domingo, 6 de junho de 2010

Domingo

Hoje não resisti e fui à feira comprar cebola. Na real, fui porque não consigo passar um domingo de manhã sem ir à feira e ver gente, me misturar um pouco, tomar uma cerveja, olhar nos olhos dos passantes, observar belas mulheres descontraídas que na noite anterior devem ter estado fatais. E já que estive lá, aproveitei para comprar cebolas e pimentas, porque sou daqueles que acha que temperos são dessas coisas da vida que nunca são demais - e existem muitas delas, ao contrário do que dizem alguns puritanos, pastores, psicanalistas e outros negociadores da fé alheia. Ontem li o texto de um cara que devora todos os dias seu horizonte, com muita cebola, alho e salsa e depois sai pra encarar a vida. Eu sou mais ou menos assim. Meu horizonte andou um tempo bem intragável, com gosto de cerveja quente e gordura, cozinhei-o demais e passou do ponto. Arrumei outro para mim. Falta temperá-lo, mas isso eu busco na feira, no bar, nas ruas, em camas, em livros, filmes, nos ontens e amanhãs sempre bem-vindas, na estrada e sua calma perigosa, até na falta do que fazer. Fiz uma aposta muito alta pra perder assim tão fácil. Não tem a ver com estar pronto pra fazer o que quer que seja, mas de fazer de qualquer jeito.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Velhas novidades nos jornais

Se houver alguma justiça no universo, venha de onde vier, no fim só restaremos nós mesmos, vivos, trocando confidências em torno de uma mesa ou caminhando por ruas quietas. Não eles, que bloqueiam portos e atacam embarcações humanitárias; não eles, os procuradores que espancam crianças; não eles, os policiais que humilham adolescentes. Mas, ao que tudo indica, não haverá justiça. Então vivamos assim mesmo. Mas que seja vida de verdade,  só para sabotar o plano deles de nos transformar em seres mais brutos que eles mesmos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Here we go again

"A atriz chorando nos bastidores em meio aos outros atores ela solitária queria mesmo era ser secretária meu Senhor fui parar nessa não sei como as coisas na vida acontecem sem explicação as coisas na vida acontecem longe do chão as coisas na vida às vezes vão pelos caminhos do não. E ela ainda tinha que aguentar os canhões de luz".  - Greta Benitez

Só pra dizer que estou de volta ao jogo, ao que parece. O jogo é sórdido, triste às vezes, e as coisas sempre tendem a caminhar sem precisar de explicação, dependendo tanto da sorte quanto de competência e ousadia. Perdi um pouco disso tudo recentemente, mas não vou terminar feito Elvis, gordo e entupido de remédios, antes disso jogarei com as cartas que me restam, contando sempre com a cumplicidade de todos que encontrei pelo caminho, e que nem sempre deixei devidamente claro o quanto são importantes. Então, vamos lá, On The Road, again. E isso signfica três coisas: 1) Que tudo volta a estaca zero, como se eu tivesse chegado aqui ontem, e esse lugar, a bebida e o piano sou eu quem vou inventar; 2) Que o trabalho volta a ser só um detalhe, e por isso mesmo agora trabalho sem peso e bem-feito, sem a enrolação característica; 3) E essa história de planejar o futuro, ser uma pessoa séria e cuidar da minha saúde vai ter que esperar mais um pouco.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ergam suas taças

Porque alguém que escreve poesias tão lindas que definitivamente merecem serem lidas repetidas vezes, terá um livro publicado. Espero que seja o primeiro, não o único, que o impulso criativo não cesse nunca, pois, como disse Gullar, a arte existe porque, a vida por si só, não basta.

www.baoba-blog.blogspot.com

Parabéns Fernanda.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...