terça-feira, 31 de agosto de 2010

Dias Chuvosos



Deixe-os todos lá fora hoje
Deixe-os rir, tudo bem.
Eles pensarão que você se esconde
Agora não é hora de brincar
Você perdeu algo
Comece apenas olhando.

É outro dia chuvoso... pra você.
Outro dia chuvoso ao sol.

Por favor não evite a gravidade
Deixa-a puxá-la pra baixo
Não desperdice seu tempo rindo à toa
Nem tente desfazer essa expressão



Eles dizem que são jovens,
Loucos e livres
Enquanto seus castelos desabam no mar
Não é o que parece
Deixe-os todos.
Você irá em breve se achar em amarelo e branco
Quando você estiver em paz com dias tristes
Sair dessa leva só um tempinho
Você saberá quando.

Eu preciso de dias chuvosos
Eu preciso de dias chuvosos
Eu preciso de dias chuvosos
Mesmo ao sol.

"Rainny Days in the Sun"- Room Eleven

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Precaução

Sabiamente,
Ele foi ao encontro marcado de óculos escuros,
Vestiu o peito e a alma de negro.
Só para o caso de ninguém aparecer até às dez;
Se algum observador, num puro descuido calculado,
Reparasse na lágrima solitária que surge em puro terror escapista
Ele diria com todo cuidado
Que acabara de sair de um funeral no São João Batista.

The Beatles



Eddie Vedder interpretando uma das minhas musicas favoritas dos Beatles, "You've got to hide your love away", em São Paulo, 2006.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Duas mulheres, um homem





Pensando bem, a poeta é quem está certa. “Ninguém é mesmo uma ilha/Se até Billie Holiday/Vem me visitar pelo radinho de pilha”.É um sombrio e evoluído emulador do rádio de pilha que tem me salvado de uma escuridão total que me ameaça freqüentemente. Escrevo agora mesmo sob a influência extasiante da voz de Betty Davis, mas ela é uma ameaça à minha tranqüilidade. Minha mente influenciável se deixa tocar pela levada insinuante, pelos cenários excitantes aos quais Betty é capaz de me levar, e no momento meu coração não pode ir vagar tão longe assim e deixar meu corpo para trás, carente de toques. Muito perigoso. Troco a música e deixo soar a voz cativante de Chan Marshall, Cat Power



melancólica, linda e misteriosa, como outras mulheres que admiro. Escutá-la cantando “The Dark End of the Street” pode salvar meu dia ou fazer de mim a pessoa mais miserável sobre a terra, tanto faz, fico em paz, deixo que desatinem meu coração e façam dele o que quiserem, já é normal e quase uma obsessão pra mim. Que eu me veja e encante com o que Chan cante, é normal – histórias de amores proibidos ou frustrados, desilusões e enganos, isso haverá sempre, é tão triste quanto universal , mas me perturba que as palavras, acordes e melodias de um homem que canta seu próprio pathos, sua realidade particular, atinjam tão diretamente meu coração e minha mente. Esse homem que tem sido um grande parceiro, bebendo comigo e soprando inspiração enquanto escrevo algumas linhas que não-serão publicadas e talvez nem mesmo lidas por mais ninguém, é o mais americano dos canadenses. 

Neil Young se parece mais com um caipira irado, triste e sozinho que, ouvindo rock’n’roll e lendo Kerouac, resolveu cair na estrada. Sei lá. Mas como esse cara parece estar falando de algo que me parece tão íntimo a mim? Brindemos, amigo. Sei que já passei da idade de me identificar com cantores ou coisas do tipo, mas não nego que são essas companhias que tem evitado a crise, que tê me preparado para o verão da histeria.



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Paraísos Artificiais

Minha querida amiga,

Diz-nos o bom senso que a coisas da terra pouca existência têm, e que a verdadeira realidade está apenas nos sonhos. Para digerir a felicidade natural, assim como a artificial, é preciso primeiro ter a coragem de a engolir, e os que talvez merecessem a felicidade são justamente aqueles a quem a ventura, tal como a concebem os mortais, sempre fez um efeito de um vomitório.

A espíritos néscios parecerá singular, e mesmo impertinente, que um quadro das volúpias artificiais seja dedicado a uma mulher, a mais comum fonte das mais naturais volúpias. Todavia, é evidente que tal como o mundo natural penetra no espiritual, lhe serve de alimento, e concorre assim para operar esse amálgama indefínível a que chamamos a nossa individualidade, a mulher é o ser que projeta a maior sombra e a maior luz nos nossos sonhos. A mulher é fatalmente sugestiva; vive de uma outra vida além da sua própria; vive espiritualmente nas imaginações que frequenta e fecunda.

Aliás, importa pouco que a razão desta dedicatória seja compreendida. será mesmo necessário, para contentamento do autor, que um livro qualquer seja compreendido, exceto por aquele ou aquela para quem foi composto? Dizendo enfim tudo, é indispensável que seja escrito para alguém? Por mim, tenho tão pouco gosto pelo mundo vivo, que, como essas mulheres sensíveis e ociosas que enviam pelo correio, diz-se, as suas confidências a amigos imaginários, de bom grado escreveria apenas para os mortos.

Mas não é a uma morta que dedico este pequeno livro; dedico-o a uma mulher que, embora doente, continua ativa e viva em mim, e volta agora o seu olhar para o Céu, lugar de todas as transfigrações. Porque, tal como de uma droga perigosa, o ser humano goza do privilégio de poder tirar prazeres novos e sutis mesmo da dor, da catástrofe e da fatalidade.

Verás neste quadro um passeante sombrio e solitário, mergulhado na onda movediça das multidões, e enviando o seu coração e o seu pensamento a uma Electra distante que lhe limpava ainda não ha muito a fronte banhada em suor e lhe refrescava os lábios pergaminhados pela febre; e adivinharás a gratidão de um outro Orestes cujos pesadelos tantas vezes vigiastes, e a quem dissipavas, com mão leve e maternal, o sono horrível.

C.B.

Dedicatória de Charles Baudelaire do livro "Paraísos Artificiais", a J.G.F, soberana de sua dor e devaneio.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cat Power



Cat Power, interpretetando "I've been loving you too long (too stop now)", do Otis Redding.
Perfeito.

domingo, 22 de agosto de 2010

Se fosse remédio...

Assim é na terra dos cleptomaníacos cristãos:
Todos estão sempre pedindo desculpas.

Mas nem por isso deixam de te roubar.

domingo, 15 de agosto de 2010

I Wish I was in New Orleans



Porque Jazz + frio + uma excelente companhia é uma combinação perfeita.


Well, I wish I was in New Orleans, I can see it in my dreams,
Arm-in-arm down Burgundy, a bottle and my friends and me

Hoist up a few tall cool ones, play some pool and listen
To that tenor saxophone calling me home
And I can hear the band begin "When the Saints Go Marching In",
And by the whiskers on my chin, New Orleans, I'll be there

I'll drink you under the table, be red-nosed, go for walks,
The old haunts what I wants is red beans and rice
And wear the dress I like so well, and meet me at the old saloon,
Make sure that there's a Dixie moon, New Orleans, I'll be there

And deal the cards roll the dice, if it ain't that old Chuck E. Weiss,
And Claiborne Avenue, me and you Sam Jones and all

And I wish I was in New Orleans, 'cause I can see it in my dreams,
Arm-in-arm down Burgundy, a bottle and my friends and me
New Orleans, I'll be there

sábado, 14 de agosto de 2010

Economistas e técnicos de futebol

Luiz Guilherme Piva - Texto muito bom sobre economia e futebol... um pouco do que ele diz sobre economistas dá para estender aos "cientistas sociais" também. Ao menos para mim, heterodoxo no futebol, conservador na ciência... boa sacada do cara.

Técnicos de futebol podem ser comparados a economistas. Os dois profissionais lidam com realidades de difícil controle (sociedade, jogadores) e, tendo em mente concepções e planos de ação, buscam seus objetivos pondo para atuar os recursos de que dispõem. Na maioria das vezes dá errado, e eles sempre atribuem a culpa ao imprevisto e aos recursos disponíveis - nunca às concepções e aos planos de ação.
Às vezes chegam a crer que o problema é com a realidade, inadaptada à sofisticação e ao acerto do modelo adotado. E mais: diante de fracassos seguidos, eles acreditam que o problema é a impaciência do público, que não vê que no longo prazo tudo dará certo – embora um dos mais famosos economistas (Keynes) afirmasse que no longo prazo estaremos todos mortos.
Na prancheta do técnico ou na planilha do economista, coloca-se um boi na entrada de um modelo e saem bifes do outro lado. Os pressupostos do modelo são escolhidos casuisticamente por eles mesmos, com a ponderação e os riscos que arbitram para produzir exatamente o que pretendem. Tudo perfeito. Aí vem a realidade, com fatores e pesos não considerados, e atrapalha: oligopólios, retrancas, dribles, greves, banqueiros, juízes, morrinhos, tecnologias, trivelas, burocracias, geadas, traves, etc. Seria o caso de, como os russos, perguntar para o técnico: combinou com o Garrincha?
Não, é claro. Mas técnicos e economistas seguem acreditando com tanta fé no modelo que, frente ao fracasso, voltam à prancheta e à planilha, colocam na saída do seu modelo os bifes e vêem sair um boi inteiro, perfeito, lá na entrada. Eles então se convencem ainda mais do seu acerto. E tentam de novo, de novo, de novo. Morre gente no caminho. Times se acabam. Torcedores se enfurecem. O país se afunda. Mas, caramba, é preciso ter paciência!
Avançando na comparação, há um antigo paradoxo que acabei de inventar. É que economistas são considerados ortodoxos quando pretendem que o governo não intervenha em nada: se ele não agir e só der as regras gerais, tudo dará certo, apregoam. Produtores, distribuidores, consumidores, trabalhadores, desempregados e miseráveis encontrarão seu lugar e sua função da melhor forma, com a maximização de suas individualidades no livre jogo das forças de mercado, em prol do benefício de todos. Os técnicos classificados de ortodoxos, porém, são os que controlam todos os movimentos do time, coibindo o individualismo e o improviso, que resultariam, crêem, no caos e na derrocada. Por isso, desenham, cronometram, ensaiam, gritam, premiam e punem quem não seguir estritamente suas determinações táticas. 
Já os heterodoxos, na economia, são os que querem planejamento, intervenção e gasto público para evitar o caos e a miséria. E, no futebol, ao contrário, heterodoxos são aqueles técnicos que não se apegam a modelos rígidos e propõem o jogo livre com base na individualidade e na criatividade dos jogadores, guiados apenas por suas diretrizes gerais – que eles preferem chamar de estratégia, em lugar de tática.
Ou seja, Cruyff, treinador heterodoxo, seria, transplantando-se seu ideário, um economista ortodoxo. Milton Friedman, economista ortodoxo, seria um técnico heterodoxo. Parreira e Keynes seriam os opostos daqueles, respectivamente.
Mas as coisas não são simples assim. Há aqui um outro paradoxo clássico, que montei agora só para fechar o texto. É que, se dividirmos em grupos de afinidade as pessoas que gostam simultaneamente de economia e de futebol, certamente haverá um grupo que gosta de Friedman e Parreira (ambos ortodoxos, mas com acepções opostas de ortodoxia) e outro grupo que gosta de Cruyff e Keynes (ambos heterodoxos, mas com acepções opostas de heterodoxias).

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Abrace-me

Ele só queria... alguém que se importasse com ele. Alguém que o abraçasse. Alguém para esquentá-lo. Ninguém o faria. Quando nos abraçamos, na escuridão, não faz com que ela vá embora, as coisas más ainda estão lá fora: Os pesadelos ainda caminham. Quando nos abraçamos nos sentimos... não seguros, mas melhores. "Está tudo certo", sussurramos. "Estou aqui; eu te amo". E mentimos, "nunca vou te deixar". Por apenas um momento a escuridão não pareceu tão má. Quando nos abraçamos.

Hellblazer #1.

                                      

Chatterton

Musica do Serge Gainsbourg, versão de Seu Jorge. 
Não simpatizo muito com seu Jorge, mas essa versão até ficou legal....


Chatterton

Sangue, Sangue,
Sangue

Chatterton, suicidou
Kurt Cobain, suicidou
Getúlio Vargas, suicidou
Nietzsche, enloqueceu
E eu, não vou nada bem

Chatterton, suicidou
Cléopatra, suicidou
Isócrates, suicidou
Goya, enloqueceu
E eu, não vou nada nada bem

Chatterton, suicidou
Marc-Antoine, suicidou
Cleópatra, suicidou
Schumann, enloqueceu
E eu, puta que pariu, não vou nada, nada bem.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Homenagem atrasada

Foi dia dos pais, né? Ok. Deixo uma dica  de semi-diário muito legal pra ter uma idéia de algo sobre o qual eu simplesmente não entendo. Bom pra quem pensa em ter filhos. Imagino que alguns vão ter vontade de ter um bebê também (ou não...). Eu, fico com a máxima: No dos outros é refresco. Deixa quieto.
Mas visitem:
http://sagradosilva.blogspot.com/

Esse guri vai se dar bem. Como diz a máxima do Miopia virtual, "não adianta ver longe se está olhando pra trás...", e esse míope aqui foca nos lugares certos. Ao menos, boas influências o Augusto vai ter. E logo, logo, a camisa do Corinthians chega pra ele, viu Flávio?
Sorte aos pais de primeira viagem, que são muitos a minha volta.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Montou-o de assalto na rede e o amordaçou com as fraldas do camisolão que ele vestia, até deixá-lo exausto. Então o fez reviver com um ardor e uma sabedoria que ele nunca imaginara nos prazeres insípidos de seus amores solitários, e o despojou sem glória de sua virgindade. Ele estava com cinquenta e dois anos, e ela com vinte e três, mas a diferença de idade era a menos perniciosa".

Gabriel García Márquez - "Do Amor e Outros Dêmonios".

Amigos

Acordei e desci, fui à padaria, e na fila do pão topei com Hemingway, perguntei-lhe onde estava seu rifle e ele me disse que desde que aquela porcaria falhou no tal momento fatídico, ele deu adeus às armas. Ele parecia ter cento e poucos anos, perguntei como era ter essa idade, e ele me disse que há muito tempo já a vida deixara de ser uma festa. Deixei-o, desejando-lhe mais sorte da próxima vez que pirar e resolver se matar, e fui ter com Bukowski no barzinho da esquina de casa, ele já estava com um bafo de cachaça horrível, tinha varado a noite, não sei direito se ele passou a noite bebendo ou varou alguém à noite, enfim, me disse que Cortázar tinha acabo de ir embora com sono e sem cigarros, eu tinha alguns, pensei em alcançá-lo, mas ao longe ele já entrava bêbado num táxi para o pesadelar. Voltei para falar com Bukowski e ele já lançava seu hálito fétido em cima de uma senhora mal-ajeitada que lhe pedia para pagar uma cerveja, ela ia resmungando enquanto ele a cheirava, mexia na alça de seu sutiã que escapava do vestido, e ria, como ria. Achei que deveria deixá-los ali, a sós com seus demônios. Regressei à casa, onde já tão cedo, na sala, Clarice e Garcia Márquez discutiam animadamente coisas como a origem dos sonhos, a vida de Picasso e as motivações dos crimes passionais. Preparei mais uma rodada de café, acendi um cigarro e ali ficamos, nobres debatedores do trivial, radiantes em nossas paixões mundanas, lendo uns para os outros poemas de Anne Sexton e Rimbaud e escrevendo romances no ar com nossos dedos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

The Blues Brothers



Mais uma dica de filme e musica. "The Blues Brothers", o filme que leva o nome da banda dos comediantes Dan Aykroyd e John Belushi (que morreu de overdose no ano em que nasci), de 1978, dirigido por John Lands. Na cena, eles cantam "Rawhide".

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Segundas são todas iguais



Então, na falta de que escrever, vou de musica!

"Jockey Full of Bourbon", do Tom Waits, na trilha sonora de "Down By Law", de Jim Jarmusch.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...