terça-feira, 27 de março de 2012

In Loco

Olha, eu sei que tô na mesma merda de cinco malditos anos atrás, mas veja, ao menos li mais livros e corri mais alguns quilômetros, dezenas deles na verdade, não que isso seja essencial, mas ao menos cria a ilusão de movimento, de que as coisas estão indo para frente e não para trás, afinal, não se pode desler o que já foi lido então tá tudo certo, eu estou bem, garanto, ter mudado a marca do cigarro pra um mais fraco não altera em nada o resultado do processo, a morte ainda virá e ela é bem vinda, ora bolas, nos contorcemos sempre por causa do mesmo sal que atiram sobre nossa pele e eu sei, vai chegar um tempo em que isso tudo não fará mais sentido nenhum e até isso deve ser considerado um avanço, nossas nobres mentes aprendendo com erros triviais, meus sonhos ruins e aquele meu problema (não vou inscrevê-lo aqui) continuam, mas quem realmente achou que isso mudaria merece minha admiração porque, e eu não sei quanto de vaidade ou orgulho cabe nisso, mas eu não mudarei jamais, no máximo terei visto outros filmes e isso em si já é muita história pra contar, eu tenho que te contar que eu ainda me imagino em Memphis, Amsterdan e St. Louis, apenas adicionado desta vez de Buenos Aires, e já que estamos falando em progresso, Buenos Aires está bem perto de acontecer e eu queria que você fosse a primeira a saber disso, mas como te ligar só pra dizer que vou conhecer Buenos Aires, você acharia que é só uma desculpa estúpida (dentre as tanto que invento - ora, sou expert nelas, como você bem sabe - mas eu garanto que isso é só uma forma de não te aborrecer, nem a você nem a ninguém, sobre as verdades idiotas sobre minha vida, e isso não é uma queixa, mas até hoje ninguém me convenceu da primazia da verdade sobre a mentira, mas definitivamente a verdade pode facilitar as coisas e eu estou aos poucos aprendendo a facilitar e não complicar minha vida com planos que se adiam por um ano inteiro, e mesmo essas mentirinhas já estão me enchendo o saco e estou decidido a pará-las), só uma desculpa estúpida pra ouvir tua voz, e sei lá, não quero que você desligue o telefone na minha cara, seria deprimente demais depois de tudo, então eu acho que vou te mandar só um cartão postal de Buenos Aires e espero mesmo que você entenda que eu quero que assim que você abra o envelope, pense "oh, ele conseguiu então", sempre penso se você pensa em minha vida no Rio de Janeiro, é uma conquista, mesmo estando na merda em que estou, vai ver que mudanças tem mais a ver com qualidade que quantidade, então, se não mudei tudo que devia, coisas essenciais  não são mais as mesmas e aquilo que ontem parecia tão importante eu só me lembro mesmo quando arrumo minha coisas e mexo nas minhas lembranças, nos vexames e tristezas e outras coisas das quais eu devia ter vergonha, mas sabe de uma coisa? 
Eu só sinto uma puta vontade de gritar. 
Nada mudou, é sério. O gosto na boca ainda é o mesmo e até meus dedos têm seu cheiro.
Acho que vou parar por aqui. 
Hei, acho também que vou escrever um poema.
 Como há cinco anos. 

quarta-feira, 14 de março de 2012

De repente, Nós

Por, Camila Fraga (aqui)


De repente o dia é só uma
Chuva torrencial que não pára de
Cair
Tu cantando no banheiro depois de
Nos esfregarmos num edredom
Sujo
De repente a vida é só nós dois
engolindo bebidas
enquanto olhamos um nos
Olhos doutro
Enquanto tudo lá fora desaba
De repente tudo sou eu e você
Enquanto crianças choram
Por sorvetes derrubados no chão
Nós dois rindo pra caralho por
Qualquer merda
Enquanto o ônibus pula em solavancos
Escrotos
Seus dedos pelas minhas coxas
Calcinhas
De repente é você caminhando
pelo nosso quarto
fumando um cigarro na janela
enquanto eu cravo minhas unhas nas
pernas
Louca de vontade de te beijar os pés
De repente a gente num passa de dois
Desajustados
Sem nenhum charme
Passando shampoo um no outro
Enquanto te dou um banho de água gelada
Gosto quando tu bebe a água em mim
E a gente ri sem motivo
Como duas crianças babacas
De repente tudo é
Só eu e você e nada
Mais.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Incandescente

Porque nem tudo que reluz no escuro
São brinquedos fluorescentes
Interruptores de luz ou fantasmas;
Algumas pessoas têm estrelas cadentes no lugar dos olhos
E, em chamas, meu coração grita por elas.

E assim surge uma pequena trilha iluminada
No meio das trevas em que caminho.

A Morte de Sylvia







para Sylvia Plath

Ó Sylvia, Sylvia,
com um féretro de pedras e colheres,

com dois filhos, dois meteoros
vagando livres numa pequena sala de jogos,

com sua boca contra o lençol,
na viga do teto, na silenciosa prece,

(Sylvia, Sylvia
onde você foi
depois de me escrever
de Devonshire
sobre cultivar batatas
e criar abelhas?)

o que reparou
justamente quando se deitou?

Ladra —
como se rastejou,

rastejou sozinha
para a morte que desejei tanto e por tanto tempo

a morte que ambas dissemos ter vencido,
a mesma que carregamos em nossos peitos mirrados,

a mesma que conversamos freqüentemente
cada vez que engolimos três martinis extra secos em Boston,

a morte que falava de analistas e curas,
a morte que talava como noivas com tramas,

a morte que nós bebíamos,
os motivos e a taciturna realidade?

(Em Boston
os moribundos
viajam em táxis,
sim outra vez a morte,
viaja pra casa
com nossa criança.)

Ó Sylvia, lembro do sonolento baterista
que batia em nossos olhos com uma velha história,

como queríamos deixá-lo vir
como um sádico ou uma fada de Nova Iorque, 

para fazer seu trabalho,
uma necessidade, uma janela numa parede ou um berço,

e desde então ele esperou
sob nossos corações, nossas despensas,

vejo agora que
ano após ano, velhos suicídios

e sinto ante a notícia de tua morte
um horrível sabor, como o sal

(E eu,
eu também.
E agora, Sylvia
você outra vez
com a morte outra vez
viaja pra casa
com nossa criança.)

E digo apenas
com meus braços estirados naquele pedregal,

que é tua morte
senão uma antiga possessão,

uma verruga que caiu
de um dos teus poemas?

(Oh amiga,
enquanto a lua é má,
e o rei parte,
e a rainha perde a razão
o bêbado deve cantar!)

Ó mãezinha,
você também!
Ó estranha duquesa!
Ó coisa loura!

17 de fevereiro de 1963

Tradução de Priscila Manhães
Anne sexton

Inseguro



“Odeio esta maldita palavra. Inseguro. O termo da moda para os bundões, criado pela psicologia pop do fim dos anos 80. Você é livre e solteiro? Inseguro. Toma um drinque de vez em quando? Inseguro. Não quer falar sobre seus sentimentos? Inseguro. Não acredita que o porra do Woody Allen fala por todos nós? Inseguro. Não quer que comam teu rabo? Um puta inseguro”.

Foi o Pastor (da foto) quem disse.

New Dawn Fades


O tempo de ser legal passou. Definitivamente. Quem não gostar disso, que não venha reclamar comigo, vai ter de falar com meu rifle. O Senhor é meu rifle e nada vai ficar no caminho daquilo que eu tenho que fazer, porque não será tratado com sorrisos e abraços dessa vez. O tempo de ser legal passou. É o fim. Das gargalhadas e mentiras suaves, como diz aquela música. A última pá de terra sobre toda paz, amor e esperança. Não. Sobre o amor, não. Mas sobre todas as outras pequenas porcarias que inventam para amenizar a coisa toda. Entre ratos e anjos, a hora é de ficar do lado dos ratos. E isso não é aquele papo de encantar-se com a decandence ou qualquer coisa do tipo. É sobre preservar o equilíbrio. Se você fica tempo demais de um lado apenas, ele passa a ter vantagem sobre o outro. Não estou interessado em saber quem vai vencer, só espero ir pra cama com os dois antes de morrer. Então, por hora, chega de candura. Porque não vou mais ser fodido pelo lado que se diz bonzinho. Sempre tive uma convicção que até hoje não foi destruída por ninguém (e olha que os malditos abutres tentaram!) de que só porque você vive numa época idiota, isso não é desculpa pra você se tornar idiota também. Não tem nada a ver com isso. Não se trata de fazer jogo nenhum. Mas reconhecer a necessidade de uma mudança de postura é necessário. Então, é o fim da lua-de-mel com os sorrisos alheios e a festa dos contentes. Agora sou só eu e este calibre doze que está comigo. Isto vai doer um bocado. Espero realmente que doa mais neles do que em mim. Não vai ser fácil. Mas, ninguém disse que seria, não é? Então que venha o apocalipse. E todo o inferno que se seguir. 

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...