quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Notificação

(Charles Bukowski)

Cidadãos do mundo
eu renuncio a vocês.

eu renunciei
a muito tempo.
mas isto é uma notificação
formal
eu contra
vocês
uma ordem de
restrição.

fodam-se
ressequem
desapareçam.

não venham até
minha porta
com pizzas
bucetas
ou ofertas de
paz.

é tarde demais.

a musica
congelou no
ar
castrada pela
ausência de sua
presença.

sábado, 17 de agosto de 2013

In Spite of Me



"Last night I told a stranger all about you
They smiled patiently with disbelief
I always knew you would succeed no matter what you tried
And I know you did it all in spite of me".

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O belo já não me serve de morfina ou bálsamo


Depois de você, me vi obrigado a conter minha paixão pela arte. Não é que eu tenha sido tomado por uma aversão à esta; mas desde que ficou claro pra mim que eu jamais poderia ser mais nada para você, vejo a mim mesmo como uma banal representação de mim mesmo, e não mais como uma pessoa por inteiro. Sou um quadro pintado por um artista de mau gosto que exibe uma caricatura grotesca de alguém apaixonado. Uma fotografia velha de alguém que a nem tanto tempo assim costumava ser um homem. Escuto a mim mesmo e me parece que minhas palavras são a letra de uma canção que ficou sem a melodia. O que você tirou de mim foi a minha capacidade de apreciar qualquer beleza além da sua. Renoir's, Picasso's, Mozart's, Rimbaud's, Fellini's, afastem de mim seus curativos! Quero a balada mais melancólica de Billie Holiday e isto apenas. Quero minha embriaguez relatada por Bukowski. Sem seus enfeites, sem suas mentiras. Quero minha vida de volta ao que era antes dela, para que eu possa voltar a me inspirar nas sutilezas da arte, respirar a lascívia que brota entre os cabelos de uma mulher qualquer. Há tempos não leio um bom livro. Nenhuma foto que me encante. Nenhum filme que me surpreenda. Apenas a imagem repetida à exaustão de meu orgulho rastejando sobre o chão. O belo já não me serve de morfina ou bálsamo. É apenas uma mentira entre as tantas que já ouvi e as quais repito, releio e escuto todos os dias antes de dormir. Não direi mais nenhum poema até que me livre de uma vez dessa pedra que pesa sobre meu peito. Se não conseguir, este desabafo não será nada mais que o epitáfio de um afogado. 

domingo, 4 de agosto de 2013



"Vai, livro natimudo,
E diz a ela,
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz.

Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.

Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a beleza, a sós."

(ENVOI, Ezra Pound).

Na foto: Keyra Knighley, em ensaio para Vogue)

sábado, 3 de agosto de 2013

Don't forget the joker


Toda vez que alguém me diz que eu devia sorrir mais, minha única vontade é fazer como o Coringa (ou Maldoror): Pegar uma navalha e fazer dois talhos, um em cada lado da boca. Engraçado o bastante?

Receita

Perturbe-se. Não ouse escrever se tens paz de espírito.

Seja inimigo da página em branco.

Esteja bêbado. ‘de vinho, de poesia ou de virtude’.

Não tenha pressa, sublime o tempo. Só respeite sua urgência.

Negocie com a realidade. Mas seja duro, garotas de programa cobram caro e quase nunca entregam o que prometem.

Seja amigo das palavras. Trate-as como gostaria de ser tratado.

“A voz do coração” é uma entre tantas vozes. Não se limite.

Metáforas são acompanhamentos, nunca o prato principal.

Não se desgaste em pontuações sem sentido.

Não escolha um estilo, deixe que ele te escolha, ao invés.

Seja altivo, repita consigo: “A prosa é inimiga da perfeição”.

Leia em voz alta o que você escreveu. Beleza é ritmo.


O resto, como diria o poeta, é sombra.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

The Memory Remains

Ele achou que seria importante guardar aquelas cartas. Folhas e mais folhas contando alguma história que a memória, essa algoz, daria conta de apagar.
Ele achou que seria importante lembrar para sempre de algo que jamais aconteceu. Nos porões de sua mente, a fantasia sempre teve o status de coisa real.
Ele sempre soube que, esforçando-se um pouco, conseguiria dar vida aos sons, cheiros e sabores contidos naquelas cartas, mas jamais materializaria o amor contido nelas.
Ele nunca deixou de olhar para aqueles envelopes como relíquias de um tempo antigo, testemunhos de uma irmandade desfeita, evidências de um crime não-consumado.
Ele nunca deixou de se embriagar com lembranças. Também nunca deixou de crer em fantasmas ou de caminhar por labirintos construídos com seus medos, pobre Ariadne.
Mas uma noite, uma fagulha se acendeu. No incêndio que se seguiu, aquelas cartas se queimaram. Aflito, aviltado pelo horror das horas noturnas e pela culpa pelo que havia feito de sua vida, ele decidiu:

Era tempo de crescer. Que haja luz neste quarto escuro.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...