segunda-feira, 19 de julho de 2010

Porque eu tenho um blog

Não que isso seja uma preocupação pra mim, mas é que fiquei pensando nisso essa manhã, enquanto racionalizava sobre algumas coisas da minha vida, às vezes eu tenho esse hábito e garanto que é um bom hábito, muito necessário, ainda que nem sempre queira fazer o que é necessário, mas daí entre temas importantes como trabalho, amor, juventude, apareceu o assunto do blog, por que? E diria que enquanto umas pessoas desoladas que sempre encontro por aí escolhem falar com estranhos de seus problemas pessoais porque sabem que nunca mais vou encontrar com eles na vida, ou enquanto uma pá de pessoas que conheço vem falar comigo de suas vidas de um jeito como elas não falam com mais ninguém, não sei se por me considerarem alguém confiável - e eu sou mesmo, na boa - ou porque ficam a vontade comigo porque eu topo falar sobre tudo, de banalidades até crises existenciais passando por pequenas confidências, eu acho bacana, realmente gosto de falar com pessoas sobre suas vidas, é melhor do que falar sobre política ou sobre a "modernidade", as pessoas sempre ficam parecendo o Zygmunt Bauman quando falam desses assuntos, parecem velhos resmungões sem nada melhor pra fazer; enquanto as pessoas fazem isso, eu escrevo aqui no blog. Não é nenhuma maravilha, eu sei, um motivo nada bonito, mas  escrevendo aqui eu me eximo de aborrecer os outros com minha vida e minhas angústias e até mesmo minhas pequenas alegrias, que eu sei que são bastante esquisitas, claro que se alguém pedir eu falo sim sobre minhas merdas, sobre os traumas e sobre solidão, mas ao menos não é uma necessidade, aprendi a conviver com a idéia de que ninguém é obrigado a saber que tal dia acordei de uma dessas noites mal-vividas, olhei pela janela e senti uma vontade quase incontornável de me atirar, como é aquela frase do 8 e 1/2 mesmo? "Quem vai se interessar pelo esquálido catálogo de seus erros?" Algo mais ou menos assim. Então a história é essa, escrevo aqui, deixo rolar, pode ser que fale isso com alguem olhando nos olhos, mas se ninguem perguntar sobre, um pouco está aqui, registrado. Não vai virar livro, nem nada, só um digital "esquálido catálogo de erros", para o caso de se algum dia eu frequentar uma analista e ele perguntar: "Mas você nunca falou disso com ninguém?", eu ao menos poder responder: "bom, se não me engano, escrevi isto num blog".

sábado, 17 de julho de 2010

Ginsberg sobre Neal Cassady

"Quantas noites de sábado
Teremos deixado bêbadas com esta lenda?
Como fará a jovem denver para carpir
seu olvidado anjo sexual?

Quantos garotos baterão no piano negro
imitando os excessos de um santo da terra?
Ou garotas que cederão ao desejo sob seu espectro
nos colégios da noite melancólica?

Quando tivermos o tempo todo na eternidade
na tênue luz de rádio deste poema
sentaremos atrás das sombras esquecidas
ouvintes do jazz perdido de todos os sábados."

Trecho de "O Automóvel Verde", Allen Ginsberg.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Refletindo...

Pensando bem, o problema com a inteligência é bem parecido com o da distribuição de terras no campo no Brasil:
Alguns poucos têm tanto, enquanto a maioria parece completamente desprovida...

A diferenca é que, no caso da inteligência, não se pode dizer que isso seja exatamente injusto. Seria terrível se todos fossem simplesmente medianos.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Retrato Incomunicável

Tenho tanta coisa sufocada que é melhor nem contar.
Se ao menos você soubesse.
Eu só queria que você adivinhasse;
Sozinha, sem minha ajuda.
Eu só sei agir. Falar não é comigo.

Mas eu sei mandar sinais.
Farei isso.
Vou seguir pelo caminho mais complicado,
E torcer pra que no fim o recado seja dado.

Tenho tanta coisa sufocada.
Nem vou contar.
Eu sei que uma hora você vai entender.
O problema é que, enquanto isso,
O tempo passa, o frio aumenta.
Em algum momento, serei imolado,
Como o Cordeiro cujo sangue se esvai
Redimindo pecadores
Mártir involuntário de uma história mal-contada.

Deite-se. Eu tenho estórias pra contar.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Bruxa

Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América.

Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida ao meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
desses calados, distantes,
que lêem verso de Horácio
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
e a essa hora tardia
como procurar amigo?

E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
que entrasse neste minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.

Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e clama.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher?

Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.

Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 13 de julho de 2010

O Blues teve um filho e ele foi chamado de Rock and Roll

De algum jeito tudo que eu sou hoje tem a ver com o rock. De um jeito ou de outro, para o bem ou para o mal. Eu tava lá, com quinze anos, num clube pequeno escutando qualquer coisa, pirando naquele barulho, bêbado à noite, caminhando por Jardim da Penha, cercado de coturnos pretos e pessoas loucas, extremamente diferentes unidas entre si pela música e dispostas a tudo para que a noite durasse nem que fosse um minuto a mais, apenas. Primeiro foi o Nirvana, e toda aquela melancolia de adolescente desterrado, as calças rasgadas e blusas de flanela, Pearl Jam e tudo o que significou pra mim, marcado na minha perna até hoje, depois o engajamento político (longe de partidos, desde o inicio) inspirado por Rage against the machine, Dead Fish, The Clash e todo punk rock do mundo,  toquei numa bada de rock sem saber tocar, Ramones é mole, três notas e já foi, a seguir Guns, rock dos anos 50, bebidas, mulheres, mais bebida, Bukowski, Metal também entrou na salada, ainda que me sentisse desconfortável nos shows a musica era de uma violência que acalmava meu lado mau, mas eu queria mais, e aí era Lou Reed e Rolling Stones na vitrola, e as noites cada vez mais longas, durando as vezes dias e dias, e eu que não sabia dançar forró ou samba me acabava ouvindo Garbage, Primal Scream, Stone Roses, desejando ouvir aquilo numa pista de dança, o mundo se estendia, Jimi hendrix virou Deus pra mim, e nessa veio o Blues, Jazz e mais uma porrada de coisas. E mesmo meu gosto por filmes ou quadrinhos veio daí, Tarantino é muito Rock 'n' roll, Neil Gaiman é muito The Cure, e por aí vai. Muito do que citei aqui nem é mais relevante pra mim hoje em dia, mas aquilo nunca saiu de mim, aquela semente do mal plantada não sei quando, não sei por quem, mas que cresce cada vez que coloco um som pra tocar. Essa foi minha educação, ao menos a que mais contou. As histórias que conheci por causa do rock, que passaram pela minha vida, aquele brother com quem passava tardes inteiras bebendo vinho e ouvindo o mesmo disco do Velvet Underground, meu livro com os artigos do Lester Bangs, as maluquices do Jim Morrison, as garotas cheias de atitude e maquiagem e roupas escuras com quem flertei, as noites discutindo musica, é disso que sou feito, no fim das contas. Cresci, mudei, aprendi, diria até que morri e ressuscitei, não sou mais tão inocente, não quero me acabar em tristeza para transformar isso numa musica, nem quero acordar na sarjeta com uma musica do Iggy Pop na cabeça ("I got Lust for Life"), mas a mensagem ficou. Aprendi mais com o rock do que com todos os conselhos paternos ou com a escola (ainda que, a seu modo, cada um tenha sua importância...). Posso até não gostar de quem sou, mas fui eu quem escolhi tudo isso. É melhor ser consumido em chamas do que evaporar (diria Neil Young). Então viva as musicas que nascem na garagem. Viva a folhagem seca que sobra nos quintais da virtude. Viva a loucura estilizada. Viva a indecência e a fúria.Viva os deuses sujos do rock.



Lá vem Johnny Yen novamente
Com a birita e as drogas
E a máquina de carnes
Ele vai fazer outro striptease
Ei cara, onde cê arrumou esta loção?
Estou ferido desde que comprei a lorota
Sobre algo chamado amor
É, algo chamado amor
Ora, isto é como hipnotizar galinhas

Bem, eu sou apenas um cara moderno
É claro que já tomei na orelha antes
Por causa de um tesão pela vida
Pois eu tenho um tesão pela vida

Tô valendo um milhão em prêmios
Com meu filme de torturas
Dirijo um GTO
Visto um uniforme
Tudo num empréstimo do governo
Tô valendo um milhão em prêmios
É, dei um basta em dormir nas calçadas
Chega de surrar meus miolos
Chega de surrar meus miolos
Com a birita e as drogas
Com a birita e as drogas

Bem eu sou apenas um cara moderno
É claro que já tomei na orelha antes
Porque eu tenho um tesão pela vida
Por causa de um tesão pela vida
Eu tenho um tesão pela vida


Dedicado a Dennis Hopper, Cazuza, Ginsberg, Roberto Piva e Kerouac, mortos que tem sido excelentes companhias nos dias que seguem...

Hoje foi o dia do Rock! :)

domingo, 4 de julho de 2010

O que importa é que ninguem bateu em minha porta

Eu estou assustado, Baby. Pelas coisas que não consigo dizer e são tão necessárias nestes tempos difíceis. Também pelas coisas que queria te dizer, que nem são tão necessárias, mas eu diria assim mesmo se as circunstâncias fossem outras. É que eu me acostumei a encontrar as palavras certas só nos momentos errados, e ontem a noite eu prometi que não deixaria isso acontecer novamente. Essa noite um cachorro latiu pra mim ferozmente enquanto eu caminhava pela rua, aquela sim foi um visão assustadora - quem sabe do que uma fera solitária é capaz? - porque eu acordei e percebi que aquela noite não seria mais um blues, eu me sentia numa noite urbana bem ao estilo do Lou Reed, quando ninguém que eu conheço escuta mais esse cara, isso não te deixa triste? Ele latiu pra mim enquanto eu estava voltando não importa de onde, algum desses lugares em que a gente vai pra esquecer que conhece tanta gente que não interessa e espera lá encontrar aquelas que valhem a pena, tudo ilusão, porque depois que a euforia toda passa só o que sobra são aqueles gostos na boca e aqueles cheiros que conhecemos bem. A noite, como ela consegue, me diz? Eu vinha andando e pensando que ainda há tempo para consertar tudo. E aquele latido me deixou sem esperança, desolado. Achando que tudo é solidão e vazio, você espera uma carícia e tudo que recebe é só um recado ameaçador. O amor não é como um conto de fadas, ele não se compromete com encontros fortuitos e muito menos com finais felizes. Não sei direito porque falei de amor. Esse demônio.... Mas não sucumbirei por causa de palavras que não foram ditas. Deixe esse saxofone tocar só um pouco mais, talvez um pouco mais alto para que possa quem saiba sufocar as batidas do meu coração.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Lição de metafísica (Diálogo com Os Mortos)

O único problema da metafísica
É não ser dotada de sangue, de carne
É ignorar os escombros que sustentam os desejos;
É forçar a vida para além de si mesma e, nesse processo,
Abandoná-la;
(seria um desejo de morte?)
Mas então não é apenas um problema; São três.
Como a santíssima trindade,
Três deuses vis unem-se num só, tolo mistério:
Tal é seu segredo, não possui vida.
Destarte, afirmo:
Minha metafísica é o sexo,
Unico momento em que dois corpos ocupam o mesmo espaço,
Se fundem, se fodem
Suprimindo o tempo e espaço, assim é minha religião.
Se sua preocupação maior é nos fazer menos humanos,
Nos fazer convalescer de nossa existência tísica,
Qual será a meta
Da metafísica?

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...