quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Lisa tenta ser boa

O inverno lhe dá asas, ela me diz, me encarando com olhos supersticiosos que eu não sei se verei em outro lugar me diz que chegará o dia em que minhas preocupações não passarão de distrações infantis daquilo que realmente importa e que o futuro não estará permanentemente sob o julgo desses erros cotidianos, e eu claro meneio com a cabeça sugerindo um entendimento que é tudo menos sabedoria, eu que cruzo insinuantes e intermináveis desertos em minha mente até no ato banal de atravessar uma rua. Tenta ser boa, me olhando com olhos sensuais e acariciando meus cabelos contando das viagens que ainda serão feitas sem o peso enorme da dúvida, da descrença, apenas suaves deslocamentos entre um sonho e outro tendo como porto seguro uma cama ao retornar da longa jornada, enquanto eu de olhos fechados visualizo uma segurança nunca imaginada, pretendida ou plenamente aceita nos dias ferozes de verão desta cidade em chamas. Tenta ser boa, beijando o canto de meus lábios sussurrando qualquer coisa sobre minha força interior, essa desconhecida, meu talento, esse monstro, sobre as possibilidades de quietude da maneira que eu necessito, conquistando pouco a pouco, grão por grão, a serenidade que persigo e eu só faço um esforço pra deixar de lado esse sorriso cínico e concordo com essas palavras que só podem ser de um anjo que não conhece a imundice e o caos ou que talvez conheça, mas que tenha passado por eles com a graça de quem usa uma coroa de plumas nos arranha-céus mais altos da beleza e imaginação. Ela tenta ser boa e me transmitir essa bondade que não parece real, muito menos humana, e minhas lágrimas querem dizer que eu estou tentando -

garota, estou tentando acreditar que existe algo para além desse verão que não seja a danação eterna, talvez esse inverno aconchegante que te pinta tão belas asas que me acolhem quando estou triste.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Araguari II (Meus Dias de Vândalo)

(Jair Naves)

Como eu me defendo desse sentimento de inadequação
Que me destrói por dentro, pro qual eu não vejo explicação? 
Bandeira a meio mastro, um afago áspero, a voz do cantor
Eu criei um certo faro para esse tipo de enganador 

(Graças a você)

Ladeira abaixo, assim foi dito
uma obra-prima de eufemismo
para as dores da inaptidão,
para o sufocante calor da afobação
Ninguém imagina o que eu enfrentei
o quanto doeu, o quanto eu rezei
minha reza de ateu
num desespero que eu nunca me atrevo a demonstrar


Bêbada e vingativa,
o amor como eu o conhecia
de peito estufado, cheia de si
cantando em copos por aí
na madrugada eterna e ardente
que te deixou toda em carne-viva

Uma adoração inconcebível (em mim você devia confiar)
todo o amor que me é possível (eu vejo tanto de mim mesma em você)
recolhido, quieto, ensimesmado
meu refém conformado e imperturbável
na madrugada eterna e ardente
que me deixou todo em carne-viva

Agora, convenhamos: eu nunca me expus tanto, você nem pra impedir
Com todo esse alvoroço, eu só engoli meu almoço, não senti gosto algum
A torneira que eu esqueci aberta não tardou a inundar todo o prédio
mas eu sobrevivi, eu sobrevivi

O tempo que a gente passou aqui morando de favor
nos tornou parte da mobília sem valor
na percepção pobre e turva daquele que nos abrigou

E foi nesse corredor que eu vi o fantasma de um senhor 
e de um labrador
magro, manco e ameaçador
Eu é que não vou me meter com esses dois

Nem queira saber o que eu ambiciono,
o que me mantém vivo, porque eu não cedo ao sono
Eu te aconselho: nem queira saber


Assim que os meus dias de vândalo terminarem, 
eu sei que me levarão pro céu
E farão com que eu narre os meus escândalos 
sem que eu me gabe, 
com o constrangimento abatido de um réu
Talvez fosse preferível
que eu nunca tivesse saído
de onde eu nasci,  de Araguari

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...