terça-feira, 29 de maio de 2012

Um Lugar Legal para Estar (When the Music Stops)


Ela me disse casualmente
Que havia notado a mancha de sangue na minha camisa
Disse a ela: “Não se preocupe, não é nada”
Ela respondeu “Eu não to preocupada”
Resmunguei: “É melhor assim”
Achei que podia me divertir um pouco
Assistindo uma luta de boxe na TV
Tirei a camisa manchada de sangue e joguei no tanque
Ela vestiu uma microssaia e saiu para a rua
Abri uma cerveja e resolvi esperar
Os ponteiros do relógio eram guilhotinas no meu pescoço
Quando ela voltou, não falei nada
Fiquei no escuro vendo ela se mexer
Deixando cair sua saia
No caminho pro banheiro
Deixou a luz acesa e ouvi o barulho
Não vou usar de eufemismos nesse momento
Pra dizer o que ela estava fazendo
Somos um casal com tempo de serviço
Nossa indiferença mútua provava isso
Meu enorme peso no sofá atestava isso
Ela acendeu um cigarro no escuro da sala
E a chama do isqueiro fez com que ela me notasse
“é mais difícil do que você imagina”, ela disse
E o seu desprezo me acertou como um blefe de pôquer
Ainda ficou um tempo olhando pra mim
Antes de vencer o orgulho e perguntar
“O que era a mancha na sua camisa?”
“Já disse. Não é nada. Não precisa se preocupar”
Ela soltou um foda-se e foi pro quarto,
Deitou e ficou fumando olhando o teto
Levantei e fui andando até o banheiro
Cambaleei e tive que me apoiar na porta
Abri o armário e peguei o mercúrio-cromo
Ou você não sabia que a maioria das histórias de amor
Terminam com alguém limpando as feridas?

- Mário Bortolotto

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mais duas citações.


"Só utiliza a razão quem nela incorpora suas paixões" (Raduan Nassar, "Um Copo de Cólera").

"Essas botas foram feitas para pisar. É tudo que sabem fazer. Um dia essas botas irão pisar sobre você" ("These Boots Were Made for Walking", Lee Hazlewood).


Nunca fez tanto sentido.

I Started a Joke



Tola, mas dilacerante.

domingo, 27 de maio de 2012

Maria de Medeiros, linda.






Pois,
Causa espanto viver entre
Longas tardes de apatia e
Espasmos de loucura;
Num canto qualquer como este,
Uma simples brisa serve como um toque
Do infinito.

Ode


Ora, e de que adianta que eu me aproveite neste instante de pequenos eufemismos circulantes para expressar este amor? Chegas até mim devastadora em teus saltos altos e olhos arrebatadores e esperas comedimento de minha carne? És os últimos degraus da escadaria que subo suplicante de joelhos, és minha derradeira parada, minha última tentativa de ser santo. Nos desolados estaleiros da noite, canta o bardo a canção que fiz para ti em desespero. Não fosse por ti, ainda estaria sóbrio, esta e tantas outras noites. Não fosse por ti, seria apenas uma vela acesa, e não centenas. Não fosse por ti, seria a morte a que tanto anseio e não esta vida, com meu desejo resplandecendo na noite. Não sejamos hipócritas. Há santos que morreram por motivos bem menos nobres e até hoje são lembrados. E só o que importa é que agora aqui corre sangue e outros tantos fluídos que nem sei se são meus. E desculpe por estar falando de fluídos em linhas que só deveriam conter sentimentos, mas afinal creio que não sei separar as coisas como se pertencessem a mundos diferentes. Tudo passa pelo sexo, pelo instinto e no fim por fluídos trocados e celebrados em idas e vindas escaldantes. E de nada me serve florir de atenuantes verbais estas indecências: é de seu corpo colado ao meu, incendiando minhas entranhas, que preciso. E para o inferno com tudo aquilo que é morno. Em minha cama entenderás que esta calma que vês só existe três polegadas acima da pele.

sábado, 26 de maio de 2012

Se


Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho! 


(Rudyard Kipling, tradução Guilherme de Almeida).

domingo, 20 de maio de 2012

Eu prometo contar tudo se você prometer não fugir assustada com o que ouvir.
Não ligo se você ficar assustada, mas não fuja.
Se eu te decepcionar, releve.
Se eu confessar um pecado, absolva-me.
Existem os crimes da alma e os crimes do amor, cometi-os aos montes
Sendo eu mesmo a unica vítima.
Não te peço que me proteja, muito menos que me entenda.
Só não fuja batendo a porta, pois precisaremos dela aberta para os dias que virão.


Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...