segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sangue Latino

"Rompi tratados,
Traí os ritos.
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo.
E o que me importa é não estar vencido."

É o que mais importa. O resto é sombra.

domingo, 26 de agosto de 2012

Sobre auto-detratação, Tribunais e Inércia

Já me perguntaram mais de uma vez porque eu falo tão mal de mim mesmo e porque me tenho em tão baixa conta. E eu nunca soube direito o que responder. E então só dizia "porque é verdade" ou "não sei, mas não vou fazer mais isso". Mas nunca parei. Nem uma trégua. Sempre me proponho tréguas, mas o cessar-fogo dura apenas até o primeiro gole de conhaque. Mas já tem algum tempo que ninguém me pergunta mais isso. E faz sentido, a coisa se desgasta, as pessoas se cansam de perguntar a mesma coisa. E eu sempre sinto que devia estar dando uma resposta diferente, dar-lhes alguma coisa mais palpável, mais observável, mais sensata, enfim. Mas não isso seria honesto de minha parte, e eu tô cheio de mentiras. Mas numa dessas madrugadas de sábado sozinho, me perguntando qual, afinal de contas, é o meu problema, cheguei a uma resposta que, se não é de todo sincera (mas nenhuma seria mesmo), ao menos não é uma completa mentira. O fato é que todo mundo devia ter alguém para explicitar os seus defeitos, vícios e desvantagens. É por isso que existem os bullyies nas escolas, as pessoas de humor negro, os bêbados e os loucos que perderam suas respectivas noções de sociabilidade  e cordialidade. Na falta de quem fale mal de mim, eu me encarrego do serviço sujo. Mas daria muito trabalho ofender a mim mesmo e depois me defender de mim. E me defender é algo que muitos tentaram, mas eu não facilito o trabalho de ninguém. É difícil ser promotoria, defesa e réu no mesmo processo. E neste tribunal não há um júri de meus pares. Eu não tenho par.


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O princípio da inércia postula que um corpo tende a manter seu estado de movimento, e se não sofrer a força de nenhuma ação ou de forças de ação que se anulem, ele consegue. Isso significa que se estiver parado, ele permanecerá parado, e se estiver em movimento, ele seguirá assim. O uso comum do termo leva as pessoas a associarem essa lei da física à paralisia, mas esta é só uma de suas propriedades. Um corpo pode continuar se movimentando, por inércia. Bom, o motivo de eu estar relembrando a primeira lei de Newton é o seguinte: Me descobri, como quem tem uma súbita revelação, uma visão, pra ser mais fiel ao que me aconteceu, inapelavelmente inerte. Agindo simplesmente porque não havia força alguma para me parar, assim como não havia nenhuma para me mover mais rápido. Seguindo o fluxo de uma estrada que não era a minha. E o único sintoma era o sentimento de esvaziamento, uma incapacidade de sentir os prazeres normais de qualquer pessoa, de deixar que meu pior lado fosse responsável pelo que eu sentia, nutria, amava. Matei muita coisa que sempre me foi cara. Deixei que coisas que não deveriam ter acontecido ocorrerem. Me perdi, no pior sentido do verbo. E foi só agora, quando este sentimento ganhou contornos físicos, com um rosto, uma voz e um nome, eu me vi desperto e, pela primeira vez, reduzindo a velocidade. E percebi que eu não estava sequer no controle. E senti, bem lá no fundo do peito, um desejo de mudar de direção. E só de pensar nisso, eu sorri sozinho, como não fazia há muito tempo, não sóbrio. Pode não significar muito pra ninguém, mas significa pra mim. Hora de mudar não apenas o valor da Força que age sobre mim, mas a direção vetorial. Hora de experimentar o efeito de outra lei, a da gravidade. Porque sou um corpo dotado de massa, e meu peso há de aumentar com a aceleração. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012



"Se você não ficar de pé por alguma coisa, você cairá por qualquer coisa".


"Olhar a vida de frente. Sempre, olhar a vida de frente. Conhecê-la pelo que ela é. Finalmente conhecê-la. Amá-la pelo que ela é. E então, descartá-la".


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um Mundo de Desassossego


Um passo em direção à varanda, e a paz acaba.

Do lado de fora, o mundo sorri,

Diabólico;

A natureza me é estranhamente familiar

E as pessoas pequenos pedaços de absurdo;

Da varanda, eu contemplo o espetáculo de suas misérias

E meu cigarro no filtro

É uma metáfora pobre do fim que chegará para todos,

Inclusive para mim.

Antes que a morte me alcance, porém,

Tenho que lidar com todo esse desassossego

Dentro de minha alma,

Meus maus hábitos e minha calma insana.

Não existe tranquilidade para um coração

Inchado como a lua cheia;

Paz, ela só existe dentro de minha casa,

Da porta pra dentro,

De meu corpo pra fora.

domingo, 12 de agosto de 2012

Don't Let me Be Misunderstood

- Mário Bortolotto.

(O poema que eu citei no post anterior).

A tarde que parece inatingível
Meu suspirar nervoso e quase insolente
Quando a cozinha é quase um pântano
Quando o coração ameaça explodir no peito
Quando seu nível de apreensão te levar a completa exaustão
Quando você brinca com frisbees pra passar o tempo
Quando o tempo ameaça não passar
Quando a música te levar para um canto escuro atrás da cortina
Quando toda tristeza derrubar sua porta
E não há como dormir, não há como fugir
Quando saio na noite incendiando bares
Quando volto pra casa com a alma atormentada
me sentindo o mais solitário e infeliz dos caras

Você saindo de dentro de um temporal
com o sorriso mais bonito do mundo.

                                     


Que algumas coisas têm que ficar para trás para que outras novas possam chegar e ocupar o lugar delas, é algo que eu já aprendi tem tempo. Conheço bem estes ciclos em que uma parte que você considerava imprescindível de tua vida te abandona ou precisa ser abandonada, por mais que doa. Não que seja fácil ou indolor, mas tenho algum know-how neste tema. Desde sempre. Algumas pessoas próximas chegam a nem me reconhecer mais quando isso acontece. Mas elas se acostumam, porque depois de um tempo percebem que eu, eu mesmo, não mudei porra nenhuma, afinal, o DNA é o mesmo, sou o mesmo amontoado de células de antes, the modern monkey de sempre; valores e crenças estão aí para serem trocados como roupas. E sim, eu mudo meu guarda-roupa bem de vez em quando. Mas quando mudo, vai tudo embora de uma vez. Quase tudo. E eu sinto que é hora de outra mudança, de forçar o vento a soprar em outra direção mais uma vez. Quando você sente que já não cabe em si mesmo, que uma outra pessoa tem vivido dentro de você, e sente-se alienado de si mesmo, é hora de mudar de novo. Tenho tido comportamentos suspeitos que evidenciam essa necessidade. Meu sentimentalismo barato aprendido com baladas dos anos 80 e poemas de Neruda e Garcia Lorca não vão me salvar agora. Normalmente, sou do tipo que sai da fossa com coisas mínimas, uma chuva no fim da tarde, uma musica que não ouvia há tempos, ou, como naquele poema do Bortolotto, "você, saindo de um temporal, com o sorriso mais bonito do mundo". Todas essas coisas costumam aliviar a pressão, e quando elas não mais o fazem, ou eu mudo os filmes que vejo, lugares por onde ando, ou tudo de uma vez. E sei que tenho acordado todos os dias dizendo pra mim mesmo que odeio o jeito como estou fazendo as coisas, que este não sou eu. Que meu tesão agora é outro e tenho que acabar com a dificuldade de assumir isto. E a hora, creio eu, é de recuperar algumas coisas que deixei para trás. Coisas que posso aproveitar melhor agora, com o benefício da idade, enquanto há tempo. Eu tinha o potencial. Tinha as armas. A vontade. E deixei passar. E talvez não seja tarde pra tentar de novo. Um pouco de foco, ânimo, e talvez algumas drogas, e eu volto à minha melhor forma. Farei isso. E poderei me orgulhar, algum dia, de ter tentado. 

sábado, 11 de agosto de 2012

Cruel Intentions



Placebo - Every You, Every Me
" (...) Tem o braço recurvado sobre a testa, a outra mão apoiada contra o peito, como para comprimir os batimentos de um coração fechado a todas as confidências, oprimido pelo pesado fardo de um segredo eterno. Cansado da vida, envergonhado por caminhar entre seres que não se assemelham a ele, o desespero tomou conta de sua alma, e prossegue sozinho, como o mendigo do valo. (...) De bom grado, fala às vezes com aqueles que têm o temperamento sensível, sem lhes tocar a mão, mantendo-se à distância, no temor de um perigo imaginário. Se lhe perguntam porque tomou a solidão por companhia, seus olhos se elevam para o céu, mal retendo uma lágrima de recriminação contra a Providência; mas ele não responde a essa pergunta imprudente, que espalha pela neve das suas faces o rubor da rosa matutina. Se a conversa se prolonga, inquieta-se, volta os olhos para os quatro pontos cardeais do horizonte, como para tentar fugir da presença de um inimigo invisível que se aproxima, faz um brusco aceno de adeus com a mão, afasta-se sobre as asas do seu pudor despertado e desaparece na floresta. Tomam-no geralmente por louco."

- Lautréamont, "Os Cantos de Maldoror", canto primeiro.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"Como vivemos desse fiapo de nada!!!"

Do blog do Xico Sá (10/08/2012):

"Basta eu pensar que você pensa em mim. Um segundo já é o bastante.

Tempo líquido em que nada se solidifica, nem o nostálgico amor de pica.

Por um momento pensar que você pensa em mim... só isso interessa".

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Matheus 6, 22-23

"A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz;

Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!".




quarta-feira, 8 de agosto de 2012


Candy Says (The Velvet Underground)



Candy diz:
Cheguei a odiar me corpo
E tudo que ele exige neste mundo.

Candy diz:
Gostaria de saber completamente
Sobre o que os outros tão discretamente conversam.

Eu vou observar os pássaros azuis voarem sobre meus ombros;
Vou observar eles passarem por mim.
Talvez quando eu for mais velho,
O que você acha que eu veria
Se eu pudesse me afastar de mim?

Candy diz, eu odeio os lugares quietos
Que provocam o menor sabor do que virá.
Candy diz, eu odeio as grandes decisões
Que causam infinitas revisões em minha mente.


Eu vou observar os pássaros azuis voarem sobre meus ombros;
Vou observar eles passarem por mim.
Talvez quando eu for mais velho,
O que você acha que eu veria
Se eu pudesse me afastar de mim?


A razão de tudo é eu sair por aí procurando alguma coisa que faça meu sangue ferver. É o motivo pra beber tanto, pra ouvir rock, pra iniciar conversações suspeitas, pra ficar acordado até tarde. Acho que até a razão pra me levantar da cama pela manhã tem a ver com esperar que alguma coisa perigosa aconteça. E nada mais perigoso suas pernas movendo-se com graça por entre os objetos espalhados pela sala. Em sincronia com seus olhares, os movimentos de suas pernas a aproximam de mim como a serpente que hipnotiza. E eu que  me levantei da cama apenas para isso fico indefeso diante de tamanha provocação, nenhuma outra reação diante de teu corpo além de aceitar este convite para o regresso à cama, agora incendiada. Sua boca é meu ponto fraco e seus seios o lugar onde repousa meu desejo, do início ao fim. Todos os dias acordando com a certeza de que és a fonte de todos os meus problemas e ainda assim vou esperar que você chegue com suas sapatilhas mortais, seu toque de Midas, perturbando minha existência com mais um punhado de doces problemas aos quais eu me lanço pretensiosamente a tentar solucionar obsessivo. Você vai pisar em meu coração. E do furo feito pelo teu salto, jorrará um sangue quente feito o inferno.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Caras como eu não deveriam viajar de avião


Quando o avião acelerou na pista, se preparando para a decolagem, eu olhei pela janela e me vi do lado de fora, menino, correndo ao lado dele. O avião arremetendo contra as nuvens me lembrou de mim quando criança, tomando distância da lagoa lá embaixo, correndo, correndo, mais rápido e mais rápido, ganhando velocidade para, a um passo do fim, saltar buscando o céu e finalmente caindo dentro d’água não sem uma pontada de frustração. E desta vez, ao invés de despencar, eu subi. E subi, cada vez mais. E uma vez acima das nuvens, foi inevitável o deslumbramento, a fascinação diante do improvável, mas regada a certa melancolia vinda não sei de onde.  Tudo era tão claro e tão cheio de paz, que contrastava com essa inquietação de espírito que não me abandonava mesmo ali. Eu desejava aquele silêncio do mundo lá fora, a paz do infinito. Era como se, aprisionado dentro de uma gaiola de ferro, eu houvesse sido lançado para fora do espaço e do tempo, tentando cruzar uma barreira há muito esquecida por quem já se habituou a voar, claro, sem asas. Pela primeira vez desempenhava uma viagem e a estrada não estava lá, arrancada de sua nobreza e santidade, não havia nada nas nuvens que lembrassem as rodovias que ligam cidades e corações como artérias de concreto e poeira, e lentamente as nuvens iam assumindo para mim um tom enegrecido, um tipo de deserto particular, um inferno próximo ao céu, uma cor azul de um vazio anômalo, entediante, sinistro até. O céu não te permite visões. Eu estava próximo de meu destino, sem sentir que havia realmente deixado algum lugar, e mesmo quando revolvia meus pensamentos a algo menos terrível, alguma turbulência me trazia de volta do meu caos interior e eu encarava a paz infinita lá de fora, o avião sacudia e sacudia, e eu murmurava para que apenas eu pudesse ouvir: “caia de uma vez, caia, apenas dessa vez, caia, maldição”. Ele não caía, e do meu lado via a senhora olhando para mim com um misto de espanto e reprovação no olhar. Pelo visto eu não murmurei baixo o suficiente. Eu ri, meu primeiro sorriso desde a decolagem. Caras como eu não deveriam viajar de avião. Senti uma saudade enorme do garoto que não decolava e caía n’água, mas ri porque sabia que lá embaixo haveria uma estrada pra mim como há para todo mundo.

A melhor canção de amor já composta?

Leonard Cohen: "One of Us Cannot Be Wrong".




Perfeita.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...