segunda-feira, 26 de abril de 2010

Canção da Jovem Louca


Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para
a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo
do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Sylvia Plath

Tradução de Maria Luíza Nogueira

Mr. Seigal

"Mas você tem que me dizer, Mr. Seigal
Como é que os fracos são tão fortes?”

Mr. Tom Waits, sempre tão lúcido.

Novela

Porque ele não tem ritmo
Fica sentado sozinho em casa;
Porque ele não tem ritmo
É o cara mais solitário na cidade.

sábado, 24 de abril de 2010

A estrada e uma certa idéia absurda de Infinito

Ela me mandou parar de reclamar do ruído do motor de sua motocicleta (ou sua Chopper, sei lá), disse que ela era velha mesmo e era melhor eu me acostumar, essa seria a carona. Tirei um dos fones de seu ouvido e coloquei no meu, escutava Koko Taylor, claro. Falei pra ela de uma noite num copo sujo em Curitiba que tinha Koko Taylor na jukebox, aquilo era inacreditável e daí...ela me manou parar. Odiava caroneiros que contavam histórias. Justo. Entendo ela. Perguntei se devia ficar calado. Sim, mas ela preferia observadores a contadores de histórias, que tudo que fosse dito se restringisse ao que acontece agora, ao que vemos, sentimos e fazemos, e não ao passado glorioso. Veio aquele gosto amargo. Na primeira estória que contasse, seria impiedosamente atirado na estrada, fora da motocicleta (da Chopper - algumas pessoas são muito sensíveis quanto às palavras e as coisas) e fora do sonho. Então me calei. "O silêncio é sexy", disse. E o espirito estava ali. Então seria assim. Eu deveria me comportar como uma Sherazade às avessas, ameaçado de ter a cabeça cortada logo na primeira estória, condenado a mante-la desperta atenta como um observador dos fatos, dos mais ordinários aos mais fantásticos, mas apenas aos fatos. E assim atravessaríamos o continente, a doce Terra, acompanhados de musica e do ruído de um motor surrado, olhando sempre pra frente, pra frente...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tabacaria

Esse trecho está no finzinho do poema, e muita gente não chega por não gostar de poemas grandes... Mas eu amo esta parte, assim como amo o todo.



Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

Fernando Pessoa.

E a falta de inspiração continua...

Impossível escrever aqui. A não ser que alguem queira ler sobre Mead e microssociologia. Enquanto isso, vou postando coisas alheias, que eu gosto. Espero logo voltar a retirar poesia do fundo de uma garrafa de qualquer coisa, ou quem sabe colhê-la dos lábios de alguém... Até lá.

VAUDEVILLE

(letra: Nenê Altro)

E quem disse amor, que não há charme
nos garotos com flechas nas pálpebras?
E quem disse amor, que quebrar vidraças
e não ter certeza de mais nada
não aquece o peito?

Outra bebida então.
Tudo bem.
Café seco beija a garganta
quando a cidade acorda e a luz queima
nossos passos de volta pra casa.

"Me conta teus desejos". Ele diz.
"Sabe, eu tento o meu melhor
só para te ver bem e em tentação".

Diz por que não querer
Tolice não deixar chegar tão longe.

É poesia amor, não é medo.
Por quê segredo e por quê não falar?
Se teu sorriso é o que mais desejo
e teu pecado é o que mais me importa.

Este mundo não merece a nossa tristeza
e se é a vida então, não há porque deixar de ser.

Diz porque não querer.
Tolice não deixar chegar tão longe.

Minha culpa,
minha máxima culpa... é tão nossa,
pois quem disse amor que não há
charme nessas flechas que se beijam
quando dormem os medos?
E sabe amor, já não há
como conseguir parar todos os erros
viciados que aprendemos.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A Hora do Lobo (ou Quando o sono não chegar)

E tem aquele filme do Bergman em que o Max Von Sydow é um escritor que não consegue mais dormir, porque ele teme o anoitecer, a hora em que as sombras tomam conta de tudo e o silêncio faz com que você duvide dos sons que você ouve, e o jeito é ele ficar acordado a noite inteira; Você percebe que o cara está pirando, imagina, semanas dormindo cada vez menos, ele obriga a sua companheira a ficar acordada pra manter ele acordado, o desgaste físico, emocional é enorme. Existem seres a espreita que só saem à noite, na hora do lobo, e derrubam coisas, fazem barulho, ameaçam simplesmente com a possibilidade de serem reais. Mas na verdade ele está atormentado pela culpa de algum crime cometido nessa hora sombria, algo do qual ele não mais quer fazer parte até que, finalmente surtado, ele é arrastado de volta para a escuridão, abrindo mão de recuperar sua paz e seu sono, mas a loucura é um caminho sem volta. A insônia é uma cortesã serva da loucura e do mal, e não adianta deixar a luz acesa pois um breve piscar de olhos basta para que você encare sua face horripilante. Real como só o medo pode ser, uma face vazia na escuridão de um quarto. A voz do nada, foi isto que escutei quando silenciaram todos os gritos. A hora do lobo. Terrível ter que escolher entre o pesadelo e a insônia.

Sem assunto e sem sono


Tenho me ligado em geometria.
A menor distância entre dois sorrisos é um beijo.
Deve ser.

Sem assunto...

"Pois o banheiro é a igreja
De todos os bêbados..."

A coisa mais beat que o Cazuza escreveu.
Faltou dizer que a privada é o altar.

domingo, 11 de abril de 2010

Cantada

Você é mais bonita que uma bola prateada
de papel de cigarro
Você é mais bonita que uma poça dágua
límpida
num lugar escondido
Você é mais bonita que uma zebra
que um filhote de onça
que um Boeing 707 em pleno ar
Você é mais bonita que um jardim florido
em frente ao mar em Ipanema
Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobrás
de noite
mais bonita que Ursula Andress
que o Palácio da Alvorada
mais bonita que a alvorada
que o mar azul-safira
da República Dominicana

Olha,
você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana

- Ferreira Gullar

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Polly Jean Harvey


 
No período mais “rocker” da minha vida, ela era minha Billie Holiday. Sempre amei o jeitão “outsider” das suas musicas, sua voz ora rasgada como um blues cortante, ora suave e delicada em melodias sensíveis, às vezes quase sussurrando um convite. E nem precisa dizer que sempre achei bem sexy essa mistura de sarcasmo, doçura, melancolia, sua inteligência e atitude; Ficava ali no chão deitado por horas escutando seu álbum mais recente, falando sobre as delícias e perigos de Nova York, ela, uma britânica que se deixa encantar por essas coisas, Robert De Niro ou o Empire State Building. E Polly Jean era cheia de sensualidade também, quando queria, insinuante, provocativa. Como ignorar o duplo sentido de “Deixe-me cavalgar em sua graça por um instante”? E quando ela canta sobre seu amante negro em “Meet Ze Monsta”?  Ela era minha Billie Holiday, minha amante encantadoramente sombria, feroz, excitante e brilhante, e hoje, ouvindo de novo suas musicas, tenho vontade de voltar àqueles dias. Fico escutando sua guitarra gemendo, quase fazendo sexo com sua voz em alguns momentos. E fico imaginando coisas perigosas.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Canção da saudade

Quando foi que cortaram as minhas asas e eu nem percebi?
Que faca foi essa que usaram,
Que fez com que as cicatrizem queimem até hoje?
Afinal, pra onde vão aqueles pássaros que sobrevoam o mar?
Pra onde vai a solidariedade proletária, fracassada a revolução?
A primavera dos povos se foi,
Nos resta então o inverno dos corvos e a dialética dos porcos?
Quem me ensinou essas preces loucas que eu repito
Só em meu quarto depois de doses de conhaque?
"Suave é a chuva fina que perturbou a minha calma";
Essas palavras acaricam minha face e me aquecem,
Como uma lareira para minha alma torpe,
Embrutecida por ter falhado na simples tarefa
De apanhar as crianças no campo.

Não se preocupe...

Não, você não lotou minha caixa de e-mails. "Lotar a caixa de e-mail", inclusive, tornou-se já obsoleto nessa era de e-mails de capacidade infinita. Mortal nenhum utiliza mais de 10G em e-mails, mas eles estão aí. Assim, nunca conhecemos o limite, e nunca o ultrapassamos, nos contentamos com a ilusão da transgressão. E como conheceremos nossos limites se não chegamos até ele? Não interessa. Auto-conhecimento não está muito em voga. O importante é nos sentirmos livres, ilimitados, como se tudo pudesse continuar crescendo, avançando, infinitamente. Tecnologia, drogas, sexo, juventude, tudo está ficando ilimitado. Nunca terei o prazer de abrir minha caixa de e-mails e perceber que não cabem mais mensagens lá de tanto que você me escreveu. E eu perderei a oportunidade de, através do choque, ter mais uma prova física do quanto você se importa. Não importa quantos e-mails houverem, ainda há espaço para muito mais. Sempre haverá. E nunca conheceremos a dose derradeira de coisa alguma nem por um segundo notaremos nossas sombras estafadas por um dia que não deveria ter sido, mas pelo qual passamos, sobrevivemos e sabemos que não irá se repetir. Estamos na contramão de tudo mais uma vez. Alguns físicos estão certos de que o universo é finito. Cuidado, em breve nos chocaremos contra o muro de concreto de nossas mais loucas ambições, já sem combustível para a viagem de volta.

"Jamais saberemos o que é suficiente enquanto não soubermos o que é mais que suficiente".

- William Blake.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Muito importante:


"Seja paciente com tudo que não está resolvido em seu coração, e tente amar as questões por elas mesmas. Não procure pelas respostas que não podem ser dadas, pois você não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo o que há. Viva as perguntas agora e talvez, sem se aperceber disso, algum dia, você conviverá com as respostas"

Extraído de: Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta.

- Hoje isso é tudo que quero, tudo que almejo.

domingo, 4 de abril de 2010

Registro de uma noite


Quando eu olhei para o lado, vi alguns rostos felizes que também me faziam feliz, isso me marca graciosamente toda vez que acontece. O que dizer de noite tão audaz, que nos pegou pela mão e sempre que o pensamento de desistir apareceu, havia algum sussurro para mandá-lo pra longe? Noites assim fazem o inexplicável ganhar um sentido, nem que ele dure somente aquela noite. Mas a recordação, essa fica guardada em algum recanto seguro, como uma carta que você guarda num local mágico longe das traças do desengano. Noites assim celebram a si mesmas por existirem, você não precisa forçar nada e tudo que você tem a fazer é se jogar. Ir. Não, a vida nem é assim tão fácil, mas nós podemos fazer parecer. Simples, deliciosamente simples...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...