quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O excesso de luz que sempre cega

            Nos lugares escuros que não precisam de luz, onde a luz seria uma mentira, dando relevo excessivo ao que melhor se compreende quando mantido invisível, é possível resistir ao puxão do Tempo. O corpo envelhece, morre, mas a mente é livre. Se o corpo é pessoal, a mente é transpessoal, sua amplitude não é limitada pela ação nem pelo desejo. Sua amplitude não é limitada pela identidade.
            Preciso dos lugares escuros pra me livrar do senso comum. Para ultrapassar o presunçoso círculo da luz elétrica que supõe iluminar o mundo.

(Jeannete Winterson - Arte & Mentiras)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Áspero; direto ao ponto.

"Prova minha boca em teu ouvido"
Prova a realidade se desmanchando
Em correntes de sensações infinitesimais
Prova meu engano contra tua certeza
Minha chaga contra teu peito
Prova meu tormento em tua paz
Deixa-me
Provar  a crueza do teu corpo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Provaremos as ilhas e o mar

sei que em alguma noite
em algum quarto
logo
meus dedos abrirão
caminho
através
de cabelos limpos e
macios


canções como as que nenhuma rádio
toca


toda a tristeza, escarnecendo
em correnteza.



(Charles Bukowski)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Reverendo Gary Davis.



"keep your lamps trimmed and burning". Amém!!

"(...) Com seus truques de malabarismo/com seu cinismo incompreendido//ela vai pisar com suas sandálias de névoa/em meu coração"

(Foto de: Laurence Tarquin Von Thomas)

Perdas e retratos

Não sou do tipo que põe suas lembranças em altares; Tão pouco minhas cicatrizes ficam expostas. E, embora meus erros fiquem claros à luz do dia, é a noite que revela o que tenho de melhor e de pior. É quando aspiro a fumaça, lanço-a pra dentro do copo de whisky e trago de volta. É quando me perco em meus próprios gestos gentis. E colho os frutos que já nascem apodrecidos destas escolhas erradas. E eu sei que não há virtude minha que seja capaz de reparar tamanho estrago. Então baixo as persianas, me recolho a uma trégua inevitável. Cuido de minhas feridas com poesia, filmes e musica, e quando escuto “Don’t let it bring you down”, mobilizo minhas armas não para tentar voltar atrás, mas para demonstrar o quanto sinto. E, se houver quebrado algo, recolherei os cacos. De minhas perdas, não faço troféus. De minhas perdas, que já são tantas, não tenho sequer retratos.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...