quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Das Pétalas Amadurecidas

Texto de minha etérea amiga Thalita Sophie, que se abre mais ainda aqui: http://paroi-de-lamentation.blogspot.com/
Simplesmente linda.

Das pétalas amadurecidas

Um corpo em cima de uma vida macia e morena de areia e água de sal
vento de narinas que sentem
Que esse cheiro que vem da minha pele é necessidade de abertura

As pernas se amolecem
As suas se esticam sobre as minhas

O cheiro da sua pele, dos pêlos, dos cabelos
Convidando-me a abrir mais
e eu abro

Mão do meu domingo silencioso
e dos cafés e da insônia
e do meu quarto organizado e dos livros e dos
cigarros

abro
as portas, as vidraças, a couraça
Abro as pernas, te enrolo nos braços
O sol entrando em raios pela fresta da janela
que eu vou abrir quando me levantar daqui...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O amor é de performances e exibições, algumas gratuitas, outras nem tanto. Eu sei disso. Ali, em plena escuridão da casa, enquanto minha mãe, única habitante além de mim, dormia, eu me exibia num palco sem público. Agarrado ao telefone com o mesmo ardor de um monge ao santo crucifixo, eu escutava a voz dela em êxtase religioso. Ela talvez suspeitasse de minha devoção. Em nossos melhores momentos, éramos capazes de confissões dissimuladas, fantasiadas de trivialidades, mas plenas de significados. O essencial não era nunca dito de maneira direta, mas já conhecíamos a dificuldade de ambos em expor o que havia de mais profundo. Com a sabedoria de antigos como Sêneca, tínhamos consciência de que “os prazeres leves são loquazes, as grandes paixões silenciosas”. Como consequência do mutismo, em parte auto-imposto, em parte natural, eu deixava esse amor exibir-se nu e sem vergonha, mas sem ser visto, já que o aparelho que levava a ela minha voz não desenhava formas. Enquanto isso ela falava de suas vidas e seus sentimentos, e de como ela achava que amar se assemelhava a abrir uma garrafa térmica que você imagina estar cheia de café, e descobri-la vazia, e aquele sentimento que vai do êxtase à frustração seria o que chamamos de amor; eu escutava aquelas palavras com a disciplina de um boxeador diante do técnico, meneando com a cabeça afirmativamente, quando minha vontade era me enforcar nos fios daquele telefone e imortalizar aquele momento e aquele sentimento de alguma maneira, morrer como um mártir desse amor por você, sem palavras ditas ou escritas, apenas mais uma performance desta paixão abstrata e ao mesmo tempo tão sensível. Tivesse feito isso, não estaria hoje escrevendo estas linhas tortas, desnecessárias no oásis dos corações dos apaixonados.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...