Ora, e de que
adianta que eu me aproveite neste instante de pequenos eufemismos circulantes para
expressar este amor? Chegas até mim devastadora em teus saltos altos e olhos
arrebatadores e esperas comedimento de minha carne? És os últimos degraus da
escadaria que subo suplicante de joelhos, és minha derradeira parada, minha
última tentativa de ser santo. Nos desolados estaleiros da noite, canta o bardo
a canção que fiz para ti em desespero. Não fosse por ti, ainda estaria sóbrio,
esta e tantas outras noites. Não fosse por ti, seria apenas uma vela acesa, e
não centenas. Não fosse por ti, seria a morte a que tanto anseio e não esta vida, com
meu desejo resplandecendo na noite. Não sejamos hipócritas. Há santos que
morreram por motivos bem menos nobres e até hoje são lembrados. E só o que
importa é que agora aqui corre sangue e outros tantos fluídos que nem sei se
são meus. E desculpe por estar falando de fluídos em linhas que só deveriam
conter sentimentos, mas afinal creio que não sei separar as coisas como se
pertencessem a mundos diferentes. Tudo passa pelo sexo, pelo instinto e no fim
por fluídos trocados e celebrados em idas e vindas escaldantes. E de nada me
serve florir de atenuantes verbais estas indecências: é de seu corpo colado ao
meu, incendiando minhas entranhas, que preciso. E para o inferno com tudo
aquilo que é morno. Em minha cama entenderás que esta calma que vês só existe três
polegadas acima da pele.
domingo, 27 de maio de 2012
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Um comentário:
Forte e bonito.
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