domingo, 27 de maio de 2012

Ode


Ora, e de que adianta que eu me aproveite neste instante de pequenos eufemismos circulantes para expressar este amor? Chegas até mim devastadora em teus saltos altos e olhos arrebatadores e esperas comedimento de minha carne? És os últimos degraus da escadaria que subo suplicante de joelhos, és minha derradeira parada, minha última tentativa de ser santo. Nos desolados estaleiros da noite, canta o bardo a canção que fiz para ti em desespero. Não fosse por ti, ainda estaria sóbrio, esta e tantas outras noites. Não fosse por ti, seria apenas uma vela acesa, e não centenas. Não fosse por ti, seria a morte a que tanto anseio e não esta vida, com meu desejo resplandecendo na noite. Não sejamos hipócritas. Há santos que morreram por motivos bem menos nobres e até hoje são lembrados. E só o que importa é que agora aqui corre sangue e outros tantos fluídos que nem sei se são meus. E desculpe por estar falando de fluídos em linhas que só deveriam conter sentimentos, mas afinal creio que não sei separar as coisas como se pertencessem a mundos diferentes. Tudo passa pelo sexo, pelo instinto e no fim por fluídos trocados e celebrados em idas e vindas escaldantes. E de nada me serve florir de atenuantes verbais estas indecências: é de seu corpo colado ao meu, incendiando minhas entranhas, que preciso. E para o inferno com tudo aquilo que é morno. Em minha cama entenderás que esta calma que vês só existe três polegadas acima da pele.

Um comentário:

Vanessa disse...

Forte e bonito.

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