sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A Última Declaração



Eu quase te amei. Faltou pouco. Foi por bem pouco, na verdade. Talvez tenha sido até por acaso que não tenha te amado. Se eu tivesse segurado sua mão enquanto você entrava naquele táxi, poderia ter sido, mas... o motorista me perguntou algo, eu desviei o olhar, você fechou a porta e partiu, sem que eu tivesse te amado. Foi quase, mas eu não te amei. No máximo, podemos dizer que me entreguei sem medo e com ardor, com a fúria incontrolável de uma manada de búfalos, com um prazer quase assassino, mas não te amei. Invadi o templo do seu corpo com sede e fome de tudo que era você, lancei promessas desesperadas ao seu ouvido, mas não pude dizer “eu te amo”, pois que eu não te amava, mas foi quase. Havia algo. Fui perverso e santo a um só tempo, reconheci em ti o que reconhecia de melhor e de pior em mim, mas não te amei. Existe algo nas estórias de amor que eles contam, uma pedra fundamental que une definitivamente os seres que amam, e este algo não nos visitou todo aquele tempo que estivemos juntos. E esse desconhecido ente surgiria fatalmente em algum momento se permitíssemos que esse tempo viesse, mas, quando você disse que iria embora, eu sabia que aquilo era definitivo. Furtivamente, quis que você ficasse. Talvez fosse o tempo de mais um drink. Ou um café. A gente poderia ter escutado junto sua banda preferida e elegeríamos uma musica para ser a “nossa música”; mas você queria ir. E eu não segurei sua mão. E eu não te amei, de verdade. Não sei se foi melhor assim. Eu ainda não sei o que você queria. Eu não me importo se você saiu satisfeita. Porque não houve nada no mundo que fosse mais perfeito. Apenas posso imaginar que algum dia, em algum momento de distração, eu acabaria por te amar. E eu cairia como caiu o mais nobre dos anjos. Mas eu quase te amei. Ali. Em algum lugar entre o gozo e a exaustão, eu olhei dentro de teus olhos. E vi tudo aquilo que eu desejava, tudo que precisava, mas não vi o amor. Mas você estava tão bonita que poderia ser minha última visão antes da morte. Sem orações, sem vida passando diante dos olhos, sem amor, sem nada. Apenas você, fugaz, trêmula, subterrânea, diante dos meus olhos.


3 comentários:

Vanessa disse...

É uma bela declaração de amor.

Adriana da Silva disse...

A gente sempre só quase no amor, porque ele inteiro já não cabe mais.

Jorge Leandro Carneiro disse...

A tristeza do talvez é a pior de todas.

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Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...