segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A ética breve dos afogados

Aliados até a morte.
Cúmplices de um crime muito bem executado.
Comunicamo-nos mesmo em silêncio,
Enquanto assistimos nossas almas torturarem-se
Com as fantasias escondidas de olhos vulgares
Ou desnudas sob o véu embriagador da noite;

Somos jogadores colecionando derrotas.
Sorrindo ante a inevitabilidade do fim.
Tristes apenas com o teor amargo das revelações
Que chegam, dia após dia, sob o efeito do álcool,
Das músicas e do amor e das decepções, todos tão presentes em nossas vidas.
Nossas vidas, de cujas ilusões a livramos
Apenas por esporte sadomasoquista de libertação.

Somos parceiros.
Trapezistas que se jogam sem confiar realmente
Que seremos seguros um pelo outro
No instante definitivo, derradeiro.
Mas certos de que nos afogaremos juntos
Quando descobrirmos que um de nós não sabe nadar,
Mas ainda assim entramos na água juntos
Porque em caso de desespero, é em seu pescoço que me agarro
E neste último momento, molhado, triste e profundo,
Poderemos até, quem sabe, nos beijar.

Aliados até a morte.
Nesse jogo de soma zero,
Nesta manhã zombeteira,
Nesta sala que esvaziada de móveis
Mantendo somente aquilo que nos interessa – (...)
Aliados até a morte, ou ao menos até o fim do verão.
O que vier primeiro.

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