sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre a arte de narrar (recomendo o livro)


"Se o sono é o ponto mais alto da distensão física, o tédio é o ponto mais alto da distensão psíquica. O tédio é o pássaro de sonho que choca os ovos da experiência. O menor sussurro nas folhagens o assusta. Seus ninhos - as atividades intimamente associadas ao tédio - já se extinguiram na cidade e estão em vias de extinção no campo. Com isso, desaparece o dom de ouvir, e desaparece a comunidade dos ouvintes. Contar histórias sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história. Quanto mais o ouvinte se esquece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido. Quando o ritmo do trabalho se apodera dele, ele escuta as histórias de tal maneira que adquire espontaneamente o dom de narrá-las. Assim se teceu a rede em que está guardado o dom narrativo. E assim essa rede se desfaz hoje por todos os lados, depois de ter sido tecida, há milênios, em torno das mais antigas formas de trabalho manual".

- O Narrador; Walter Benjamin.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Não deixe isso te abater


O bom e velho Neil...

Don't Let it Bring You Down


Velho homem jazendo ao lado da estrada
Com os caminhões passando
Lua azul pondo-se pelo peso da carga
E os prédios arranham o céu
Vento frio picando a fraqueza na madrugada
E o jornal da manhã voa,
Homem morto jazendo ao lado da estrada
Com a luz do dia em seus olhos

Não deixe isto te abater
São apenas castelos queimando
Encontre alguém que está mudando
E você dará a volta por cima

Homem cego correndo atravéz da luz da noite
Com uma resposta em sua mão
Deça até o rio da visão
E você pode realmente entender
Luzes vermelhas brilhando atravéz da janela na chuva
Você pode ouvir as sirenes gemerem?
Bengala branca deitada em uma sarjeta na pista
Se você estiver caminhando para casa sozinho

Não deixe isto te deprimir
São apenas castelos queimando
Encontre alguém que está mudando
E você dará a volta por cima

Não deixe isto te deprimir
São apenas castelos queimando
Apenas encontre alguém que está mudando
E você dará a volta por cima

Beijo em William Lawson em versos

Por que eu não procurei escapar à solidão
Ela me tocou
E me deitou em seu colo
Em uma colcha de ilusões nos deitamos
E, como num sonho,
Nos misturamos,
Eu, a Solidão, e uma garrafa de whisky
Ao som de um blues.

Perfeitos, eternos e tristes
Com nossos olhares melancólicos e sem sentido:
Eu, o whisky, e uma garrafa de blues
Ao som lisérgico da solidão.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

brutal

Não queria essa chance de me mostrar descrente. Queria sim esse tom triunfante de um happy end. Essa explosão silenciosa dentro do peito dos contentes. Não tenho essa sorte. Essa herança sangrenta que me confiaram sem dar a mínima pra minha recusa determinada. Queria sim, a possibilidade do milagre, de fazer dessa escrita atormentada um gozo perene. Queria essa pluralidade de possibilidades que me redimisse das noites mal dormidas, das discussões sem fim dos botecos madrugada adentro, da impaciência com as pessoas que mais amo. Queria sim me mostrar subordinado à mera corrente dos acontecimentos. Mas eu encharco esse texto com asperezas que de maneira nenhuma podem me tornar agradável. não tenho esta sorte. Queria sim a redenção dos shoppings, o sabor agradável do vinho mais suave, mas não tenho essa sorte. Essa ferocidade do olhar que celebra meus movimentos mais duros.

-Mario Bortolotto

sábado, 17 de setembro de 2011

O homem e o trompete

              Chet Baker

Novidade

O que há de novo
É que uma fome não passa
E a outra não vem nunca;
Uma me devora
Enquanto esta outra debilita;
A primeira tem a ver com o inferno,
A segunda talvez seja um castigo do céu;
Há essa fome que jamais é saciada,
O desejo dos tolos;
E há esta fome por nutrientes,
Que devia existir para todos.
Sou comandado por esta fome em meu coração,
E definho a cada dia por esta que falta em meu estômago.
A novidade?
Não há contradição nenhuma entre elas.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

knock out

O que acontece é que nem tudo acontece em seu devido tempo. É uma mentira que se aprende cedo, é só isso que sei. Algumas coisas vêm tarde demais, e muitas passam pela gente quando não estamos maduros o suficiente para agarrá-las. E tudo o que te resta é a companhia de uma garrafa de vinho e cigarros e a vontade de escrever sobre isso algum dia, seja de uma maneira discreta ou visceral, Bukowski ou Raduan Nassar não tem muita diferença aqui, não com este propósito, não quando sua única intenção com isso é esperar o fim do mundo de uma maneira razoavelmente digna. Mas a vida é áspera, você não se deita sobre ela sem alguns arranhões. Não é possível se esquivar quando a realidade te acerta na cara, e ela faz isso sempre, desde que você dê a cara a tapa. E nem vai adiantar se pavonear de toda essa segurança, coragem, capacidade de rir de si mesmo e todas essas merdas dos manuais, porque depois que o golpe vem, você só se dá por si quando percebe aquelas pessoas te levantando do chão. Ah, e isso supondo que você tenha quem te levante. É o melhor dos mundos, porque o esperado é que não tenha ninguém lá. Mas como comecei, as coisas não tem um tempo para acontecer, no máximo você tem um tempo para se adaptar a elas, um tempo de reação que não é maior que um round, ou menos. O tempo não perdoa a inércia, mas a falha pode ser recompensada com uma boa lembrança de ao menos haver tentado. Tudo isso pode não fazer nenhum sentido, sinto não poder ser diferente, lembre-se de que esta carta é de alguém traído pelo tempo, e ademais, “a coerência é a virtude dos imbecis”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Christmas Card From a Hooker in Minneapolis

Algumas pessoas não entendem que essa música é sobre ternura.




Cartão de Natal de uma Prostituta em Minneapolis

Hey Charlie, estou grávida
E morando na nineth street
Bem em cima de uma livraria suja
Saí da avenida Euclid
E parei de usar drogas
E deixei de beber whiskey
E meu velho homem toca trombone
E trabalha sem parar.

E ele diz que me ama
Mesmo que o bebê não seja dele
Ele diz que irá criá-lo
Como se fosse seu próprio filho
E ele me deu um anel
Que foi usado por sua mãe
E me leva pra dançar
Todo sábado a noite.

E hey Charlie, eu penso em você
Toda vez que passo por um posto de gasolina
Por causa de toda graxa
Que você usava no cabelo
E eu ainda tenho aquele disco
De Little Anthony and the Imperials
Mas alguém roubou meu toca-discos
O que você acha disso?

Hey Charlie, eu quase enlouqueci
Quando Mario faliu
Então eu voltei para Omaha
Pra viver com meu pessoal
Mas todo mundo que eu conhecia
Estava morto ou na prisão
Então eu voltei pra Minneapolis
Dessa vez acho que vou ficar.

Hey Charlie acho que eu estou feliz
Pela primeira vez desde meu acidente
Eu queria ter todo o dinheiro
Que nós costumávamos gastar em drogas
Eu compraria um pátio de carros usados
E não venderia nenhum deles
Eu apenas dirigiria um carro diferente
Todo dia dependendo de como
Eu me sentisse.

Hey Charlie,
Pelo amor de deus,
Quer saber a verdade?
Não tenho um marido
Ninguém que toque trombone
E eu preciso arrumar dinheiro
Pra pagar esse advogado.
E Charlie, hey,
Eu estarei aceitável para a condicional
Vem chegando o dia dos namorados.

domingo, 4 de setembro de 2011

Cinema e guerra

O jesuíta alemão Athanassius Kircher foi o autor da obra Ars Magna Lucis et Umbrae (A grande arte da luz e sombras), compêndio sobre ótica, "magia natural" e outros truques capazes de ludibriar os olhos, que data do século XVII. Muitos, influenciados pela leitura desta obra se encantaram pela arte da captura e projeção de ilusões imagéticas através de espelhos, cameras obscuras e outros artifícios.
A edição original do seu livro é dedicado ao arquiduque Ferdinando, filho do Imperador austríaco Ferdinando III, de quem Kircher era o protegido. O Imperador admirava muito a erudição e as curiosas aplicações das teorias óticas do jesuíta, que tem seu nome associado à evolução daquilo que viria a ser o cinema.
Dois séculos depois deste livro circular pela Europa, a mesma veria estourar uma guerra (ao vivo, não em uma tela de cinema) entre suas principais potências. Uma guerra que teve como estopim o assassinato. Do Arquiduque Francisco Ferdinando. Futuro sucessor do império austríaco. Na cabeceira da sua cama, uma cópia de Ars Magna Lucis et Umbrae, legado de Kircher.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...