sábado, 28 de setembro de 2013

Esta Noite, Nada


E este nada,
me foi deixado como herança.
Um presente sutil, quase invisível,
daquele que me concebeu.

Este nada,
eu guardo com apreço
e ainda que atire fora meus livros e discos
este nada seguirá comigo.

Me espanta sua pretensão
de achar que,
me deixando de lado,
ignorando meu desejo, você seria a primeira
a me deixar como lembrança
uma caixa cheia de nada:

Este foi meu primeiro presente.
Pra mim, era esta a face de Deus
o significado do amor,
o sentido da vida.
Nada.
Perfurando minhas veias,
Enchendo meus pulmões,
alimentando-me na cela vazia.

Os cães dormem tranquilos esta noite
porque sabem que estão sozinhos.
Se eu tenho alguma esperança,
agradeço a esta infâmia que herdei,
o nada,
seu conforto,
seu teor alcoólico e,
no fim das contas, a sinceridade de seu desprezo.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013



Eu vejo que essa noite as folhas nas árvores não se movem. Só eu as vejo? Vejo também ela, que brinca com o isqueiro entre os dedos, enquanto mantém o cigarro preso à boca. Mas isso eu sei que mil homens também veem, olhos postos sobre ela. Vejo o tamanho de suas unhas e lembro do fio de seu corte, e sei que isso eles não podem ver ou saber. Vejo seus olhos se acenderem às primeiras notas de uma certa canção e isso ainda me emociona. Na noite que avança, se amplia e escurece engolindo a tudo e a todos tornando todos os gatos pardos e todas as virgens lascivas, imolando a inocência em altares pagãos, vejo-a lançando seus sinais confusos que seduzem, comovem e atormentam. Vejo seus cabelos que exalam perigos. A palavra que sai de sua boca rima com qualquer outra, seja desejo ou crueldade. Vejo o que mais ninguém vê. Uma tragédia que se anuncia, uma cor a que não deram um nome, um espelho prestes a se partir. Vejo-a brincar com a chama do isqueiro com que ela brinca entre os dedos, com a doçura meiga de uma criança. Vejo como tudo isso é tênue, a fugacidade deste e de todos os outros momentos. Vejo que ela se importa comigo. Vejo que eu não devia querer mais do que isso. É o medo o que me move, é a certeza que me detém e nisso estou apartado de todos os outros seres de minha espécie. Irei ao seu encontro enquanto houver uma ponta qualquer de dúvida solta nestes retalhos acetinados e espero que sempre haja. Espero que numa noite qualquer, numa noite como aquela, a loucura irrompa, as vontades corram como cavalos selvagens, para adormecerem por mil anos depois, se preciso for. Deixo que minhas visões me embalem, como a uma criança que conta as estrelas antes de pegar no sono.

(Foto: Anna Aden)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Querer Ser Anjo


(por Adriana Silva - Aqui)

"Queria poder soprar para dentro daqueles que amo o conforto que nem eu mesma sinto mas que sei que reina em algum lugar deste universo porque eu amo e só porque há o amor posso inferir a calma de um lugar onde sopra uma brisa fresca de paz e o sofrimento é para sempre varrido como poeira para dentro de um bueiro de onde não saem insetos apenas sopram mais sopros de amor, mas neste mundo em que me debato em paredes de concreto de um quarto pequeno demais para tudo o que eu quero e de onde me grita uma janela com vista para lugar algum e com voz de moto-serra amo e vejo quem amo sofrer. Queria ser o anjo do sopro da paz dos meus amados e voar para abraçá-los quando o choro ameaçar cair."


Um sopro que veio essa tarde e não me abandonou. O acaso, neste caso, foi meu amigo. Obrigado.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...