Edward Hopper - Soir Bleu
"Amor, cerimônia ontologizante, doadora de ser. E
por isso lhe ocorria agora aquilo que, na verdade, deveria ter lhe ocorrido
logo no início: Se alguém não tem domínio sobre si, jamais poderia ter
alcançado a singularidade. E, afinal, quem é que se dominava de verdade? Quem é
que tinha a perfeita consciência de si, da solidão absoluta que significa nem
sequer contar com a própria companhia, que significa ter de entrar num cinema
ou num bordel, ou em casa de amigos ou numa profissão absorvente ou, ainda, no
matrimônio para estar, pelo menos, só entre os demais? Assim, paradoxalmente, o
cúmulo da solidão conduzia ao cúmulo do gregarismo, à grande solidão das
companhias alheias, ao homem só na sala de espelhos e ecos."
- Julio Cortázar, em "O Jogo de Amarelinha", fragmento 22.
Nenhum comentário:
Postar um comentário