quinta-feira, 22 de agosto de 2019
Na Ponta de Meus Dedos, Ela
Naquele primeiro dia, eu voltei para casa e o cheiro dela ainda estava grudado em meus dedos, e eu sabia que ele ainda estaria pela manhã quando eu acordasse. Lembranças, como cheiros, também grudam na gente. Talvez um dia as lembranças dessas noites e de tudo que ainda podemos ou poderíamos fazer se dissipem de mim. Talvez não. Hoje me basta sorver a seiva doce desses encontros e de tudo que eles significam. Encarar teu sorriso como um instante de paz que você me permite. Tocar-te e te queimar com meu fogo só pra ouvir teus suspiros como uma musica numa cadencia que me contagia como um samba. Nossos beijos como passagem só de ida pra um lugar só nosso onde apenas isso importa. Um dia, essas lembranças terão algum outro significado. Mas, enquanto isso não acontece, eu sigo pelas mesmas ruas vazias de madrugada – garrafa de cerveja numa mão, um olhar sonso e na boca algo entre um sorriso e um suspiro. Pessoas que passam por mim me olham com a indiferença de sempre, uma ou outra talvez apenas tentando descobrir porque não paro de cheirar as pontas de meus dedos.
(Rodrigo)
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