sábado, 30 de março de 2013
O Veneno
O vinho sabe cobrir o mais sórdido puteiro
De um luxo milagroso,
E faz surgir mais de um pórtico fabuloso
No ouro de seu vapor vermelho,
Como um sol que se põe num céu nebuloso.
O ópio amplia o que não tem contornos,
Alonga a imensidade,
Aprofunda o tempo, cava a voluptosidade,
E de prazeres negros e mornos
Enche a alma para além da sua capacidade.
Tudo isso não vale o veneno que emana
Dos teus olhos verdes, olhar perverso,
Lago onde minha alma treme ao inverso...
Meus sonhos vêm em caravana
Matar a sede no amargo abismo imerso.
Tudo isso não vale a terrível miragem
Do que tua saliva corte,
Mergulha na ausência a minha alma sem sorte,
E, carreando a vertigem,
Arrasta-a desfalecida até a margem da morte!
(Charles Baudelaire)
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