"As ninfas giram como moscas neste espaço sem nome, mas você é a Abelha Rainha que eu desejo. Deslumbraram-me os seus olhos, o inferno que te habita. Farei que estranhe o meu delírio. Minha verga atravessará o seu sorriso e inundará o seu vazio como um deus perverso. Minha carne penetrará a sua carne, minha morte em sua vida, o meu silêncio em sua voz."
- Efraim Medina "Era Uma Vez o Amor Mas Eu Tive Que Matá-lo", trad.: Adriana Zapparoli. Estêncil: 7 Capetas
Noites longas. Repara
como há quanto tempo
és funcionário da vida
e te arrepia o que o mercado
possa fazer do teu produto -
antes ficar quieto, a olhar
para as estantes, tentando
perceber se não escreves
o poema por te faltar
a inspiração (se é
que gostarias
de saber o que te falta)
ou por todos os prazos vencidos
e o que contemplas
serem os avisos repetidos
de uma derrota previsível.
"Eu sou um solitário que sente falta de dividir, sabe como é? Mostrar uma música nova que acabei de ouvir, ler um trecho de um livro que me arrebatou. Falar "eu vi um filme ontem muito foda. Vamos lá ver hoje de novo?". Porque eu quero ver se ela se arrepia no mesmo momento que eu me arrepiei na primeira vez, tá ligado? O sexo é importante (aliás, é fundamental), as brigas são inevitáveis e inclusive deixam o castelo de pé, não sei se vocês já perceberam isso, mas o mais importante mesmo é você acordar no meio da noite com vontade de falar "caralho, tive uma ideia genial para um texto. Quer dizer, nem é tão genial assim, mas será que você tinha a manha de ouvir?" e andar abraçados na chuva, sem falar porra nenhuma e sentar num banco no final da tarde e imaginar telhados de Paris (Nei Lisboa), cervejas chilenas e motoristas de táxi que demoram pra chegar no nosso destino. É isso que me fode. Ah, se não fosse isso, seríamos todos muito felizes, sozinhos."
"Ain't no love in the heart of the city
Ain't no love in the heart of the town,
Ain't nomlove, sure 'nuff is a pity
ain'y no love 'cos you ain't around".
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Eunika Rogers - "Like Dandalions"
"Não há melhor túmulo para a dor do que uma taça cheia de vinho ou uns olhos negros cheios de languidez"
Pichei seu nome num muro
Junto com um pedaço de uma canção.
Escrevi certo por linhas tortas
E você não pareceu me dar atenção.
Deixei meu recado ali,
Torcendo para que ele fosse visto por toda uma multidão
Em meio a cartazes, gritos e placas, ele se destacava;
Uma representação pálida,
Uma tentativa fugídia de liberar um grito
Repreendido no fundo de meu peito, perdido
Nos irritantes erros que cometi em nome desta paixão.
Nada disso me incomodava enquanto,
De lata de spray em punho,
Inscrevia nas artérias da cidade que meu amor tinha nome.
Algumas letras que me cortavam o peito, arruinavam meu sono
e injetavam de sangue meus olhos.
A unica coisa que não consegui entender foi por que,
Vendo-me pichar no muro teu santo nome em vão,
Barulhentos transeuntes gritavam sem pudor:
"Violência, não".
"E eu que ri quando te espiei
Cantarolando em frente ao espelho;
A menina mais bonita com quem já feri meus ingênuos olhos provincianos".
(Jair Naves)
segunda-feira, 10 de junho de 2013
"Eu lembro bem de você no Hotel Chelsea
Você falava tão doce e bravamente
Fazendo-me sexo oral na cama desarrumada
Enquanto as limusines esperavam lá fora na rua
Esses eram os motivos e aquela era Nova York
Nós perseguíamos o dinheiro e a carne
E isso foi chamado "amor" por aqueles que fazem canções
Provavelmente ainda o é para aqueles que sobraram
Ah, mas você foi embora, não foi, Amor?
Você simplesmente voltou para o meio da multidão
Você foi embora e eu nunca te ouvi dizer:
Eu preciso de você, eu não preciso de você
Eu preciso de você, eu não preciso de você
E tudo o mais que isso envolve.
Eu lembro bem de você no Hotel Chelsea
Nós éramos famosos e seu coração era legendário
Mais de uma vez me disse que preferia homens bonitos
Mas que para mim você faria uma exceção
E cerrando os punhos para aqueles como nós
Que foram oprimidos por modelos de beleza
Você disse 'bem, não tem importância,
Nós somos feios mas nós temos a música'
Ah, mas você foi embora, não foi, Amor?
Você simplismente voltou para o meio da multidão
Você foi embora e eu nunca te ouvi dizer:
Eu preciso de você, eu não preciso de você
Eu preciso de você, eu não preciso de você
E tudo o mais que isso envolve.
Eu não quero insinuar que fui o que melhor lhe amou
Não posso salvar cada passarinho caído
Lembro bem de você no Hotel Chelsea
Isso é tudo, eu sequer penso em você com essa frequência."
"Nossa mente, Alonzo, é como uma grande e misteriosa casa, cheia de corredores, alçapões, portas falsas, quartos secretos de todo o tamanho, uns bem, outros mal iluminados. No fundo deste casarão, existe um cubículo, o mais secreto de todos, onde estão fechados nossos pensamentos mais íntimos, nossos mais tenebrosos segredos, nossas lembranças mais temidas. Quando estamos acordados, usamos apenas as salas principais, as que têm janelas para fora. Mas quando dormimos, o diabo nos entra na cabeça e vai exatamente abrir o cubículo misterioso para que as lembranças secretas saiam a assombrar o resto da casa. O demônio não dorme. E é quando nossa consciência adormece que ele aproveita para agir".
- Érico Veríssimo, "O Tempo e o Vento".
quinta-feira, 6 de junho de 2013
"A Wind Beaten Tree", Van Gogh.
Os finais dos dias são todos
parecidos, possuem o mesmo desfecho de um jeito ou de outro, os dias calmos e
os dias loucos, os dias de paz e os dias de guerra, em todos eles, eu termino com a
sensação de não haver chegado a termos comigo mesmo. A sensação de não
conseguir resignar-me e dizer: “então, és isso”. Ao menos compreender-me um pouquinho
mais que seja. E o que vem acontecendo é que eu me convenço cada vez mais que
eu devo abandonar tal pretensão, de realizar um acordo qualquer, por nefasto
que seja, com meu espírito. O que tem me impedido de fazer isso até agora, de
entregar os pontos e me deixar arrastar pelo turbilhão, é a certeza de que eu
sei como isso terminará. Não há solução possível para mim, não há outro fim que
não seja fechar repentino das cortinas. E é essa certeza que me leva a resistir
e, dia após dia, tentar chegar a termos com minha consciência. Pergunto-lhe o
que ela quer de mim, o que eu preciso fazer para conseguir um pouco de paz para
realizar minhas tarefas mais banais, para sorrir mais facilmente, para voltar a
minha vida. E a cretina me responde de volta apenas com sorrisos de
escárnio, com trabalhos irrealizáveis, ou apenas, depois de um dia estafante no
qual cumpro com todos os pontos de nosso contrato, me afasto da nicotina, álcool,
músicas, pensamentos ansiosos, depois de tudo isso, deito meu corpo sobre a
cama esperando que algo tenha mudado, que os fantasmas não estejam mais lá,
mas eles uivam ainda mais fortemente. E eu já sei que no dia seguinte terei
que me dedicar mais um dia inteiro tentando afugentá-los, além de cumprir as
coisas que deixei de fazer no dia anterior para tentar me curar, além de
acender cigarros atrás de cigarros, e além de distribuir sorrisos amarelos para
toda uma avenida de transeuntes que nunca cessam de passar. Eu não consigo
chegar a termos comigo mesmo. Mas eu preciso. Uma árvore tombada pelo vento. É como me sinto. Mas minhas raízes, estas, não me deixam cair de uma vez... espero poder contar com elas, de novo.