quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O belo já não me serve de morfina ou bálsamo


Depois de você, me vi obrigado a conter minha paixão pela arte. Não é que eu tenha sido tomado por uma aversão à esta; mas desde que ficou claro pra mim que eu jamais poderia ser mais nada para você, vejo a mim mesmo como uma banal representação de mim mesmo, e não mais como uma pessoa por inteiro. Sou um quadro pintado por um artista de mau gosto que exibe uma caricatura grotesca de alguém apaixonado. Uma fotografia velha de alguém que a nem tanto tempo assim costumava ser um homem. Escuto a mim mesmo e me parece que minhas palavras são a letra de uma canção que ficou sem a melodia. O que você tirou de mim foi a minha capacidade de apreciar qualquer beleza além da sua. Renoir's, Picasso's, Mozart's, Rimbaud's, Fellini's, afastem de mim seus curativos! Quero a balada mais melancólica de Billie Holiday e isto apenas. Quero minha embriaguez relatada por Bukowski. Sem seus enfeites, sem suas mentiras. Quero minha vida de volta ao que era antes dela, para que eu possa voltar a me inspirar nas sutilezas da arte, respirar a lascívia que brota entre os cabelos de uma mulher qualquer. Há tempos não leio um bom livro. Nenhuma foto que me encante. Nenhum filme que me surpreenda. Apenas a imagem repetida à exaustão de meu orgulho rastejando sobre o chão. O belo já não me serve de morfina ou bálsamo. É apenas uma mentira entre as tantas que já ouvi e as quais repito, releio e escuto todos os dias antes de dormir. Não direi mais nenhum poema até que me livre de uma vez dessa pedra que pesa sobre meu peito. Se não conseguir, este desabafo não será nada mais que o epitáfio de um afogado. 

Nenhum comentário:

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...