Hoje, dois dias depois de completar 31 anos, fui remexer na minha caixa de memórias. Se isso já é uma ideia ruim em qualquer momento da vida, é ainda mais perigosa na proximidade destas datas insistentemente nostálgicas. Mas, entre cartas de amantes fantasmas, bottons enegrecidos de bandas punks esquecidas e retratos de lugares a que fui e não retornei, foi uma fotografia de minha infância a responsável pelo triste fim de uma garrafa de conhaque, pela avalanche de lembranças, pelas lágrimas transtornadas e por este relato que eu não saberia dizer se é mais inútil que inevitável. Acontece que eu olho para esta foto (ela está em minha frente enquanto escrevo) eu vejo o garoto que tinha um futuro e por muito tempo fez jus a ele. O garoto de cabelos cacheados cheios, subindo e descendo as ladeiras do bairro, de livros na mão, ou uma bola nos pés e sempre um muitas estórias a serem contadas, todas inventadas durante as tão tediosas aulas que ele mal poderia esperar que acabassem. Acabassem de uma vez, e ele não precisasse nunca mais voltar à escola. Nada poderia dar errado para aquela criança. Nada? Eu não sei em que ponto me desviei. Em que rua curvei e em beco entrei no meio de minhas caminhadas, o que sei é que um tipo estranho de escuridão me alcançou. Toda alegria daqueles dias escapou de mim. Já busquei milhões de explicações para isso, mas a verdade é que eu não faço ideia do que seja. Me divertir sem precisar de álcool ou qualquer outra artificialidade tornou-se impossível pra mim, e eu me vi caminhando de escolha errada em escolha errada, de absurdo em absurdo, até chegar aos dias de hoje. Sei que caí numa armadilha que eu passei muito tempo jurando que não cairia. Eu nunca seria alguém que, em nome da segurança, deixaria de lado as coisas que amava e pelas quais brigaria com o afinco e determinação dos grandes vencedores. Só que não. Em algum momento julguei que deveria ser pragmático e não desperdiçar as chances que se apresentavam de me sentir seguro. Até porque já havia queimado minhas fichas apostando em outras coisas nem tão seguras, apostas que obviamente perdi.Talvez eu esteja um pouco confuso no dia de hoje, talvez seja só visão dessa foto e os sentimentos de quem aniversariou, mas sinto um peso incomensurável que resulta numa falta de tesão imensa pela vida. Claro, isso junto com alguns problemas que se tornaram crônicos nos últimos dois anos. Não tenho sido eu mesmo. Mas, pior que isso, não sei o que eu faria se fosse eu mesmo. A pergunta inquieta de Clarice Lispector, "o que eu faria se eu fosse eu", permanece sem resposta, aterradora bem à frente de minha porta. Tenho um certo medo, porque sei que o caminho que escolhi não permite meia-volta. Mas está longe de ser o pior caminho. Mas está longe de ser aquele que desejei.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
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Um comentário:
Sim eu me lembro das camisetas de banda, e de todas as fichas que deliciosamente desperdiçamos. E da dor e da delícia de ser o que somos, como diz Caetano. Quando eu completei 30 esta nostalgia tb me pegou, mas dentro de mim tudo ainda queima, queima e queima, como em você, e por isto ainda não estamos moribundos ou mortos...
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