Às vezes, eu preciso buscar um lugar
dentro de mim para esconder-me. Mas acontece que não é tão simples assim
mergulhar aqui dentro em busca de um lugar confortável, quente e seguro e
esperar a tormenta passar. Quase todos os cantos assim já estão ocupados,
preenchidos pelos afetos daquelas que eu amo. Algumas delas certamente estão
acomodadas nos melhores lugares, arejados e próximos ao coração. Então é
difícil, mesmo para o dono do estabelecimento, encontrar onde se abrigar – da
chuva, do vento, das imagens de horror, do alarido das multidões, da paranoia
do cidadão honesto, das visitas indesejadas e dos intermináveis dias. Há vagas,
porém em terrenos inóspitos e hostis. Tenho dentro de mim regiões frias e
perigosas, expostas às intempéries e pouco recomendáveis. E há os cômodos
vazios. Estes são ainda mais terríveis. Foram habitados por muito tempo por
pessoas às quais entreguei tudo e que agora se foram, mas algo delas permanece
sempre lá, uma ausência sentida no ar. Não é um lugar que alguém visite. A
solidão e o silêncio que ali imperam oprimem e absorvem. Mas eu devo me
recolher a um destes lugares, a despeito de seus fantasmas. Pois que aqui fora
faz frio. Faz falta. Faz tempo. Fez-se vazio de mim mesmo. E isso é algo que eu
não consigo lidar. Isso deve passar, como tudo mais, como o outono, o inverno,
a primavera, o verão... e o outono. As estações não se importam, então elas
passam, e tudo que eu preciso é saber esperar.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
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