quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Abrigo



Às vezes, eu preciso buscar um lugar dentro de mim para esconder-me. Mas acontece que não é tão simples assim mergulhar aqui dentro em busca de um lugar confortável, quente e seguro e esperar a tormenta passar. Quase todos os cantos assim já estão ocupados, preenchidos pelos afetos daquelas que eu amo. Algumas delas certamente estão acomodadas nos melhores lugares, arejados e próximos ao coração. Então é difícil, mesmo para o dono do estabelecimento, encontrar onde se abrigar – da chuva, do vento, das imagens de horror, do alarido das multidões, da paranoia do cidadão honesto, das visitas indesejadas e dos intermináveis dias. Há vagas, porém em terrenos inóspitos e hostis. Tenho dentro de mim regiões frias e perigosas, expostas às intempéries e pouco recomendáveis. E há os cômodos vazios. Estes são ainda mais terríveis. Foram habitados por muito tempo por pessoas às quais entreguei tudo e que agora se foram, mas algo delas permanece sempre lá, uma ausência sentida no ar. Não é um lugar que alguém visite. A solidão e o silêncio que ali imperam oprimem e absorvem. Mas eu devo me recolher a um destes lugares, a despeito de seus fantasmas. Pois que aqui fora faz frio. Faz falta. Faz tempo. Fez-se vazio de mim mesmo. E isso é algo que eu não consigo lidar. Isso deve passar, como tudo mais, como o outono, o inverno, a primavera, o verão... e o outono. As estações não se importam, então elas passam, e tudo que eu preciso é saber esperar.

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