sábado, 24 de abril de 2010

A estrada e uma certa idéia absurda de Infinito

Ela me mandou parar de reclamar do ruído do motor de sua motocicleta (ou sua Chopper, sei lá), disse que ela era velha mesmo e era melhor eu me acostumar, essa seria a carona. Tirei um dos fones de seu ouvido e coloquei no meu, escutava Koko Taylor, claro. Falei pra ela de uma noite num copo sujo em Curitiba que tinha Koko Taylor na jukebox, aquilo era inacreditável e daí...ela me manou parar. Odiava caroneiros que contavam histórias. Justo. Entendo ela. Perguntei se devia ficar calado. Sim, mas ela preferia observadores a contadores de histórias, que tudo que fosse dito se restringisse ao que acontece agora, ao que vemos, sentimos e fazemos, e não ao passado glorioso. Veio aquele gosto amargo. Na primeira estória que contasse, seria impiedosamente atirado na estrada, fora da motocicleta (da Chopper - algumas pessoas são muito sensíveis quanto às palavras e as coisas) e fora do sonho. Então me calei. "O silêncio é sexy", disse. E o espirito estava ali. Então seria assim. Eu deveria me comportar como uma Sherazade às avessas, ameaçado de ter a cabeça cortada logo na primeira estória, condenado a mante-la desperta atenta como um observador dos fatos, dos mais ordinários aos mais fantásticos, mas apenas aos fatos. E assim atravessaríamos o continente, a doce Terra, acompanhados de musica e do ruído de um motor surrado, olhando sempre pra frente, pra frente...

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