sábado, 22 de maio de 2010

E as cartas?

Lembro de nossas ligações de madrugada.
Lembro do teu jeito meio-gótico, meio-nerd.
Lembro da tua voz, de você falando do planeta de onde vim.
Da tua má-vontade com Led Zeppelin.
Lembro até dos teus amigos que nunca conheci.
Lembro de teus desenhos.
Lembro de ficar sozinho no quarto, escutando
Os berros de Kurt imaginando se você estaria fazendo o mesmo,
Porque era um sabádo ensolarado demais e você não sairia de casa.
Lembro de ficar gravando fitas K-7 com musicas que você gostava
E apagando logo depois porque sabia que você já tinha todas elas.
Lembro da ansiedade quando o relógio na parede
Se aproximava da meia-noite e você poderia ligar.
Lembro de procurar mil verbos diferentes pra dizer a mesma coisa:
"Eu te amo".
Lembro quando a caneta ficava pesada demais e
Eu não conseguia preencher a folha em branco pra te mandar
Porque até hoje as palavras parecem ingênuas demais pra certas coisas.
Lembro do tempo em que haviam cartas.
Sim, haviam cartas, e muitas vezes elas me salvaram.
Houve um tempo em que as cartas chegavam, sweet relief.
Sim... e as cartas?

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