A esperança mata, mas antes ela te esfola, arregaça, arranca tua dignidade e te faz rastejar na lama mais pútrida. Ela te usa, te derrota e, se por esforço próprio você consegue superar tudo isso, dizem que tu venceu porque teve esperança. É assim que ela mantém sua aura de santidade. Mentindo. Você não descansará até que tudo esteja realmente perdido, quando era muito mais fácil ter dado as costas e pulado fora antes da queda final. Não é nenhum crime fugir. Mas você preserva a esperança, e fica. Nunca os seres humanos se mostram tão fortes quando têm esperança. E se fodem por isso. E ainda assim acreditamos. Melhor seria acreditar na escuridão de nossos olhos, na embriaguez de nossos corpos, na solidão de certas noites, em nossos beijos escandalosos, nas visões, ora magníficas, ora aterrorizantes, que temos. Mas é mais interessante (não necessariamente fácil) ter esperança. Interessante para nossa natureza masoquista e fluida. E assim nos jogamos. E assim criamos fabulosos poemas cuja substância é nossas próprias vidas, que poderiam até ser um belo romance se não fossem verdadeiras e se as autoras principais não se chamassem dor (sem sua irmã, redenção) e soledad. E esse vinho que desfrutamos enquanto nos enchemos de esperança é ao mesmo tempo tão amargo e tão doce... E no fim, você pode até... digamos, vencer, mas isso não apaga as marcas e lembranças. Viver com esperança é ter uma arma apontada pra cabeça por um esquizofrênico. Ter esperança é ser punido por ser a vítima de um crime hediondo. Cortejar a esperança é suspirar no vazio. Viver de esperança é ter sede no deserto. E ainda assim é através dela que atravessamos os dias difíceis. Urge não aceitar a derrota. Em vão tentamos. E erramos. E vivemos. E esperamos.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
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Deixa eu bagunçar você
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Um comentário:
Você reclamou o não-comentar.
Então tento entender se é o sentimento terrivel, vontade de deixar tudo pra lá, não continuar porra nenhuma e ir gastar o último centavo no buteco com cerveja, a tal máquina que canta e o ar de poeira da Fernando Ferrari.
Imagino que mesmo assim ela iria acabar aparecendo no outro dia, ela iria nos achar no único momento de paz que tivermos depois. Ela penetraria na mais aguda vontade de respirar.
Ela sempre aparece no ínfimo instante de desatenção nos beijando sem nos pedir.
Mesmo que não venhamos a venera-la, ela sempre nos alcança.
Você tentaria fugir dela?
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