Um silêncio do tamanho desse desespero que não tem nome, ambos tão imensos quanto a lua. Num inferno que eu mesmo criei, fiquei até as quatro da manhã desperto, pensando no que poderia ter dado errado. Nada. Imaginando em que curva errei o caminho, tomei a direção mais perigosa. Exercício inútil, já repetido tantas e tantas noites. Por que sempre deste jeito, não sei. Mas não vou esperar até estar tudo irremediavelmente perdido para descobrir que era mais fácil do que parecia. Apenas mais fácil do que parece, porque fácil mesmo nunca é. Agora é encarar com a graça de um adulto, não a fragilidade de uma criança. Sempre teve a ver com insistir na decisão que foi tomada, e a despeito de tudo, se acostumar com alguns ossos que inevitavelmente serão quebrados pelo caminho, saber conviver com essa dor e não deixá-la te deixar cego para todo o resto, pois a dor é capaz de fazer este tipo de coisa. Basta levarmos um soco no estômago para instintivamente abaixarmos a cabeça e fecharmos os olhos, mecanismos de defesa que estão além de nosso controle; mas o bom boxeador sabe que é nessa hora que a guarda não deve ser baixa, deve-se sim lutar contra o primeiro instinto e manter-se firme, direcionar o olhar e lembrar contra o que está lutando, e se possível pelo que está lutando, porque o próximo golpe vem mais depressa do que se espera e não há tempo para se recuperar. Claro que sempre temos o sinal para um merecido descanso antes do próximo assalto, mas ele nem sempre virá quando precisamos, quase nunca vem. Então ficamos de pé, em nossos pés de bailarinos e nossa fé de anjos deserdados por Deus, que só podem contar com a própria sorte e com outros desavisados que aparecem pelo caminho. Assim sou eu. Desavisado e deserdado, a um só tempo. Tempo que insiste em passar, vida que insiste em doer.
terça-feira, 5 de julho de 2011
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Um comentário:
Fiquei aqui pensando por que você colocou o nome deste post de "Ensaio". Cheguei a conclusões: é uma escrita ainda por se fazer, é um sentimento apenas esboçado, é uma vontade em planos de concretização. Ou é o preparo para a próxima onda de dor. Não sei, mas gostei!
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