Sou um sol negro
E Você é uma lua brilhante
Nosso eclipse deverá ser
a coisa mais bela de que se tem notícia.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Um Homem com um Problema
Ele dizia que tinha um problema, mas nunca disse muito mais que isso.
Chegava, tomava um largo gole, largava o copo em cima da
mesa de bilhar
e, depois de encaçapar uma bola, suspirava: “é um
problemaço”.
E de nada adiantava perguntar-lhe qualquer coisa, ele
permanecia quieto.
Às vezes, enquanto caminhávamos citando Rimbaud, Bandeira,
Poe
e outras doçuras intelectuais, ele parava: “É um puta
problema”. E deixava aquilo
no ar, como um gás venenoso ameaçando nossa tarde.
Seu problema era só dele e assim seria sempre, era o que ele
dizia
do seu jeito, “ao menos meu problema ninguém vai tirar de
mim”
e nós ríamos como duas crianças que houvessem dito um
palavrão.
Mas eu ainda queria saber qual era o problema dele.
“Isso ainda vai me matar”, ele dizia grave, e a gente sem
saber o que era ‘isso’,
e era estranho ver um homem daquele tamanho tão movediço,
até que brincando perguntamos se o problema tinha nome,
e, sério, ele disse: “nome, sobrenome e cor de esmalte
favorito”.
E isso que ainda era pouco, era o máximo que saberíamos,
e era o suficiente, porque todos os homens daquele bar
tinham em sua conta pelo menos um porre com nome de mulher.
O porre da Marcela, Sandra, Priscila e Augusta,
e tinham nomes de outros homens também, é bom que se diga.
E assim soubemos que seu problema era mesmo grave,
gravíssimo,
mas, não saberíamos mais nada
porque esse homem lá nunca voltou.
Desaparecido, sem vestígios,
rastros, lastros ou carta de despedida.
Ele simplesmente se foi, deixando seu lugar no balcão vazio.
E aquele canto para nós era a lembrança de que,
se alguns problemas pedem para serem encarados,
outros pedem com urgência que sejam deixados de lado.
E aquele homem partiu, não sei se perseguindo ou se fugindo
de seu problema,
que ele sabia ser sem solução,
um porre sem último trago.
sábado, 25 de maio de 2013
Quando um Valente Valete Abandona seu Rei
Não sorva a fúria
sorvete dos brutos
nem namore a violência
mar de sangue jovem
Aos sensíveis
a serenidade
aos terríveis
o perdão
O mundo quer amolecer cacetes
O mundo quer endurecer corações.
(André Dahmer)
sorvete dos brutos
nem namore a violência
mar de sangue jovem
Aos sensíveis
a serenidade
aos terríveis
o perdão
O mundo quer amolecer cacetes
O mundo quer endurecer corações.
(André Dahmer)
terça-feira, 21 de maio de 2013
domingo, 19 de maio de 2013
De Almas e Dores
"Vi que ela continuava soluçando, de mansinho, exalando alguma tristeza remota que a trepada tinha despoletado na alma dela. Por que a Rejane, sem dúvida, é dessas mulheres que têm uma puta duma alma imensa e fazem questão de exibi-la a todo mundo. E a grande alma dela sofria. As almas, de um modo geral, o que fazem é isso mesmo, sofrer. E quanto maiores são, mais sofrimento são capazes de produzir para suas donas e donos".
Reinaldo Moraes, em "Pornopopéia".
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Dor Elegante
"Elegant Man in the Mirror" - Leon Gordon
Um homem com uma dor
é muito mais elegante.
Caminha assim de lado
como se, chegando atrasado,
chegasse mais adiante.
Carrega o peso da dor
como se portasse medalhas,
uma coroa, um milhão de dólares
ou coisa que os valha.
Ópios, édens, analgésicos,
não me toquem nessa dor.
Ela é tudo que me sobra.
Sofrer vai ser a minha última obra.
(Paulo Leminski e Itamar Assumpção)
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Na Foto: Serge Gainsbourg & Jane Birkin
"My Dear,
find what you love and let it kill you.
Let it drain you of your all. Let it cling onto your back and weigh you down into eventual
nothingness.
Let it kill you and let it devour your remains.
For all things will kill you, both slowly and fastly, but it's much better to be killed by a lover
- falsely yours"
Charles Bukowski.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Por acaso, me peguei relendo tuas
mensagens. E, atrevido, fui prestar atenção a tudo que estava nas entrelinhas,
os recados, as pistas que você deixava de maneira mais ou menos direta. Por
acaso, de repente era sua voz que eu ouvia. De repente, sua boca se abrindo. De repente,
seus cabelos e suas mãos sobre mim. E tudo que é doçura e embriaguez nos seus encantos. E
então o que era calafrio se fez paz. Pensando bem, não foi tão por acaso assim.
domingo, 12 de maio de 2013
Para o Dia das Mães
"Pois, eu te digo que o meu maior temor
é que quando minha mãe se for,
ela vá intranquila e sem a sensação
de partir com a missão cumprida".
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Na Eternidade de um 'Até Logo'
Foto: Tatiana Zanghi
Eu finalmente vou sentindo
crescer dentro de mim algo além deste rancor que sempre se espalhou por minhas
células feito câncer e que me debilitou em minhas melhores horas. Sinto
finalmente algo capaz de interromper esta metástase demoníaca, o sentimento mesquinho
e torpe capaz de entupir minhas artérias e perfurar meus órgãos. Algo que não
seja este veneno. Sinto fluir toda a energia gerada pelos impulsos elétricos de
minhas sinapses mesmo nas ações mais ordinárias. Tomar um banho, acender um
cigarro, escutar Morphine, olhar para uma foto sua. Todas essas coisas que eu
faço todos os dias, cada uma delas liberando um pouco mais dessa energia que
por tanto tempo se deteve entre meus rins. E eu não sei bem quando isso começou,
nem por que, mas eu sei que tem a ver com aquele seu beijo e com o fim de
minhas ilusões. Eu, que já me ajoelhei em desespero à espera de Deus, aprendi
enfim a mais dura das lições. Soube desde cedo que poderia ser o que quiser,
mas foi tarde demais que aprendi que não poderia jamais ter você. Sob a minha
língua, sob o suor de meu corpo, sob tudo que eu considero sagrado, havia
apenas seu corpo e um momento, e nada mais que isso. É nesse tipo de desencanto
em que os homens são forjados. E o inferno é construído. E meu corpo ferve. E
minha imaginação se incendeia. Os vazios são preenchidos. Blasfêmias são ditas.
Recantos proibidos são devassados. O amor nasce. Para morrer. Em seguida. Na
vala comum de um beijo de despedida.
terça-feira, 7 de maio de 2013
“O senhor está olhando para fora,
e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém pode o aconselhar
ou ajudar – ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo.
Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos
recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe
fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais
tranquila de sua noite: “Sou mesmo forçado a escrever”? Escave dentro de si uma
resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa
por um forte e simples “sou”, então construa sua vida de acordo com essa
necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá
tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza.
Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, ama, vive e
perde. (...) Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse.
Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair suas
riquezas. (...) Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem
versos, não mais pensarás em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão
pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver
neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma
obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está
o seu critério – o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso
dar outro conselho, fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de
onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de
saber se deve criar.”
Rainer Maria Rilke - Cartas a Um Jovem Poeta (Trecho da primeira carta)
segunda-feira, 6 de maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Der Himmel über Berlin (Asas do Desejo)
Quando a criança era criança,
andava balançando os braços. Desejava que o riacho fosse rio, que o rio fosse
torrente e essa poça, o mar. Quando a criança era criança, não sabia que era
criança. Tudo era cheio de vida, e a vida era uma só. Quando a criança era criança,
não tinha opinião, não tinha hábitos, sentava-se de pernas cruzadas, saía
correndo, tinha um redemoinho no cabelo, não fazia pose para fotos.
Quando a criança era criança, era
tempo dessas perguntas. Por que eu sou eu e não você? Por que estou aqui e não
lá? Quando começou o tempo e onde termina o espaço? Será que a vida sob o sol
nada mais é que um sonho? Será que o que vejo, escuto e cheiro não é apenas uma
miragem do mundo anterior ao mundo? Será que realmente existem o mal e pessoas
malvadas? Como é possível? Eu, que sou eu, não existia antes de existir. E no
futuro eu, que sou eu, não serei quem sou.
Quando a criança era criança,
detestava espinafres, ervilhas, arroz-doce e couve-flor refogada. Agora ela
come de tudo, e não apenas porque precisa. Quando a criança era criança,
acordou numa cama estranha, e hoje isso é frequente. Muitas pessoas lhe
pareciam bonitas antes; hoje é raro, só com sorte. Tinha uma visão clara do
paraíso; hoje consegue apenas supor. Não conseguia imaginar o nada; hoje treme
ao pensar. Quando a criança era criança, brincava com entusiasmo. Hoje, só se
entusiasma quando seu trabalho está envolvido.
Quando a criança era criança,
vivia de maçãs e pão, e ainda é assim. Quando a criança era criança, amoras
caíam em suas mãos, e ainda é assim. As nozes deixavam sua língua áspera, e
ainda o fazem. Ao chegar ao topo da montanha, queria outra mais alta. Em cada
cidade, desejava outra cidade maior. E ainda o faz. Ficava tímida diante de
estranhos, e ainda fica. Aguardava a primeira neve, e continua aguardando.
Quando a criança era criança, atirou uma lança de madeira contra uma árvore, a
qual tremula ali ainda hoje.
Handke - Wenders. Inspirado no Poema "Lied Vom Kindsein" de Rainer Maria Rilke.
Handke - Wenders. Inspirado no Poema "Lied Vom Kindsein" de Rainer Maria Rilke.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Das Folhas que, no Outono, Caem e Morrem
Quero-te por perto e ver de perto seu sorriso
Quero que perdoe minha esquisitice
E até os surtos de lucidez que não me fazem bem.
Mas não te quero mansa
E isso é constante
Quero-te puta comigo, mas não sei como te irritar
Ontem, eu vi uma mulher que poderia ser você
Usando um lenço no pescoço que poderia ser o seu e
Um perfume que, bem,
Jamais teria seu cheiro.
É outono, e eu não quero que algo tão bonito
Morra como as folhas que estão caindo
Mas, se folhas que morrem enfeitam ruas
Que assim seja.
Existem trevas o suficiente em meu coração
Para serem iluminadas pela lembrança
De seu sorriso.
É outono e logo será inverno:
É quando eu costumo despertar.
Quero que perdoe esse desabafo e
Essa ânsia
Quero-te de volta
Mais do que já desejei qualquer outra coisa.
Mas, se você for outonal,
Eu estou preparado para sua ausência.
Convidei meus melhores fantasmas para o jantar.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Não diz tudo, mas poderia
"You make me smile
You make me smile
Come through and save my day
You make me smile
You make me smile
In very special way"
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