quarta-feira, 8 de maio de 2013

Na Eternidade de um 'Até Logo'

Foto: Tatiana Zanghi


Eu finalmente vou sentindo crescer dentro de mim algo além deste rancor que sempre se espalhou por minhas células feito câncer e que me debilitou em minhas melhores horas. Sinto finalmente algo capaz de interromper esta metástase demoníaca, o sentimento mesquinho e torpe capaz de entupir minhas artérias e perfurar meus órgãos. Algo que não seja este veneno. Sinto fluir toda a energia gerada pelos impulsos elétricos de minhas sinapses mesmo nas ações mais ordinárias. Tomar um banho, acender um cigarro, escutar Morphine, olhar para uma foto sua. Todas essas coisas que eu faço todos os dias, cada uma delas liberando um pouco mais dessa energia que por tanto tempo se deteve entre meus rins. E eu não sei bem quando isso começou, nem por que, mas eu sei que tem a ver com aquele seu beijo e com o fim de minhas ilusões. Eu, que já me ajoelhei em desespero à espera de Deus, aprendi enfim a mais dura das lições. Soube desde cedo que poderia ser o que quiser, mas foi tarde demais que aprendi que não poderia jamais ter você. Sob a minha língua, sob o suor de meu corpo, sob tudo que eu considero sagrado, havia apenas seu corpo e um momento, e nada mais que isso. É nesse tipo de desencanto em que os homens são forjados. E o inferno é construído. E meu corpo ferve. E minha imaginação se incendeia. Os vazios são preenchidos. Blasfêmias são ditas. Recantos proibidos são devassados. O amor nasce. Para morrer. Em seguida. Na vala comum de um beijo de despedida.

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