"Eu gosto de ler declarações descaradas de amor. Tô falando sério. Eu mesma vivo rascunhando algumas pra deixar em stand by. Eu até escreveria 'vai que...', mas os publicitários fazem questão de roubar todos nossos clichês e a gente tem que se virar de outra maneira. Eu costumo apelar pro humor, ou pra tentativa de, porque caso a coisa não funcione eu saco a desculpa do 'imagina, era só uma piada'.Mas acho bonito pacas quando alguém fala de algum detalhe (o que a publicidade não nos rouba é sempre do Roberto Carlos) do outro, um maneirismo, algo que parece pertencer única e exclusivamente a quem notou. Não existe outra forma de gostar senão aquela de se encantar por coisas aparentemente banais aos olhos dos outros. Já me apaixonei por uma virada de página de livro, um engasgo, um palavrão fora de contexto, um beijo roubado na Martins Fontes que não ficou devendo nada ao de Wong Kar-Wai. Aliás, esse cara tem as manhas de traduzir o amor num close exagerado de um pescoço. E na verdade é isso. Closes exagerados. Sei lá que mecanismo do universo rege tudo isso, e pouco importa se existe algum. Por um tempo são essas pequenas peculiaridades, sob as lentes de uma grande angular, que nos estampam sorrisos bestas na cara. E, no meio dessa merda toda, um sorriso besta na cara é bem mais do que a gente um dia esperou."
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Deixa eu bagunçar você
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