terça-feira, 1 de janeiro de 2019

oração pra um novo ano


É ano-novo e você se afasta da multidão que se abraça e faz votos, enquanto você molha os pés na água refletindo se toda aquela comoção afinal é mesmo uma exibição de esperança ou só pressão social por participação em rituais (provavelmente um pouco dos dois) (todo ano é a mesma coisa, nem sempre a mesma água, mas a reflexão sim), mas você termina se juntando ao resto do pessoal, não sem antes fantasiar uma última vez com uma caminhada lenta e definitiva mar adentro até que todo barulho cesse, toda dor tenha fim e tudo seja água de uma vez por todas, mas então você escuta os fogos, os tilintar das taças, os gritos das crianças e volta a si com uma mistura de vergonha e conformismo e mesmo assim sorrindo porque no fim das contas você seguirá de um jeito ou de outro, no fim das contas as contas serão pagas e você dará algum jeito pra que elas façam algum sentido sem fantasiar tanto com o que você gostaria que seu mundo fosse e abraçando-o do jeito que ele é – pois olhando esses que agora te abraçam (e todos que alguma vez já te abraçaram) você, no fundo, sabe que nem todo barulho que eles fazem é ruim, nem toda dor dura pra sempre e, sobretudo, nós já somos água sem precisarmos perecer no fundo do oceano pra isso. tudo o que você precisa é abraçar sua própria fluidez, profundidade e mistério.

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