quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Escola do Silêncio


Trocando palavras por gestos, homem e mulher adentram aquilo que eles acreditam ser o vasto coração da noite. Ali, crêem eles, encontrarão um segredo que seja definitivo, uma certeza que seja inquebrantável. Eles se consideram sortudos, talvez privilegiados, por terem um ao outro, mas estão temerosos porque pode ser que isso não dure. Na verdade, é provável que não dure. Ele conhece as histórias das palavras que foram usadas até perderem seu sentido em confusões semânticas que na verdade não passaram de tentativas de fixar certezas; Ela já precisou enfrentar sozinha a escuridão fria quando haviam lhe dito que estariam do lado dela a qualquer custo, e ela não havia cobrado nada. E assim ambos tentam enfrentar a incomunicabilidade com silêncio respeitoso e ousado, suas vidas-colcha-de-retalhos construída no limiar da aurora e desfeita sob os raios lunares, e no coração da noite eles esperam apenas ver algo para além da lua cheia. São fiéis à noite. Mas as estrelas lhes traem: Sua luz enfeita mas também lhes rouba algo, em seus disfarces luminosos não contam se estão vivas ou mortas, traiçoeiras estrelas que derramam seu brilho mórbido sobre a alegria silenciosa destes amantes. Garoto e garota adentram a noite com passos cuidadosos, pisando sobre os restos de amores passados e até de alguns amores que nunca se concretizaram, emudeceram antes mesmo das primeiras palavras e se cristalizaram em pesados blocos de dor que sustentam o edifício sobre o qual se erigem outros romances que deram certo; Felinos, ambos espreitam a escuridão em torno deles com a curiosidade e o medo de duas crianças, cuidam da dor um do outro como só fazem sobreviventes de guerras ou fugitivos de manicômios, livram-se do que não é importante para que o peso morto das palavras não os faça naufragar cruzando mares infinitos de absoluta solidão. Com alguma coragem e muita sorte, eles chegarão a algum lugar que pode não ser o paraíso que eles idealizaram (pois como todos os amantes, eles não apenas são capazes de sonhar, mas de por um instante que seja, acreditar que tolos delírios podem vir a se realizar), mas atingirão algum ponto de rara tranquilidade em que possam descansar seus corpos exaustos de noites sem dormir. Algum lugar que faça ter sentido todos os contraditórios do amor, um lugar em que todo o contexto de miséria que criamos ao redor de tão bela palavra possa ser enfim descartado. Neste lugar, garota e garoto deitam-se de frente um para o outro, fecham seus olhos enquanto seus corpos se aquecem mutuamente contra o ar gelado, boca a boca, seus lábios quase se tocam, um deles se vê livre para enfim dizer: - „Silêncio, enquanto há tempo“...

2 comentários:

Camila Bravim Silveira disse...

do caralho!!!!
compreendo perfeitamente pq se desfez do blog antigo pra construir esse!!!!
sua literatura tb mudou.... não completamente.... mas um aprimoramento maravilhoso!!!

Saulo Ribeiro disse...

Esse ano não, R.

da tourné norte começa outra passando por alguns países na Europa.

Mas acho que ano que vem sim.


Abraços

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...