Acordei e desci, fui à padaria, e na fila do pão topei com Hemingway, perguntei-lhe onde estava seu rifle e ele me disse que desde que aquela porcaria falhou no tal momento fatídico, ele deu adeus às armas. Ele parecia ter cento e poucos anos, perguntei como era ter essa idade, e ele me disse que há muito tempo já a vida deixara de ser uma festa. Deixei-o, desejando-lhe mais sorte da próxima vez que pirar e resolver se matar, e fui ter com Bukowski no barzinho da esquina de casa, ele já estava com um bafo de cachaça horrível, tinha varado a noite, não sei direito se ele passou a noite bebendo ou varou alguém à noite, enfim, me disse que Cortázar tinha acabo de ir embora com sono e sem cigarros, eu tinha alguns, pensei em alcançá-lo, mas ao longe ele já entrava bêbado num táxi para o pesadelar. Voltei para falar com Bukowski e ele já lançava seu hálito fétido em cima de uma senhora mal-ajeitada que lhe pedia para pagar uma cerveja, ela ia resmungando enquanto ele a cheirava, mexia na alça de seu sutiã que escapava do vestido, e ria, como ria. Achei que deveria deixá-los ali, a sós com seus demônios. Regressei à casa, onde já tão cedo, na sala, Clarice e Garcia Márquez discutiam animadamente coisas como a origem dos sonhos, a vida de Picasso e as motivações dos crimes passionais. Preparei mais uma rodada de café, acendi um cigarro e ali ficamos, nobres debatedores do trivial, radiantes em nossas paixões mundanas, lendo uns para os outros poemas de Anne Sexton e Rimbaud e escrevendo romances no ar com nossos dedos.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
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Deixa eu bagunçar você
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2 comentários:
É uma história com final feliz.rsrsrsr
Vou sentir saudades.
Um beijo. E bom dia!
Adorei a idéia de "escrever romances no ar", só não imagino a Clarice discutindo nada animadamente! beijos, querido
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