sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Duas mulheres, um homem





Pensando bem, a poeta é quem está certa. “Ninguém é mesmo uma ilha/Se até Billie Holiday/Vem me visitar pelo radinho de pilha”.É um sombrio e evoluído emulador do rádio de pilha que tem me salvado de uma escuridão total que me ameaça freqüentemente. Escrevo agora mesmo sob a influência extasiante da voz de Betty Davis, mas ela é uma ameaça à minha tranqüilidade. Minha mente influenciável se deixa tocar pela levada insinuante, pelos cenários excitantes aos quais Betty é capaz de me levar, e no momento meu coração não pode ir vagar tão longe assim e deixar meu corpo para trás, carente de toques. Muito perigoso. Troco a música e deixo soar a voz cativante de Chan Marshall, Cat Power



melancólica, linda e misteriosa, como outras mulheres que admiro. Escutá-la cantando “The Dark End of the Street” pode salvar meu dia ou fazer de mim a pessoa mais miserável sobre a terra, tanto faz, fico em paz, deixo que desatinem meu coração e façam dele o que quiserem, já é normal e quase uma obsessão pra mim. Que eu me veja e encante com o que Chan cante, é normal – histórias de amores proibidos ou frustrados, desilusões e enganos, isso haverá sempre, é tão triste quanto universal , mas me perturba que as palavras, acordes e melodias de um homem que canta seu próprio pathos, sua realidade particular, atinjam tão diretamente meu coração e minha mente. Esse homem que tem sido um grande parceiro, bebendo comigo e soprando inspiração enquanto escrevo algumas linhas que não-serão publicadas e talvez nem mesmo lidas por mais ninguém, é o mais americano dos canadenses. 

Neil Young se parece mais com um caipira irado, triste e sozinho que, ouvindo rock’n’roll e lendo Kerouac, resolveu cair na estrada. Sei lá. Mas como esse cara parece estar falando de algo que me parece tão íntimo a mim? Brindemos, amigo. Sei que já passei da idade de me identificar com cantores ou coisas do tipo, mas não nego que são essas companhias que tem evitado a crise, que tê me preparado para o verão da histeria.



Um comentário:

Priscila Milanez disse...

ainda bem que temos a música.Qto a mim, por hora, fico com a cadência de um bom samba!

beijos, querido.

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