Ela morreu, neste dia 23. E os fanáticos estão fazendo o papel deles. Como se um monte deles não estivesse morrendo de câncer ou atropelados. Eu não mudo uma linha do que disse sobre ela, porque Amy fez muito mais do que a maioria por aí pode dizer que fez, e isso é o que realmente importa. é tudo muito triste a seu respeito, mas eu não vou declinar. Obrigado, garota.
Texto de 2009:
AMY E BILLIE
Tem uma garota que eu adoro que canta. Muito. Canta como se estivesse presa e quisesse fugir. Canta como se vivesse num outro mundo, e ela está. Como se estivesse chapada, como se soubesse que é linda e como se dissesse “que se foda”. E no final é isso que ela quer dizer. Amy, porquê você está nos jornais? O que você está fazendo aí? Seu lugar é no bar mais louco de Nova Orleans, Kerouac, Ginsberg, Cassady e orgias loucas estão te esperando. Quando você canta, ilumina com luz lilás os lugares mais sombrios das almas tempestuosas. Você me lembra... ela, que injetava amor, solidão, confusão e tristeza quando cantava. Billie. Billie, que apertava com força um garrote em torno de nossos corações e prendia-nos o sangue, antes de drogar-nos com sensualidade e melancolia, transformando seu microfone numa seringa que derrama lágrimas e versos. Ela era linda, como só os anjos que já caminharam pelo inferno podem ser. Ora, quem já caminhou pelo lado selvagem como gatos de rua, por essas vielas escuras cheias de dor, de maravilhas, de carícias e de terror; soltou aquele uivo de derrota e de satisfação, conseguiria cantar com tanta sinceridade e beleza. Amy, você é como Billie. Amy, eles querem que você pare, eu não. Amy, são eles os egoístas, não eu e você. Ou somos nós os egoístas, não eles, os samaritanos e fariseus. Deixe-os lavarem as mãos, continue vivendo, de corpo e alma. Body and soul. Que ironia, uma música da Billie. Uma noite eu sonhei que você cantava outra dela, St. Louis Blues, só para mim, e era incrível. Love of mine, someday you will die. Meu amor, um dia você vai morrer, é normal. Você já deixou marcas em muitos de nós. Os insatisfeitos, os insaciáveis, os solitários. Pra que se importar com eles? Eles já sabiam. Eles te conheceram assim. Esqueça tudo. Cante mais uma vez: You know that i’m no good... Eu sei que você não é nada boa. Nada correta. E eu sempre gostei assim mesmo, sempre quis o que me faz sofrer no final, e a história corre assim mesmo. Só peço que, antes de partir, cante mais uma vez o blues de St. Louis, porque Billie não pôde fazer isso por mim e eu sou melancólico até hoje por isso. Há uma luz que nunca se apaga.
Um comentário:
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