sábado, 11 de agosto de 2012

" (...) Tem o braço recurvado sobre a testa, a outra mão apoiada contra o peito, como para comprimir os batimentos de um coração fechado a todas as confidências, oprimido pelo pesado fardo de um segredo eterno. Cansado da vida, envergonhado por caminhar entre seres que não se assemelham a ele, o desespero tomou conta de sua alma, e prossegue sozinho, como o mendigo do valo. (...) De bom grado, fala às vezes com aqueles que têm o temperamento sensível, sem lhes tocar a mão, mantendo-se à distância, no temor de um perigo imaginário. Se lhe perguntam porque tomou a solidão por companhia, seus olhos se elevam para o céu, mal retendo uma lágrima de recriminação contra a Providência; mas ele não responde a essa pergunta imprudente, que espalha pela neve das suas faces o rubor da rosa matutina. Se a conversa se prolonga, inquieta-se, volta os olhos para os quatro pontos cardeais do horizonte, como para tentar fugir da presença de um inimigo invisível que se aproxima, faz um brusco aceno de adeus com a mão, afasta-se sobre as asas do seu pudor despertado e desaparece na floresta. Tomam-no geralmente por louco."

- Lautréamont, "Os Cantos de Maldoror", canto primeiro.

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