domingo, 26 de agosto de 2012

Sobre auto-detratação, Tribunais e Inércia

Já me perguntaram mais de uma vez porque eu falo tão mal de mim mesmo e porque me tenho em tão baixa conta. E eu nunca soube direito o que responder. E então só dizia "porque é verdade" ou "não sei, mas não vou fazer mais isso". Mas nunca parei. Nem uma trégua. Sempre me proponho tréguas, mas o cessar-fogo dura apenas até o primeiro gole de conhaque. Mas já tem algum tempo que ninguém me pergunta mais isso. E faz sentido, a coisa se desgasta, as pessoas se cansam de perguntar a mesma coisa. E eu sempre sinto que devia estar dando uma resposta diferente, dar-lhes alguma coisa mais palpável, mais observável, mais sensata, enfim. Mas não isso seria honesto de minha parte, e eu tô cheio de mentiras. Mas numa dessas madrugadas de sábado sozinho, me perguntando qual, afinal de contas, é o meu problema, cheguei a uma resposta que, se não é de todo sincera (mas nenhuma seria mesmo), ao menos não é uma completa mentira. O fato é que todo mundo devia ter alguém para explicitar os seus defeitos, vícios e desvantagens. É por isso que existem os bullyies nas escolas, as pessoas de humor negro, os bêbados e os loucos que perderam suas respectivas noções de sociabilidade  e cordialidade. Na falta de quem fale mal de mim, eu me encarrego do serviço sujo. Mas daria muito trabalho ofender a mim mesmo e depois me defender de mim. E me defender é algo que muitos tentaram, mas eu não facilito o trabalho de ninguém. É difícil ser promotoria, defesa e réu no mesmo processo. E neste tribunal não há um júri de meus pares. Eu não tenho par.


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O princípio da inércia postula que um corpo tende a manter seu estado de movimento, e se não sofrer a força de nenhuma ação ou de forças de ação que se anulem, ele consegue. Isso significa que se estiver parado, ele permanecerá parado, e se estiver em movimento, ele seguirá assim. O uso comum do termo leva as pessoas a associarem essa lei da física à paralisia, mas esta é só uma de suas propriedades. Um corpo pode continuar se movimentando, por inércia. Bom, o motivo de eu estar relembrando a primeira lei de Newton é o seguinte: Me descobri, como quem tem uma súbita revelação, uma visão, pra ser mais fiel ao que me aconteceu, inapelavelmente inerte. Agindo simplesmente porque não havia força alguma para me parar, assim como não havia nenhuma para me mover mais rápido. Seguindo o fluxo de uma estrada que não era a minha. E o único sintoma era o sentimento de esvaziamento, uma incapacidade de sentir os prazeres normais de qualquer pessoa, de deixar que meu pior lado fosse responsável pelo que eu sentia, nutria, amava. Matei muita coisa que sempre me foi cara. Deixei que coisas que não deveriam ter acontecido ocorrerem. Me perdi, no pior sentido do verbo. E foi só agora, quando este sentimento ganhou contornos físicos, com um rosto, uma voz e um nome, eu me vi desperto e, pela primeira vez, reduzindo a velocidade. E percebi que eu não estava sequer no controle. E senti, bem lá no fundo do peito, um desejo de mudar de direção. E só de pensar nisso, eu sorri sozinho, como não fazia há muito tempo, não sóbrio. Pode não significar muito pra ninguém, mas significa pra mim. Hora de mudar não apenas o valor da Força que age sobre mim, mas a direção vetorial. Hora de experimentar o efeito de outra lei, a da gravidade. Porque sou um corpo dotado de massa, e meu peso há de aumentar com a aceleração. 

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