quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Incorrigível

Eu não escrevo mais poemas.
Meus dedos se petrificaram e agora só talham
frias descrições de fatos
sem cheiro nem sabor,
apenas tecem um trabalho rude e contam
um metal que, vamos lá, nem é tão vil assim,
se pagam meus cigarros, minha bebida.
Eu não escrevo mais poemas.
Se ainda escrevo em versos, é por força do hábito,
esse inimigo invisível, essa lira proustiana,
que faz com que o abandono do que quer que seja,
por pior que seja, seja sempre dolorido;
Não há mudança que não implique num certo
sentimento de perda, isso é sabido.
Se anoto o endereço que me dão por telefone,
ele sai em versos.
Se escrevo um bilhete para a guria triste de cabelos cacheados
No outro lado do bar, ele sai em versos;
Ontem mesmo escrevi um e-mail de trabalho, e era assim:

"A reunião pode ser às 15.
Quanto mais cedo,
Menos triste"

Está certo ser assim, tão incorrigível?

Um comentário:

Natali disse...

se o "certo" existe, ele não pertence ao humano, então, não deve preocupar. Seja, isso já é o bastante!

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...