segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Abismo que Cavaste com Teus Pés

"A Lonely Roman", Pavel Svedomsky


Porque o céu hoje cedo, silenciou, depois de uma madrugada de trovões e muita água;
Porque todos os seres noturnos cessaram seus lamentos;
Porque perdeste tua medalha da sorte em meio à multidão indiferente;
Porque nas águas do Atlântico aprendeste que o Mar é insuperável;
Porque gemendo descobriste que amar é um verbo intransitivo;
E foi também gemendo que descobrira que há sempre um novo amor;
Porque caminhando a estrada sempre parece mais longa, enquanto
de tua cama parece a ti que não há estrada alguma;
Porque com Cioran percebeste que todos os seres são tristes;
E com Shakespeare repetiste que o Inferno está vazio e todos os demônios estão aqui;
Porque desperdiçaste teus melhores dias crendo estar enfermo;
Porque conheceste cedo o mistério divino e rechaçaste-o;
Porque não te apetece a cólera ou a fé;
Porque és tu, jovem Narciso, teu único algoz e enfermeiro;
Porque as pedras rolam em teu peito;
Porque tens consciência daquilo que deveríamos ser ignorantes;
Por tudo isso, deves deixar de contemplar a este abismo interior,
E reparar na inefável sutileza da canção que apenas tu és capaz de ouvir.

Agora dorme, pois que essa tristeza é passageira.

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