quinta-feira, 22 de maio de 2014

Spleen


Eu sou como o rei de um país chuvoso,
Rico, mas impotente, jovem embora idoso,
Que, dos preceptores desprezando os rituais
Enfada-se com seus cães e com outros animais.
Nada o diverte, nem a caça, nem o falcão,
Nem o seu povo morrendo diante do balcão.
Do bufão favorito nem mesmo a grotesca balada
Distrai desse doente cruel a fronte enrugada;
Todo flor-de-lis, é um mausoléu o seu leito,
E as aias para quem todo príncipe é perfeito,
Não sabem mais que roupa sensual vestir
Para fazer esse jovem esqueleto sorrir.
O sábio que lhe faz ouro não tem conseguido
Extirpar-lhe do ser o elemento corrompido;
Nem os banhos de sangue ensinados pelos romanos,
E no declínio sempre lembrado pelos soberanos,
Conseguiram reaquecer essa carcaça exangue e embotada
Onde em vez de sangue corre do Letes a água
esverdeada.

(Charles Baudelaire)

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