segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Meu avô não escutava blues/ Um abraço em Nelson Gonçalves

Porque ontem eu vi com o canto dos olhos de relance um vulto;
Porque o canto das sereias sempre se inicia ao anoitecer;
Porque uma música triste nunca vem sozinha;
Porque lembranças às vezes se parecem com navalhas;
Porque ficar sozinho é uma escolha, solidão é condição;
Porque meu pai morreu há exatos 15 anos,
E a única lição de que me lembro é de não confiar em quem tem as unhas sujas;

Faz sentido, se o sujeito não limpa as unhas, o que há de fazer com seu coração?

Porque ele era alcoólatra;
E meu alter-ego bebe demais;
Porque eu tenho uma dívida com Nelson Gonçalves,
Por ter partido em pedaços seu disco, que era dele;
Por me sentir sozinho, sem mulher, sem boemia;
Porque se sentir sozinho não necessariamente tem a ver com estar sozinho.
Porque convicções são mais frágeis que porcelana.
E, como tal, é melhor esconde-las das visitas.

Por tudo isso, não direi mais ao mundo que estou triste.
Serei como meu velho avô que já partiu,
Me sentarei negro, velho e cego
Em uma cadeira na varanda, com um violão e um velho blues,
Pedirei para que cuidem para que meu túmulo seja mantido limpo,
Como Blind Lemon Jefferson.
E se me perguntarem, direi que está tudo certo.
Algum dia há de cair uma tempestade sobre este deserto.

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