quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Relaxin' at Camarillo



Creio que seja hora de colocar em prática a tática mais fácil e manjada do universo para lidar com problemas profundos. Não, não estou falando de fugir, que diferente do que muitos acham, é difícil pacas e requer conhecimento de causa, ousadia e, por que não, um pouco de classe. Não é para qualquer um. Falo de relaxar. Simplesmente deixar o vento bater na cara, fazer o que há de ser feito sem considerar suas implicações ou o valor disso. Por que o fim do ano está chegando, e aí sei que ficarei tenso, relaxar não vai ajudar, é inevitável, é sempre assim e nem tenho forças agora pra mudar isso. Não que me importe tanto com datas, mas também não dá pra fingir que nada acontece, você está no mundo e não dá pra fingir que ele não existe ou adotar uma postura do tipo “lá fora” e “aqui dentro”, como se fossem coisas essencialmente separadas. Não são. O ano termina, calendários se encerram, projetos param, firmas entram em recesso, Roberto Carlos vai ter mais um especial e até o futebol dá um tempo. E aí reavaliações são feitas, contemplações inúteis, mas ainda assim não tão banais quanto os planos que são feitos a despeito de já ter prometido realizá-los no ano anterior, e falhado. É assim que acontece. Mesmo que não queira, farei tudo isso, e ao pensar se vale a pena seguir em frente, ou se tenho coragem de partir pra outra, meu semblante mudará, meus músculos enrijecerão, minhas pupilas dilatarão e beberei mais. Então, por enquanto, é relaxar. Fumar quantos cigarros precisar, ter o talento de fazer as coisas do seu jeito sem se cobrar demais, esquecer aquela pessoa que você gostaria de telefonar e dizer todas aquelas coisas, e, quando a barra pesar demais, nada de planos de suicídio ou cartas desesperadas, mas assistir a um filme do Fellini (ou de terror) e depois um passeio na praia. Um tipo de maturidade relaxada que, todo mundo sabe, dura pouco e é um tanto ilusória, mas necessária e talvez recompensadora do ponto de vista de sua saúde mental já um tanto deteriorada. Foi como uma revelação o que tive esta tarde, ao sentir o cheiro do café pronto, olhando pra garrafa de vinho esvaziada na noite anterior, “I’m yours and you’re mine” do Morphine começou a tocar naquele momento, o laptop ligado com o cursor do Word piscando esperando palavras técnicas, mas diante daquele momento, preferi sentar e escrever isso. Talvez tenha decepcionado o texto que me esperava, mais ganhei mais alguns anos de vida com isso, e pelo menos mais um mês de paz. Só até o fim do ano.

Um comentário:

Thalita Covre disse...

Achei este texto muito rico, cara.
Irônico, sarcastico e triste como a vida é de ser.
Comungo de suas palavras, camarada. De seus sentimentos de fim de ano.

saco.

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...