Creio que seja hora de colocar em prática a tática mais fácil e manjada do universo para lidar com problemas profundos. Não, não estou falando de fugir, que diferente do que muitos acham, é difícil pacas e requer conhecimento de causa, ousadia e, por que não, um pouco de classe. Não é para qualquer um. Falo de relaxar. Simplesmente deixar o vento bater na cara, fazer o que há de ser feito sem considerar suas implicações ou o valor disso. Por que o fim do ano está chegando, e aí sei que ficarei tenso, relaxar não vai ajudar, é inevitável, é sempre assim e nem tenho forças agora pra mudar isso. Não que me importe tanto com datas, mas também não dá pra fingir que nada acontece, você está no mundo e não dá pra fingir que ele não existe ou adotar uma postura do tipo “lá fora” e “aqui dentro”, como se fossem coisas essencialmente separadas. Não são. O ano termina, calendários se encerram, projetos param, firmas entram em recesso, Roberto Carlos vai ter mais um especial e até o futebol dá um tempo. E aí reavaliações são feitas, contemplações inúteis, mas ainda assim não tão banais quanto os planos que são feitos a despeito de já ter prometido realizá-los no ano anterior, e falhado. É assim que acontece. Mesmo que não queira, farei tudo isso, e ao pensar se vale a pena seguir em frente, ou se tenho coragem de partir pra outra, meu semblante mudará, meus músculos enrijecerão, minhas pupilas dilatarão e beberei mais. Então, por enquanto, é relaxar. Fumar quantos cigarros precisar, ter o talento de fazer as coisas do seu jeito sem se cobrar demais, esquecer aquela pessoa que você gostaria de telefonar e dizer todas aquelas coisas, e, quando a barra pesar demais, nada de planos de suicídio ou cartas desesperadas, mas assistir a um filme do Fellini (ou de terror) e depois um passeio na praia. Um tipo de maturidade relaxada que, todo mundo sabe, dura pouco e é um tanto ilusória, mas necessária e talvez recompensadora do ponto de vista de sua saúde mental já um tanto deteriorada. Foi como uma revelação o que tive esta tarde, ao sentir o cheiro do café pronto, olhando pra garrafa de vinho esvaziada na noite anterior, “I’m yours and you’re mine” do Morphine começou a tocar naquele momento, o laptop ligado com o cursor do Word piscando esperando palavras técnicas, mas diante daquele momento, preferi sentar e escrever isso. Talvez tenha decepcionado o texto que me esperava, mais ganhei mais alguns anos de vida com isso, e pelo menos mais um mês de paz. Só até o fim do ano.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
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Um comentário:
Achei este texto muito rico, cara.
Irônico, sarcastico e triste como a vida é de ser.
Comungo de suas palavras, camarada. De seus sentimentos de fim de ano.
saco.
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