Três ladeiras abaixo.
Dois ônibus daqueles.
Duas horas de avião em direção ao sul.
Uma van cheia de "buenas muchachas".
Um trem para o mercado.
Mais um ônibus.
Cheguei.
Só pra te ver?
Não, nunca mais.
Por mais que te ame, PoA,
Você é só mais uma estação no caminho.
terça-feira, 31 de julho de 2012
segunda-feira, 23 de julho de 2012
domingo, 22 de julho de 2012
A lanterna mágica
“Wilhelm, que seria, para o nosso coração, o mundo inteiro
sem amor? O mesmo que uma lanterna mágica apagada! Assim que a gente coloca aí
uma lâmpada, imagens de todas as cores se projetam na tela branca... E quando fosse
apenas isso, fantasmas efêmeros, nós encontramos a felicidade postando-nos
diante deles, como as crianças se extasiam ao contemplar aquelas aparições
maravilhosas!” (Werther, Johann Wolfgang Von Goethe).
A lanterna mágica foi o ancestral direto do cinema. Uma
caixa ou cilindro de metal em que dentro queimava uma lâmpada e que, através de
um passa-lentes no qual se colocavam pinturas diversas, projetava em uma tela
ou parede branca imagens assombrosas. Encantou muito mais do que crianças.
Sábios, cientistas, reis e plebes inteiras maravilharam-se com aquela que
também era conhecida como lanterna do medo.
A lanterna mágica projetava sonhos e medos. E suas imagens
se abasteciam de um fogo que se consumia depois de algum tempo. Também a vida
se nutre de um sentido maior que o de meramente estar vivo. Por isso a metáfora
é perfeita. Não possuímos mais lanternas mágicas. Temos o cinema.
E minha vida tem sido um projetor sem filme.
Shame
"I don't need no rising sun
I don't need no ball and chain
I don't need anything, but you.
Such a shame, shame, shame.
Shame is the shadow of love."
sábado, 21 de julho de 2012
Eu previ o futuro, e sei que essa previsão, diferente de muita coisa na minha vida, está certa. O problema é que o futuro não chega, não chega, e até lá me desespero, choro, bebo, sim, fico bêbado e durmo sonhando com fadas, violinos, putas, navalhas e uma porção de assombrações, rostos de mortos que jamais deixam de me perseguir por que eu não quero, eu não deixo. Lá se vão anos desde que (...) partiu, anos desde que (...) pela primeira vez, anos desde que (...) foi assassinado e tudo isto retorna, dia a dia, como se eu não pudesse fazer nada a respeito. Todos os dias eu digo a mim mesmo que não devo alimentar estes fantasmas, tento cantar pra mim canções alegres, tento acreditar que todo o problema está apenas na minha cabeça, mas isto não é o suficiente. Nem toda a paixão do mundo pelas coisas próximas é capaz de varrer essa doença pra longe - ainda que com um passe de mágica através do movimento rápido de suas mãos ela consiga, por instantes, afastar todas as sombras e exibir o sol que se oculta entre nuvens negras, mas elas sempre voltam quando ela se vai, ou quando não vem - então eu fico sempre acreditando que o problema é maior, mais profundo e inabalável. E o que desejo é uma porção tão ínfima de tudo que eu poderia ter. E que terei. Talvez falte a mim o sangue que banha as mais gloriosas conquistas, a chama exígua que aquece e consome.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
O maior pecado então será esse.
Você e eu cercados por nossos fantasmas desejando talvez
estar longe dali,
e ainda assim, desfrutando aquela pontada de prazer
que o medo traz.
Você nunca saberá se aquela excitação
vem do ranger de dentes destes animais ferozes
ou de minha mão entre suas pernas.
Em todo caso, abrirá elas um pouco mais
enquanto sussurro mentiras leigas,
nada de muito novo ou especial.
Apenas um tipo peculiar de embriaguez,
um antigo pecado conhecido.
Nenhum crime que não tenha sido catalogado,
vil como da primeira vez que nos tocamos
na escuridão de nossas almas,
na tristeza que vagava ao nosso redor naqueles dias,
na imensidão de desassossego
que insiste em nos perseguir até os dias de hoje,
na falha de caráter comum a todas as pedras que rolam,
na inocência abandonada na infância
e recuperada naquele último suspiro antes do gozo.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
It's You
"When I was younger,
I spend my days
Wondering to whom
I Was suposed to pray.
It's you.
(PJ Harvey).
I spend my days
Wondering to whom
I Was suposed to pray.
It's you.
(PJ Harvey).
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Delicadeza ou Desespero?
O amor é intoxicação. Quando não envenenamento. E eu penso nisso sempre que olho o número de livros, filmes, poemas, musicas e afins. E nem é preciso olhar o conteúdo, os títulos já entregam. Aliás, a quantidade de filmes que tinham a palavra "amor" (e seus derivados) essa temporada nos cinemas foi de lascar. Não que eu não goste, mas essa verve monotemática me enjoa às vezes.
(Ok, já pensei sobre a possibilidade disso ser recalque de pessoa mal-amada. Não precisa me lembrar. Mas mesmo em minha amargura em relação ao amor eu ainda consigo manter um olhar de longe pra falar sobre isso. Aliás, uma coisa é falar de amor na arte e falar dele como é. Sou principiante sim em termos de amor. Mas não somos todos? Segundo Truffaut, no amor os homens são sempre amadores e as mulheres profissionais. No que concordo absolutamente).
Mas voltando.
Há um filme em cartaz - que não vou assistir, of course - chamado "A Delicadeza do Amor". Por uma dessas coincidências, eu passava de ônibus em frente a um cinema com esse filme em cartaz e no meu celular tocava "The Desperate Kingdon of Love", da minha musa PJ Harvey.
Difícil contraste maior. Amor ou desespero? Porra, não acho o amor delicado. No meio do amor pode haver delicadeza, como pode haver delicadeza em passar manteiga no pão ou ao entrar no ônibus. Mas no fundo, é desespero. É tesão e medo de perder o ser amado. Claro que não tô julgando o filme que não vi e nem vou ver. O título em si não diz muito. Poderia ser sobre a delicadeza que pode haver no amor, e sem dúvida há (mas pelo que soube, o filme é isso mesmo: o amor é delicado). Tanto faz. Mas me chamou atenção o fato de os nomes enfatizarem aspectos tão diferentes do amor. Ou talvez momentos diferentes. Momentos. A delicadeza existiria após a fúria, o furacão que varre todas as nossas certezas? Há quem viva desses vendavais. E, após a explosão inicial, rompem e partem em busca de um novo amor. E há quem não conheça essa explosão, que só desfrutam o que no amor há de delicado e calmo e... pouco. Existe amar pouco? O amor é sempre demasiado, carrega consigo uma porção desesperada. Sublimar esse desespero não significa extirpá-lo. Mas e o amor sem delicadeza, resiste? Não sei. Sei que o amor feito de som e fúria é uma vela que queima dos dois lados, e que não vai durar a noite inteira. Mas, como diria Neil Young, é melhor arder em chamas do que evaporar.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Sem Resposta
Até onde posso ver, nada está
suficientemente claro. E eu tento entender por que. O senhor que veio até mim
no ponto de ônibus, há dez anos, pra me contar que sua filha havia suicidado
porque não passou no vestibular pra medicina, ele tentava entender. A jovem que
ia toda noite ao mesmo ponto esperar pelo amante que prometeu que viria e nunca
veio, queria entender. E eu sempre imaginei que os jogadores daquela seleção da
Hungria em ’54, por muito tempo devem ter acordado sobressaltados no meio da
noite tentando entender. E o cachorro expulso do bar, esperando do lado de fora
algum resto de comida de presente, também ele tenta entender. A todos falta
alguma coisa. Há mais na foto do que o olho pode enxergar, me diz a canção, e
isso vale pra todo mundo, então porque me sentir tão deslocado? Será que entre
os andrajos e veredas de uma vida torta não há espaço para um pouco de
suavidade? Ou este gosto de decepção já está tão impregnado na boca que mesmo
as canções mais doces soarão sempre amargas? Eu só sei que o homem que se olha
no espelho pela manhã não é o mesmo que faz suas orações antes de dormir, e se
um dia este rio resolver correr na direção contrária, não será por não ter
tentado seguir a corrente comum e ele não deixará de ser um rio por conta
disso. Não sei. Em algum lugar entre a violência do gozo e a resignação de um
adeus devem estar a calma, sorrisos e um café da manhã livre de pressa. Em
algum lugar que meus olhos ainda não alcançam, deve estar aquela que com a
suavidade da voz me põe em contato comigo mesmo, e faz o mundo girar como se
existisse mesmo um eixo.
Da Mão Impossível
Eu não quero mais que uma mão,
uma mão ferida, se possível.
Eu não quero mais que uma mão,
ainda que passe mil noites sem leito.
Seria um pálido lírio de cal,
seria uma pomba amarrada a meu coração,
seria o guardião que na noite de meu trânsito
proibiria absolutamente a entrada à lua.
Eu não quero mais que essa mão
para os diários óleos e o lenço branco da minha agonia.
Eu não quero mais que essa mão
para ter uma asa de minha morte.
Tudo mais passa.
Rubor já sem nome, astro perpétuo.
O demais é o outro; vento triste,
enquanto as folhas fogem em bando.
terça-feira, 10 de julho de 2012
Nylon Smile
"I'd like to laugh at what you said
but i just can't find a smile.
Wonder why you can't.
I struggle with myself.
Hoping I might change a little
Hoping that I might be someone I wanna be".
Portishead.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
domingo, 8 de julho de 2012
Calmo e distante. Não fui eu
que pedi por esse ar indiferente e magoado. Eu, que nem sempre demonstro exatamente
o que se passa. É a suavidade do ar quando a noite chega, uma
borboleta voa trêmula sobre meu ombro, e eu calmo, calmo e distante, com a
mente em lírios, violetas, o ou que quer que sejam estas pétalas que povoam meu
pensamento. O Nada possui essa virtude peculiar de me trazer de volta, e quando você me vir assim, distante, saiba que estou centrado em mim
como a árvore que produz o próprio alimento (ou talvez um cachorro atrás do
próprio rabo); o Nada me protege e me afasta. As ondas do mar soam distantes
agora, um fantasma melancólico assovia uma canção, não há mais tumultos ou
pessoas: mesmo no epicentro do furacão, estou calmo e distante. Eis o que sou,
um caos calmo.
Sobre a Arte (VII e VIII)
VII (Pina)
A dança como uma obsessão
Os movimentos são poesia para o olhar
E um desafio para as palavras
Que, não servindo para medir, descrever ou narrar,
Contentam-se com a medíocre tarefa de exaltar,
Elogiar o encanto dos corpos.
Mas o olho com a Câmera vai além
Propõe um casamento nunca tentado
Entre a paixão e os fotogramas,
Entre os sonâmbulos no palco e os sonhadores ante a tela.
Eu apenas observo,
E por um instante imagino estar encarando nos olhos
A mulher que criava tempestades.
Apenas uma ilusão,
Com qualquer casamento,
Como qualquer paixão.
sábado, 7 de julho de 2012
Essas violetas
As flores de outubro são as delicadas violetas
Para as quais ninguém olha,
Ninguém posa, ninguém pergunta
Ninguém há que note seus olhares inquietos
Suas vozes dissonantes
Seus desejos ocultos, sua euforia discreta.
São essas as flores que enfeitam as janelas
De quem vive no escuro
Na solidão de um quarto nos fundos,
Separados da leve alegria das
Crianças na sala de estar;
Assim são as flores de outubro e
Eu só queria te falar de como é
Ter estórias e não ter ouvintes;
Ser para poucos e desejar a todos;
Mas você não pode ouvir
Esses lamentos lilases
Essas rosas que não deram certo
Esse amor que é desmedido e manchado,
Essa dor que recusa a exatidão dos termos
E que nega até mesmo ser contada nos mais lindos versos.
Auge
A mulher está perfeita.
Morto,
Seu corpo mostra um sorriso de satisfação,
A ilusão de uma necessidade grega
Flui pelas dobras de sua toga,
Nus, seus pés
Parecem nos dizer:
Fomos tão longe, é o fim.
Cada criança morta, uma serpente branca
Em volta de cada
Vasilha de leite, agora vazia.
Ela abraçou
Todas em seu seio como pétalas
De uma rosa que se fecha quando o jardim
Se espessa e odores sangram
Da garganta profunda e doce de uma flor noturna.
A lua não tem nada que estar triste,
Espiando tudo de seu capuz de osso.
Ela já está acostumada a isso.
Seu lado negro avança e draga.
(Sylvia Plath)
Morto,
Seu corpo mostra um sorriso de satisfação,
A ilusão de uma necessidade grega
Flui pelas dobras de sua toga,
Nus, seus pés
Parecem nos dizer:
Fomos tão longe, é o fim.
Cada criança morta, uma serpente branca
Em volta de cada
Vasilha de leite, agora vazia.
Ela abraçou
Todas em seu seio como pétalas
De uma rosa que se fecha quando o jardim
Se espessa e odores sangram
Da garganta profunda e doce de uma flor noturna.
A lua não tem nada que estar triste,
Espiando tudo de seu capuz de osso.
Ela já está acostumada a isso.
Seu lado negro avança e draga.
(Sylvia Plath)
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