quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sem Resposta


Até onde posso ver, nada está suficientemente claro. E eu tento entender por que. O senhor que veio até mim no ponto de ônibus, há dez anos, pra me contar que sua filha havia suicidado porque não passou no vestibular pra medicina, ele tentava entender. A jovem que ia toda noite ao mesmo ponto esperar pelo amante que prometeu que viria e nunca veio, queria entender. E eu sempre imaginei que os jogadores daquela seleção da Hungria em ’54, por muito tempo devem ter acordado sobressaltados no meio da noite tentando entender. E o cachorro expulso do bar, esperando do lado de fora algum resto de comida de presente, também ele tenta entender. A todos falta alguma coisa. Há mais na foto do que o olho pode enxergar, me diz a canção, e isso vale pra todo mundo, então porque me sentir tão deslocado? Será que entre os andrajos e veredas de uma vida torta não há espaço para um pouco de suavidade? Ou este gosto de decepção já está tão impregnado na boca que mesmo as canções mais doces soarão sempre amargas? Eu só sei que o homem que se olha no espelho pela manhã não é o mesmo que faz suas orações antes de dormir, e se um dia este rio resolver correr na direção contrária, não será por não ter tentado seguir a corrente comum e ele não deixará de ser um rio por conta disso. Não sei. Em algum lugar entre a violência do gozo e a resignação de um adeus devem estar a calma, sorrisos e um café da manhã livre de pressa. Em algum lugar que meus olhos ainda não alcançam, deve estar aquela que com a suavidade da voz me põe em contato comigo mesmo, e faz o mundo girar como se existisse mesmo um eixo. 

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