Até onde posso ver, nada está
suficientemente claro. E eu tento entender por que. O senhor que veio até mim
no ponto de ônibus, há dez anos, pra me contar que sua filha havia suicidado
porque não passou no vestibular pra medicina, ele tentava entender. A jovem que
ia toda noite ao mesmo ponto esperar pelo amante que prometeu que viria e nunca
veio, queria entender. E eu sempre imaginei que os jogadores daquela seleção da
Hungria em ’54, por muito tempo devem ter acordado sobressaltados no meio da
noite tentando entender. E o cachorro expulso do bar, esperando do lado de fora
algum resto de comida de presente, também ele tenta entender. A todos falta
alguma coisa. Há mais na foto do que o olho pode enxergar, me diz a canção, e
isso vale pra todo mundo, então porque me sentir tão deslocado? Será que entre
os andrajos e veredas de uma vida torta não há espaço para um pouco de
suavidade? Ou este gosto de decepção já está tão impregnado na boca que mesmo
as canções mais doces soarão sempre amargas? Eu só sei que o homem que se olha
no espelho pela manhã não é o mesmo que faz suas orações antes de dormir, e se
um dia este rio resolver correr na direção contrária, não será por não ter
tentado seguir a corrente comum e ele não deixará de ser um rio por conta
disso. Não sei. Em algum lugar entre a violência do gozo e a resignação de um
adeus devem estar a calma, sorrisos e um café da manhã livre de pressa. Em
algum lugar que meus olhos ainda não alcançam, deve estar aquela que com a
suavidade da voz me põe em contato comigo mesmo, e faz o mundo girar como se
existisse mesmo um eixo.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
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