Eu previ o futuro, e sei que essa previsão, diferente de muita coisa na minha vida, está certa. O problema é que o futuro não chega, não chega, e até lá me desespero, choro, bebo, sim, fico bêbado e durmo sonhando com fadas, violinos, putas, navalhas e uma porção de assombrações, rostos de mortos que jamais deixam de me perseguir por que eu não quero, eu não deixo. Lá se vão anos desde que (...) partiu, anos desde que (...) pela primeira vez, anos desde que (...) foi assassinado e tudo isto retorna, dia a dia, como se eu não pudesse fazer nada a respeito. Todos os dias eu digo a mim mesmo que não devo alimentar estes fantasmas, tento cantar pra mim canções alegres, tento acreditar que todo o problema está apenas na minha cabeça, mas isto não é o suficiente. Nem toda a paixão do mundo pelas coisas próximas é capaz de varrer essa doença pra longe - ainda que com um passe de mágica através do movimento rápido de suas mãos ela consiga, por instantes, afastar todas as sombras e exibir o sol que se oculta entre nuvens negras, mas elas sempre voltam quando ela se vai, ou quando não vem - então eu fico sempre acreditando que o problema é maior, mais profundo e inabalável. E o que desejo é uma porção tão ínfima de tudo que eu poderia ter. E que terei. Talvez falte a mim o sangue que banha as mais gloriosas conquistas, a chama exígua que aquece e consome.
sábado, 21 de julho de 2012
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