Houve um tempo em que desejei consumir de uma vez
Todos os diferentes entorpecentes capazes de,
Num calor fulgurante ou euforia letárgica,
Dissolver meu coração.
Artigos de proveniência duvidosa,
E doses modestas de um pó fruto da união perfeita
Entre natureza e química;
Mas descobri cedo que
A loucura não passa; a febre não passa;
Acontece que a agitação não passa,
E cada gole do vinho leva-me um passo mais longe
Do caminho reto da antiga estrada.
Eu trago dentro de mim canções inquietas
Que anseiam por ganhar vida toda vez que beijo seus lábios,
Eu não minto.
Eu apenas bebo.
Então eu tomo outro trago:
De vodka, cigarro,
Pílulas pra dormir ou outro remédio qualquer.
Líquido ou sólido,
Se eu tomo, é para te encontrar em delírios
E para me perder na artificialidade desses paraísos;
Nesta busca, enlouqueci.
Não sei se loucura sacra, loucura profana,
Loucura encantada dos ingênuos ou
Loucura sexual de pervertidos.
Mas, era loucura
E encontrei nela as propriedades químicas que provocam
As convulsões latentes da vida.
Espetando nas veias de minha mente
Doses cavalares de junk sentimental,
Experimentei algumas dessas convulsões:
A primeira veio aos 15 e profanou meu coração;
De novo aos 17, e já não era dono de mim.
Após os 20, as convulsões aumentaram,
E ao som de cruéis vozes inglesas
Dancei nas trevas mais profundas do desejo.
Tomado de sedução, malícia e rubor;
Às convulsões seguiam o delírio,
O torpor, a leveza. Escuridão e silêncio, como o Teixo de Sylvia.
E as cores da solidão foram pintadas na tela do acaso
Que abençoou a loucura e que agora,
Cobra o alto preço de tocar com os pés
Nuvens de espumas de champagne.
Carrego como um fardo os dias sóbrios,
Os dias cheios de esperança.
Cultivo desespero em esquinas estranhas,
Colho prazer nessas presenças raras e perturbadas.
E procuro diariamente nestes olhos
As alucinações sentimentais que me cativam,
Desajustado como sou,
Quero injetar naqueles olhos
As propriedades químicas que me dominam.
(Outono de 2008)