sexta-feira, 26 de abril de 2013

Despedida


"Foi um beijo umedecido, guilhotinesco e fatal". 
                                                                 - Jair Naves, "Guilhotinesco.

Ela foi embora, como se não fosse nada demais. Me beijou, e depois foi embora, como se não fosse sentir falta. Não foi um beijo frio de despedida. Foi algo a mais. Talvez tenha sido o beijo mais intenso que beijamos, só parecido com o primeiro. Ela foi embora e eu fiquei ali, olhando, sem esboçar reação. Um homem de verdade precisa reconhecer quando é o fim. A essa bela virtude, chamamos covardia, e é essencial a um homem adulto. Ela foi embora, e não tem mais nada. Ela foi embora e eu, macho típico da espécie, me pego pensando nas menores coisas, exatamente aquelas que não deveriam ser pensadas em momentos como este. Talvez por isso ela tenha ido embora, na verdade. Eu lembrava de seu hábito horrível de me beijar antes que eu escovasse os dentes pela manhã. Lembrava de minha babaquice na noite de ano-novo, ciúmes de quem está entediado querendo demonstrar virilidade. Lembrava que levamos sexo a um novo patamar de atividade lúdica. Dela falando sobre a vantagem degustativa da porra dos vegetarianos. De como ela começou a gostar de metal depois de velha por minha causa. Incrível como tudo isso pode parecer uma farsa estúpida agora, que ela foi embora. Agora que ela me beijou desse jeito. Agora, que, ao invés de pensar em maneiras de trazê-la de volta, eu fico apenas olhando-a partir cheio de certeza de que ela tem o traseiro mais bonito do mundo.

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