"Foi um beijo umedecido, guilhotinesco e fatal".
- Jair Naves, "Guilhotinesco.
Ela foi embora, como se não fosse
nada demais. Me beijou, e depois foi embora, como se não fosse sentir falta.
Não foi um beijo frio de despedida. Foi algo a mais. Talvez tenha sido o beijo
mais intenso que beijamos, só parecido com o primeiro. Ela foi embora e eu
fiquei ali, olhando, sem esboçar reação. Um homem de verdade precisa reconhecer
quando é o fim. A essa bela virtude, chamamos covardia, e é essencial a um homem
adulto. Ela foi embora, e não tem mais nada. Ela foi embora e eu, macho típico
da espécie, me pego pensando nas menores coisas, exatamente aquelas que não
deveriam ser pensadas em momentos como este. Talvez por isso ela tenha ido
embora, na verdade. Eu lembrava de seu hábito horrível de me beijar antes que
eu escovasse os dentes pela manhã. Lembrava de minha babaquice na noite de
ano-novo, ciúmes de quem está entediado querendo demonstrar virilidade.
Lembrava que levamos sexo a um novo patamar de atividade lúdica. Dela falando
sobre a vantagem degustativa da porra dos vegetarianos. De como ela começou a
gostar de metal depois de velha por minha causa. Incrível como tudo isso pode
parecer uma farsa estúpida agora, que ela foi embora. Agora que ela me beijou
desse jeito. Agora, que, ao invés de pensar em maneiras de trazê-la de volta,
eu fico apenas olhando-a partir cheio de certeza de que ela tem o traseiro mais
bonito do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário