quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quem esquece um furacão?

No terceiro dia, seu terceiro encontro, era a terceira noite de lua cheia e eles já dispensavam todo o estágio da conversa, das amenidades, dos meios pra se chegar a um fim, todas as mesuras e cortesias, toda “conversa fiada”, como se diz por aí. Reagiram, e só.  Pois, desde a última vez que se viram, ele só pensava em quando a teria de novo, quando sentiria mais uma vez o calor de sua pele a escaldá-lo, a faca de seus olhos violadores, o palpitar de suas veias e órgãos mais íntimos. A impulsividade deste novo encontro só se igualava em violência ao tamanho de sua insegurança, diante da mulher que ele não conseguia compreender. Sua economia de palavras era fonte de pesadelos e mortes todas as noites. A cada encontro seguiam-se febres, arrebatamentos, crises de insônia. No décimo - primeiro encontro, no dia em que completara vinte e nove anos e em que Saturno retornava, o peso foi demais. Queria saber dela, seus segredos (ele jurava que ela tinha mais de um, segredos mortais que assombrariam seu sono o resto da vida), sua história, seus pequenos medos, os cantos não-iluminados de seus pensamentos quando ela simplesmente se apoiava na janela, fumava um cigarro e deixava o tempo passar, alheia à presença do homem que se revira em suores, desejando não apenas seu corpo, mas sua mente. Ele importunou-a com perguntas, novas inquisições, torturas rasas. Exigia explicações para o comportamento daquela que lhe deu tudo o que podia (ela não poderia dar nada além de amor), e apenas lhe avisa que o que ele quer não está ao seu alcance, de que adiantaria dizer a ele o conteúdo do livro que era ela se não poderia contar o significado daquela flor achatada e amarelada entre suas páginas? Ele não entendia, e o que ele não entendia era que entre dois amantes poderia haver entrega sem conhecimento pleno. Não era o que ela achava. Se a poeta estiver certa, então o mistério da mulher está em cada afirmação ou abstinência, na malícia das plausíveis revelações, no suborno das silenciosas palavras, e ele estava lendo-a com as lentes erradas. Ela já havia contado tudo e um pouco mais, sem precisar espremer seu ser até que todo seu conteúdo jorrasse pra fora de si como suco. E ele não vira. Depois desse dia, ela nunca mais voltou, e ele nunca mais voltou. A si. Um furacão devastou sua terra, e ele estaria condenado a nunca mais esquecê-lo.

4 comentários:

Thalita Covre disse...

Me identifiquei com este rapaz. Com esta sede. Ou fome de gente.

Thalita Covre disse...

Realmente, sempre venho lhe (me) ler.

Esse blog é tão bom...

e essa via é tão crua, sexta-feira a noite em casa, e meu pensamento não me conduz pra rua, quer é me abraçar por não ter saído no sereno. rs.

vontade de Rio de Janeiro...

:*

ah, sobre o flickr, eles colocaram filtro lá, pois denunciaram nudez nele... eu sei, uma puta falta de sacanagem.

tenho duas novidades quanto a fotografia: uma, eu estou fazendo parte da equipe fotográfica da próxima edição de uma revista. Duas, uma foto que estou escolhendo será a capa de um romance de um carinha aqui do estado. O romance é bem bacana, acho que vc vai gostar, (claro que vou te mandar um exemplar pelos correios, falando nisso, vou mandar meu endereço pra vc).

aiai

Thalita Covre disse...

eu quis dizer *vida tão crua*

Rodrigo disse...

Pois tu és muito bem-vinda!!
Compartilhando sexta-feiras...
realmente, uma puta falta de sacanagem!

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...