No terceiro dia, seu terceiro encontro, era a terceira noite de lua cheia e eles já dispensavam todo o estágio da conversa, das amenidades, dos meios pra se chegar a um fim, todas as mesuras e cortesias, toda “conversa fiada”, como se diz por aí. Reagiram, e só. Pois, desde a última vez que se viram, ele só pensava em quando a teria de novo, quando sentiria mais uma vez o calor de sua pele a escaldá-lo, a faca de seus olhos violadores, o palpitar de suas veias e órgãos mais íntimos. A impulsividade deste novo encontro só se igualava em violência ao tamanho de sua insegurança, diante da mulher que ele não conseguia compreender. Sua economia de palavras era fonte de pesadelos e mortes todas as noites. A cada encontro seguiam-se febres, arrebatamentos, crises de insônia. No décimo - primeiro encontro, no dia em que completara vinte e nove anos e em que Saturno retornava, o peso foi demais. Queria saber dela, seus segredos (ele jurava que ela tinha mais de um, segredos mortais que assombrariam seu sono o resto da vida), sua história, seus pequenos medos, os cantos não-iluminados de seus pensamentos quando ela simplesmente se apoiava na janela, fumava um cigarro e deixava o tempo passar, alheia à presença do homem que se revira em suores, desejando não apenas seu corpo, mas sua mente. Ele importunou-a com perguntas, novas inquisições, torturas rasas. Exigia explicações para o comportamento daquela que lhe deu tudo o que podia (ela não poderia dar nada além de amor), e apenas lhe avisa que o que ele quer não está ao seu alcance, de que adiantaria dizer a ele o conteúdo do livro que era ela se não poderia contar o significado daquela flor achatada e amarelada entre suas páginas? Ele não entendia, e o que ele não entendia era que entre dois amantes poderia haver entrega sem conhecimento pleno. Não era o que ela achava. Se a poeta estiver certa, então o mistério da mulher está em cada afirmação ou abstinência, na malícia das plausíveis revelações, no suborno das silenciosas palavras, e ele estava lendo-a com as lentes erradas. Ela já havia contado tudo e um pouco mais, sem precisar espremer seu ser até que todo seu conteúdo jorrasse pra fora de si como suco. E ele não vira. Depois desse dia, ela nunca mais voltou, e ele nunca mais voltou. A si. Um furacão devastou sua terra, e ele estaria condenado a nunca mais esquecê-lo.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
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Deixa eu bagunçar você
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4 comentários:
Me identifiquei com este rapaz. Com esta sede. Ou fome de gente.
Realmente, sempre venho lhe (me) ler.
Esse blog é tão bom...
e essa via é tão crua, sexta-feira a noite em casa, e meu pensamento não me conduz pra rua, quer é me abraçar por não ter saído no sereno. rs.
vontade de Rio de Janeiro...
:*
ah, sobre o flickr, eles colocaram filtro lá, pois denunciaram nudez nele... eu sei, uma puta falta de sacanagem.
tenho duas novidades quanto a fotografia: uma, eu estou fazendo parte da equipe fotográfica da próxima edição de uma revista. Duas, uma foto que estou escolhendo será a capa de um romance de um carinha aqui do estado. O romance é bem bacana, acho que vc vai gostar, (claro que vou te mandar um exemplar pelos correios, falando nisso, vou mandar meu endereço pra vc).
aiai
eu quis dizer *vida tão crua*
Pois tu és muito bem-vinda!!
Compartilhando sexta-feiras...
realmente, uma puta falta de sacanagem!
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