domingo, 24 de janeiro de 2010

Deixa Ela Entrar




É muito gratificante, em tempos de “Crepúsculo” e “Lua Nova”, ver um filme de vampiro em que está presente algo tão simples como o princípio de que um vampiro não pode entrar num local particular sem ser convidado. Além de demonstrar inteligência e conhecimento do assunto, é uma prova de elegância maior, ao escolher um título que faz referência a esse aspecto da mitologia vampírica, que está longe de ser um detalhe. Explico: O filme sueco é um filme delicado, e, mesmo quando violento, poético. Pertencendo à longa tradição dos bons filmes de vampiro, “Deixa ela entrar”, do diretor sueco Tomas Alfredson dá atenção à atmosfera, fotografia, cenas e coloca lirismo onde poderia haver só uma estorinha de horror. O vermelho, cor do sangue que alimenta Eli, é poupado no filme e aparece poucas vezes para lembrar de que se trata a estória. Eu sentia arrepios quando via um objeto vermelho. O filme tem cenas memoráveis, inclusive uma que remete à cena do dedo cortado em “Nosferatu”. E lindas cenas dos personagens centrais juntos, Oskar, um garotinho introvertido, perseguido no colégio e fissurado por crimes violentos; e Eli, a vampira que já tem doze anos de idade “há muito tempo” e vive sua maldição apenas contando com seu suposto pai para ajuda-la. E a utilização da maldição vampírica para tratar de temas humanos também aparece. Aqui, são o medo e a solidão de duas crianças, e o carinho e a ternura surgindo de lugares mais improváveis, a doçura dos dois contrastando com a situação terrível em que eles (Oskar e Eli) se encontram. O filme nunca fica agridoce, tudo funciona perfeitamente em paradoxos, dos sustos às declarações de amor tão mórbidas quanto inocentes, ao delicioso final com gosto do sangue.
Um filme inesquecível. Poucas sensações são tão boas quanto ver as luzes se acendendo, olhar para trás e ver o projetista e estar um pouco mais feliz por estar vivo.


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